14 dezembro 2014

Castelos no ar


Acusam-me frequentemente que não tenho os pés no chão. E por mais que tente ser realista, a minha realidade fica sempre àquem do sentido de realidade daqueles que me rodeiam. 
Mas afinal o que é a realidade? Não é uma construção humana? E então se é uma construção, cada um tem a sua. E quem tem a legitimidade para aferir o grau de realidade de uma construção tão subjetiva? É mais real a construção de uma realidade pela quantidade de humanos que a partilham? Quem me garante que a regra geral é realmente real ou é uma ilusão coletiva?
Pois, não sei. Só sei que eu não consigo ver como eles, o meu quadro de perspetiva é diferente e este desfasamento é fonte de algum tormento, porque estão sempre a chamar-me atenção para esse facto e eu estou sempre a meter-me em sarilhos.

Será que foi influência da minha educação? Ou será que a minha personalidade é desviada da regra? Se já tentei ver a realidade como eles e não consegui, como vou viver no ar daqui em diante sem estar constantemente sob fustigação? 
Será que sobreviverei no meu castelo voador?

01 novembro 2014

Soa a coisa de Facebook?



"[…] escusamos de supor que teremos alguma espécie de salvação enquanto formos tristes, isto é, enquanto supusermos que consiste a alegria, à fácil maneira americana, em tirar retratos rindo; ser alegre consiste, pelo contrário, em não ter medo de retratos sério: em não ter medo de estar só"


Agostinho da Silva, “Imperfeição do Renascimento”, As Aproximações [1960], in Textos e Ensaios Filosóficos II, p. 58.

09 outubro 2014

Bodas de Prata


Comemoro 25 anos de atividade sexual.
Para os tempos modernos parece que estou em desvantagem em número, mas posso dizer que, mesmo as mais efémeras, todas as minhas relações foram cheias de sentido.
Todas,
todas valeram a pena pela alegria, dor e aprendizagem que me proporcionaram,
porque só tive relações sexuais com amores ou, no mínimo com amor fantasioso ou tentativa de corresponder a afectos, nunca por materialismo, pelo puro prazer da carne.
Só sei fazer sexo com corpo e alma, com carinho, respeito e curiosidade pelo outro. É uma partilha maravilhosa!
E fico a pensar se tivesse tido um só sexo com amor, só um desde o início.
Se eu tivesse tido essa oportunidade, seria o que teria escolhido, um só amor e 5 filhos.

Pois, esta mania de sonhar com o que não pode ser vivido…

04 outubro 2014

Cúmulo do paradoxo


 Passar o dia a consumir café e tomar um Valium (ou afins) para dormir.



18 setembro 2014

Vida de estudante

É tão bom ser ignorante, porque assim vivo sempre com a sensação que ainda tenho tanto por conhecer e aprender. Vivo num constante deslumbramento da procura e contentamento das descobertas que impulsionam a ver, sentir e intuir um alargado naco de sonho misturado com a matéria que é bela quando se olha para ela com outros olhos.

Não procuro o conhecimento cumulativo, de coleções de quadros de verdade, procuro o conhecimento da sintonia com o todo,  numa relação amorosa com humor à mistura, aquele humor que sabe rir da pequenez humana, quando paradoxalmente se sente infinito.

19 agosto 2014

O jogo da cabra cega

“Procurando descobrir ou determinar quais as relações entre ciência e filosofia, estamos jogando, ou vendo jogar, à cabra cega, coisa de meninos transferida para gente grande; e com isto quero dizer o seguinte: que estragamos o jogo, porque o julgamos realidade; joga menino, como se fosse jogo real, mas sabe que o não é; nós, e só às vezes, suspeitamos que o jogo não é real, mas ocultamo-lo, porque nisso vão os nossos empregos e receamos que no futuro não possamos viver sem geladeiras; sobretudo receamos confrontar-nos com a ideia de que a ciência e a filosofia são apenas produtos de um mundo de acção, respostas do universo a uma pergunta dirigida e a que não poderia dar outra resposta, porque lhe perguntamos, que é que eu posso fazer contigo, mundo?, quando apenas nos competia viver com ele, mundo.
Receamos dar-nos ao viver em que, em lugar de procurar a verdade a saibamos improcurável e incontrolável, excepto se a formos; em que em lugar de perguntarmos se alguma coisa é, nos limitemos a ser; (...) em que consideremos que o verdadeiro Sócrates, verdadeiro como homem, não como grego de seu século, era o do daimon; em que o verdadeiro Descartes era o da romaria e o verdadeiro Espinosa o pulidor de lentes e o verdadeiro Einstein o que morre no desespero de perceber que toda a ciência acaba numa equação e que toda a equação é apenas uma pré-verdade”.


Agostinho da Silva, Aqui falta Saber, Engenho e Arte, 1965

09 agosto 2014

A fonte do infortúnio

Nada é nosso.
Nem o corpo em que nos manifestamos.
A posse é uma ilusão.
Temos sim, o usufruto.
E os felizes são aqueles que nada possuem e usufruem.
Porque Deus criou o Homem e para o Homem um paraíso abundante.
Só que os Homens ainda são estúpidos e tudo querem possuir.
Criaram um mundo à sua imagem.
Matar, escravizar e enganar para possuir.
E é também por isso que são uns pobres infelizes.

24 julho 2014

Leveza para subir e descer montanhas

Quando fiz parte do Caminho de Santiago a mochila pesava-me. Decidi livrar-me dela enviando-a por táxi para o próximo albergue de destino.
A meio da subida de uma montanha que dividia as províncias de Leon e Galicia parei para tomar um café numa mesa de madeira junto de vacas.
Enquanto apreciava as vistas e saboreava o café chegou um grupo de peregrinos, um dos quais já tinha conhecido na noite anterior. Conversa vai, conversa vem e acabam por perguntar pelo paradeiro da minha mochila, ao que respondi que a tinha enviado por táxi porque pesava e tornava a caminhada dolorosa. Ficaram com um ar chocado e diz-me uma:
- Pero la mochila es nuestro Karma.
Na altura lembro-me que dei uma gargalhada e respondi algo do género:
- Se era o Karma, já foi.

Anos depois estou eu debaixo de uma oliveira a refletir sobre o Karma e lembrei-me deste episódio que retrata bem a minha postura perante esta crença ou verdade. É que esta história do Karma é muito complicada. Já não basta esta vida, a que se vive agora? Já não bastam os desafios desta existência num determinado contexto histórico e uma cultura que custa a entender e aceitar? Para quê trazer “coisas” de outras vidas?
O que tiver de ser vivido e resolvido é agora, pois é agora que estou a viver e eu não me recordo do que aconteceu noutras vidas. O passado passou. O Tempo continua.


Por isso, meu amigo Karma, liberto-te, vai de táxi espacial para onde quiseres. 

28 junho 2014

De volta a casa

Eram tão mágicos aqueles momentos que partilhava com a Natureza.
Nasceres e pores de sol de tirar o ar, umas vezes combinados com nasceres e pores de luas, no mato tropical de altitude acompanhada das minhas cadelas, as que salvei por serem fêmeas e aquelas que me avisavam da presença de outras serpentes venenosas que não fossem as cascavéis. Os cheiros das plantas e da terra. As trovoadas, os relâmpagos e a chuva quente. O carreirinho de formigas vermelhas alheias às nuvens a correr no céu.
Era uma adolescente estranha aos olhos da sociedade, excitava-me com estas coisas da Natureza e lá ficava horas a contemplar as obras de Deus ou lá do que queiram chamar; sentia a sua presença, sentia-me preenchida, emocionada e feliz.
Por outro lado, sentia-me desconfortável no meio das pessoas, principalmente as da minha idade. Cheguei a considerar ir para um convento.
Mas sendo jovem com uma mente inquieta e curiosa quis estudar nas escolas dos Homens sobre aquelas maravilhas, como se davam os fenómenos. Queria ser cientista do céu e da terra. Mas principalmente queria perceber porque os Seres Humanos estávam tão infelizes, doentes, solitários, maus e vingativos. Como é que isso poderia acontecer se vivíamos num lugar tão lindo, tão perfeito? Se fazíamos parte deste milagre que é a vida. Para mim, não fazia sentido. A condição da Humanidade dava-me dor no coração e tormento na alma e de certa forma, sentia quase que uma obrigação para  “salvar” os pobres da sua dor.
E quando atingi a maioridade deixei a terra selvagem rumo à Europa civilizada para estudar os livros.
Agora que chego à chamada meia-idade vejo que de pouco me valeram os estudos académicos e as poucas obras literárias que me tocaram, muitas delas só vieram confirmar o que já sabia ou traduzir o que sentia sem perceber. Muitas obras humanas, para além das literárias, só vieram intensificar o meu tormento, dar mais provas do sofrimento e perdição Humana e conspurcar a minha inocência. 
Os estudos serviram para a minha construção conceptual da vida experimentada, muito pouco sobre a essência que “compreendia” para além dos sentidos, da mente, da ciência e da cultura. E muito menos serviram para que tivessem aplicação prática em prol da "mudança do mundo."
E aqueles que também “compreendiam” e tentaram salvar a Humanidade falharam, as suas mensagens foram incompreendidas, deturpadas e usadas para outros fins, e a Humanidade continua em sofrimento.

O que andei a fazer nestes últimos tempos foi afastar-me de mim, entrar no mundo conceptual construído pelos Humanos, tentar encaixar-me e fazer algo para o melhorar. 

E a grande lição é que não posso mudar muito, nem tão pouco salvar alguém.

Resta-me viver o grande amor que sinto, partilhar com quem o quiser partilhar, e o máximo que poderá acontecer é servir de inspiração para que outros Seres vivam em felicidade também.

Mas são os bonitos, ricos e famosos que normalmente inspiram a felicidade, e eu não sou nada disso.



11 junho 2014

Os populares pupulam

Começam as festas dos Santos Populares em Portugal. 
Tal é a praga que foram dessimenadas as suas sementes no Brasil, com as ditas festas Juninas.
Eta caipirada, eh povão, sardinha assada e quentão.
Os corpos suados e a precisar de calor a deambular pelas calçadas e a saltar fogueiras trôpegos de álcool e excitação. Tal Carnaval!

Não, não consigo, divirtam-se bem longe de mim.


03 junho 2014

Partes do tudo eterno

Pobres daqueles que não sentem ou, no mínimo, não se iludem que são eternos.

Passam por esta vida da matéria a viver na matéria, para e pela matéria. Até a felicidade é material, são felizes quando a vida lhes corre bem, quando têm estímulos externos para o serem. Mas quando se encontram sós sentem-se pequenos e perdidos, a seguir as sombras. Vivem numa agonia e inquietação porque acreditam que um dia tudo vai acabar, quando o corpo por onde viajam perder a forma para dar lugar a outras formas de vida. Pensam que não há mais nada para além da matéria. Pobres coitados...

Andam tão preocupados com um quotidiano seguro, com os feitos da história humana, com as tricas políticas que jogam com a vida de milhões de cidadãos condicionados, com o divertimento, com outros afazeres de acumulação material, que se esquecem de ser mais que um corpo que come e se satisfaz, que se reproduz, que viaja e satisfaz, que compra isto e aquilo, que transforma a terra numa casa, uma pele de animal em casaco, que dá uma foda bem gostosa, que persegue o reconhecimento social, a fama, os vestidos e os relógios especiais e se satisfaz. E os carros? Belas máquinas, não? Verdadeiros brinquedos. Pois, mas isso é somente uma parcela do tudo. É só prazer do corpo de sensações, da razão estética e dogmática, da imaginação e da ilusão. Mas é somente uma parcela engraçada desta experiência divina, a experiência dos seres humanos.

Tudo é tão mais do que o que se vê com os olhos e a razão. Tudo é tão mais do que se sente com o coração.
Como tudo isto funciona é mistério, e o que seria a vida sem mistérios, sem surpresas e descobertas através da eternidade? Não gostam do mistério? Não gostam de descobrir? De aventuras nas estrelas?

A matéria (o corpo) é apenas um veículo que está a passar por aqui. Um recetáculo da energia que anima o universo. Um pedaço de energia que quis ser um ser único. Ter uma identidade que tem consciência de que é um ser.

Que maravilha é viver a eternidade neste corpo de água, ossos e cabelos.


Pena que tenho que levar com os materialistas e pena porque me compadeço. 

18 maio 2014

Cornadas na pança III

"Não há a mínima desculpa para qualquer acto que nos iguale aos que nos atacam. 
(…) No próprio sacrifício se encontra a mais bela e a mais valiosa das recompensas"


Agostinho da Silva, Sete Cartas a Um Jovem Filósofo

08 maio 2014

Depressão = viver no passado

Uma grande maioria do povo português costuma refugiar-se nos grandes feitos dos Descobrimentos e no saudosismo das riquezas das colónias para não aceitar a sua condição atual;
Sonham com um trabalho seguro, eterno (efetivo) e com regalias como nos tempos em que a dívida pública era menor, ainda não se aperceberam que a realidade presente é outra e que o paradigma laboral tem que mudar;
Continuam a achar que o Estado é o Governo e os seus serventes, abstendo-se de contribuir para o tornar num Estado-Nação forte, próspero, justo e unido;
São campeões europeus em consumo de anti-depressivos (sem contar com o álcool, tabaco e cocaína), dormem de dia e andam despertos à noite,
em vez de acordar cedo e apanhar sol;
Criticam e lamentam a pobreza em que se encontram mas pouco fazem para mudar; Não mudam pois, enquanto continuarem a viver no passado, que é o mesmo que dizer:

Viver na ilusão!

06 maio 2014

Big Bang!

Há 3 tipos de escritores, os que escrevem por dom, outros para liderar – que mudam mentalidades - e os que escrevem por necessidade.

Eu não tendo jeito para a escrita, nem competências para liderar, escrevo por necessidade, necessidade de deixar registado o que transborda de mim, como que uma terapia de expansão. 

Se calhar há mais tipos de escritores...

17 abril 2014

Velhos


Pensando bem, não temos medo da morte, nem da vida, temos medo da velhice, daí a grande preocupação da humanidade em manter-se jovem.
Da minha experiência acadêmica em Gerontologia, em linguagem corrente a “problemática do envelhecimento”, cedo tomei consciência sobre esta fase da vida humana que todos tememos.   
Depois de anos de longas reflexões, de estudos e leituras sobre envelhecimento em diversas perspectivas, de partilhas com pessoas “velhas”, das quais as minhas quase centenárias avós e a minha entrada na dita meia-idade só tenho dois objetivos de vida:

Viver o melhor que souber e conseguir AGORA e morrer a dormir na minha almofada de penas depois de ter sentido a beleza de mais um dia neste corpo denso sujeito à lei da gravidade.  



10 abril 2014

Preguiça e Orgulho

"O homem tem preguiça, em geral, de pensar todo o pensável e
contenta-se com fragmentos de ideias, recusa-se a uma coerência absoluta.
Não leva até ao fim o esforço de entender.
E, exactamente porque não o faz, toma, em relação à sua capacidade de inteligência,
uma absurda posição de orgulho.
Compara o pouco que entendeu com o menos que outros entenderam,
jamais com o muito que os mais raros puderam perceber."



- Agostinho da Silva, As Aproximações

26 março 2014

O que se vai descobrindo ao longo da vida...

Susana, flor de lírio, mulher virtuosa;
Miguel, o arcanjo;
Swami, o mestre;
Cristiano, o cristão, o ungido;
Vera, a verdadeira;
Dhyan, meditação.

Será que os meus pais sabiam disto quando nos batizaram com estes nomes?

23 março 2014

Cornadas na pança II

Estáva eu em casa alheia, com um livro alheio, no meu ritual matinal de leitura numa poltrona com autoclismo, quando me deparo com um texto que traduz o que sentia neste post.
Do livro “Maktub”:
“- Quem é o melhor no uso da espada? Perguntou o guerreiro.
- Vá até ao campo ao pé do mosteiro – disse o Mestre. – Ali existe uma rocha. Insulte-a.
- Porque é que devo fazer isso? – Perguntou o discípulo. A rocha jamais me replicará.
- Então, ataca-a com a sua espada - disse o Mestre.
- Tampouco farei isso – respondeu o discípulo – A minha espada quebrará. E se a atacar com as minhas mãos ferirei os meus dedos sem nada conseguir. A minha pergunta era outra: quem é melhor no uso da espada?
- O melhor é o que se parece com a rocha – disse o Mestre – sem desambainhar a lâmina consegue mostrar que ninguém o poderá vencer.”

Que maravilhosa surpresa!

Adoro ser uma pedra!

19 março 2014

Ai pernas, para que te quero


Logo agora que tinha começado a usufruir da paz, apareces-me tu como um fantasma do passado a perturbar o meu espírito e coração.
A vida tem destas coisas inexplicáveis, dá cá cada volta... quem sou eu para saber porquê? E nem me vou dar ao trabalho de arrumar uma justificação ou conjeturar uma "teoria" explicativa, embora ande a matutar sobre as emoções que sinto depois deste reencontro transatlântico.
No geral, quero acreditar que é ilusão a passar-se no tempo e no espaço e a única coisa concreta  é a dor de um soco no estômago que deve ser o que sentem aqueles que tomam o "touro pelos cornos". Aqueles devem ter também medo e dor, mas têm coragem de pegar o touro. Noutros, o medo exerce tal sombra tenebrosa no coração que quando o touro vem, a vontade é fugir. Mesmo que seja o touro do amor...




08 março 2014

Isto deve ser melhor que ganhar na lotaria!


Dizem que viajar enriquece. Não poderia estar mais de acordo. Mudar o cenário e vislumbrar novos horizontes, sentir novos cheiros, provar outros gostos e apanhar uma intoxicação alimentar, sentir novas sensações, conhecer pessoas e costumes, ter novas experiências e aventuras.

Viajar a voltar aos lugares e pessoas do passado também deixa marca. Mesclas de memórias com a experiência do momento, o agora. Matar saudades, reviver o amor pela família e amigos que vivem longe num clima amistoso e de festa. Deveras enriquecedor.


Mas desta vez, uma viagem para experimentar um novo sentir, a volta ao lugar que escolhi para criar raízes. Nunca tal tinha sentido. Sentir que vivo num pequeno oásis e que o amo.

12 fevereiro 2014

Onde é que eles andam?


Anarquismo (do grego ἀναρχος, transl. anarkhos, que significa "sem governantes",1 2 ou "sem poder"3 a partir do prefixo ἀν-, an-, "sem" + ἄρχή, arkhê, "soberania, reino, magistratura"4 + o sufixo -ισμός, -ismós, da raiz verbal -ιζειν, -izein) é uma filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório e de Estado.5 De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita 6 e, assim, preconizam os tipos de organizações libertárias baseadas na livre associação.

Anarquia significa ausência de coerção e não a ausência de ordem.7 A noção equivocada de que anarquia é sinônimo de caos se popularizou entre o fim do século XIX e o início do século XX, através dos meios de comunicação e de propaganda patronais, mantidos por instituições políticas e religiosas. 

Nesse período, em razão do grau elevado de organização dos segmentos operários, de fundo libertário, surgiram inúmeras campanhas antianarquistas.8 Outro equívoco banal é se considerar anarquia como sendo a ausência de laços de solidariedade (indiferença) entre os homens, quando, em realidade, um dos laços mais valorizados pelos anarquistas é o auxílio mútuo. À ausência de ordem - ideia externa aos princípios anarquistas -, dá-se o nome de "anomia".9

A maioria dos anarquistas se opõe a todas as formas de agressão, apoiando a autodefesa ou a não violência (anarcopacifismo)13 14 ; outros, contudo, apoiam o uso de outros meios, como a revolução violenta. Outro conceito, a propaganda pelo ato, apesar de ter tido um início violento, hoje em dia incorporou diversos tipos de ações não violentas.15”

Conheço comunistas, socialistas, sociais-democratas, da direita popular, outros neutros, talvez... Mas não conheço nenhum anarquista como eu.


23 janeiro 2014

Não há regra sem exceção

Acabaram todos por voltar.

Desde há uns anos para cá todos os meus amores do passado voltam para me assombrar. Agora, depois de mais de 20 anos, aparece o meu primeiro a dizer que me ama. 

Porque será que isto acontece? 

Será que vai haver uma exceção?

17 janeiro 2014

História Moderna da Arte de Portugal

"Quem é quem, na Arte portuguesa e que faz o Estado por esses artistas?"

"Escrevo este texto não como "crítico", musicólogo (tenho um mestrado em etnomusicologia, mas não sou etnomusicólogo) ou como "jornalista" (que não sou nem nunca fui), mas sim como um músico que esteve no epicentro de uma actividade musical e artística intensa, quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Assim, escrevo na "primeira pessoa" e, dando apenas a minha descrição de factos, conforme eu os vi e vivi. Tentarei evitar, sempre que possível (mas será quase impossível), juízos de valor sobre obras e artistas e tentarei reportar-me a factos por mim vividos e presenciados.
Não obedecerei a qualquer ordem cronológica dos acontecimentos, não sei se me ficarei pelo rock produzido em Portugal ou se irei abordar outras tipologias musicais e não sei ainda, no momento em que escrevo estás palavras, se irei limitar-me a falar de música ou se irei alargar o "leque" a outras artes realizadas nesta país.
Comecei a tocar guitarra aos nove anos e a minha primeira guitarra era acústica de cordas de nylon de um fabricante português. Aos 10 anos tive a minha primeira guitarra eléctrica e aos 11 anos tive o meu primeiro sintetizador.
Desde os 10 anos que comecei a fazer parte de bandas rock. O meu primeiro grupo foi os "Snif", que depois chegariam, nos anos 1980, a editarem um single, sob o nome de "Tilt". Depois vieram uma série de grupos formados por mim, que já reflectiam, não só um certo experimentalismo, como estavam sempre carregados de humor. Grupos com nomes como "Trompas The Falópio", que era constituído por um vocalista que tocava aspirador, um baterista que tocava com colheres de pau numa sanita e penicos e eu na guitarra eléctrica e sintetizador. Depois tive um grupo com o nome de "Os Colhões", que nem um concerto deram, pois fomos interrompidos pela minha mãe, que ao ouvir dizer "Colhões", fez terminar logo ali o concerto. Formei depois um grupo de "rock progressivo" com o título de "Transladação dos Ossos Sagrados de São Francisco de Xavier", que não teve grande saída nas rádios, creio eu, por causa do nome... E finalmente, juntei-me a um grupo chamado "Esboço" e que realmente, veio a ser o esboço de outro grupo a que me juntei, chamados de "King Fischer's Band".
Com esse grupo, actuei durante cerca de quatro anos, todos os dias, ao vivo! Todos! Natal, Páscoa, Ano Novo, aniversários, tocava sempre. Tínhamos contratos de um mês e terminado esse prazo, já tínhamos contrato noutro clube ou bar. Gravamos na altura "Tele-Discos", mas nunca chegamos a gravar um disco.
Foi nesta altura, que surge um dia na Taverna do Infante o Rui Veloso, que ia assistir aos nossos concertos e também do Very Nice e no final, pediu para falar connosco. De referir, que eu era o mais novo da banda e não tinha na altura, a importância dos líderes da banda, os irmãos Mesquita (Jorge e Orlando). Nessa reunião o Rui Veloso explica que foi convidado a gravar um LP e que gostava de nos ter como banda dele para a gravação do seu disco e para isso, puxou de uma guitarra acústica e tocou para nós o Chico Fininho.
Depois de alguma conversa, o Jorge e o Orlando, explicam ao Rui que não podem aceitar, porque não cantavam em português, perdendo assim, naquele instante e com aquela decisão, a oportunidade de terem deixado os seus nomes, naquela que viria a ser, uma obra primordial, para o rock e para a indústria e mercado do rock produzido em Portugal. Curiosamente, poucos anos depois, a banda começaria a cantar em português sob o nome de "Banda do Rei Pescador".
Também nessa altura, começa a ir assistir aos nossos concertos o Alexandre Soares, na altura guitarrista num grupo chamado "Pesquisa" e que viriam a ser mais tarde chamados de "Táxi". No final de uma nossa actuação, o Alexandre veio falar comigo e houve logo uma grande empatia e convidei-o a ir à minha garagem, para ensaiarmos. Nesse encontro, toquei para ele duas músicas em inglês, mas que viriam a ser conhecidas pelo público em português e sob o nome de "Portugal na CEE" e "Vem ser um gordo da GNR".
Durante esse período, na minha garagem no Porto, ensaiavam o Rui Veloso, Ramón Galarza e Zé Nabo, da parte da manhã, ensaiando o LP "Ar de Rock", da parte da tarde ensaiava com os King Fischer's Band e à noite com os GNR.
Simultaneamente, tinha um trio com o Alexandre Soares e o baterista dos Táxi, o Rodrigo, chamado "Os Pastorinhos de Fátima", que chegou aos jornais pela pena do então na altura produtor, Ricardo Camacho. Nunca chegamos a dar concertos, pois a única coisa que me recordo, é de adormecer num ensaio, de pé, encostado à porta da minha garagem, tal era a "pedra". Aliás a razão do nosso nome era precisamente por estamos sempre na "Paz do Senhor".
O primeiro concerto que os GNR dão é na Igreja do Carvalhido, sendo que iríamos fazer a primeira parte do grupo Pesquisa (ao qual o Alexandre tinha pertencido) e antes de nós tocaram os Tilt (a quem eu tinha pertencido sob o nome de Snif).
Já anteriormente, com os Trompas The Falópio, tínhamos dado um concerto no Pavilhão dos Carvalhos, fazendo a primeira parte dos grupos King Fischer's Band e Pesquisa, sendo que no final do concerto, os então Pesquisa, ficaram muito bem impressionados com a nossa música (que era de minha autoria), nem que não seja pelo facto de sermos os únicos que só tocamos música original, pois todos os outros tocavam músicas de outros grupos estrangeiros, aquilo que hoje se intitula de "covers".
Além dos grupos e músicos já citados, pela minha garagem passaram músicos como o Aníbal Miranda, que também lá ensaiou, os Marca Amarela, os Roxigénio nasceram lá, elementos do Jáfumega, do Arte & Ofício e tantos outros músicos como o Carlos Araújo ou Pedro Fesch.
Quando o Rui Veloso edita o seu disco, dá-se aquilo a que se resolveu intitular do "Boom" do rock em Portugal. Esse disco é de uma importância enorme para a música portuguesa e, não menos importante, para toda a indústria que este disco iria pôr em acção: editoras, estúdios de gravação, promotores de concertos, empresas de som, roadies, etc..
Se até aí, gravar um disco, era quase uma impossibilidade em Portugal, a partir dessa altura acontece o contrário: quase tudo que faz música, começa a gravar, trazendo muitas coisas positivas, mas também outras negativas e entre essas encontrávamos a fraca qualidade musical de 90% desses grupos.
Mas deixem-me recuar um pouco atrás, para explicar-vos o seguinte: já havia "rock" nos anos 1960 em Portugal, só que reparem, como podiam esses grupos conseguirem alguma proeza de registo, se para se comprar uma guitarra eléctrica se tinha de comprar no estrangeiro? E onde tocavam essas bandas se não haviam locais para essa nova "música"? Nos anos 1970 surgem as primeiras casa de instrumentos musicais, a venderem guitarras eléctricas, órgãos e, raramente e mais tarde, sintetizadores. Mas quando falo em casa de instrumentos musicais, refiro-me por exemplo, à Ruvina e à Castanheira no Porto e só mais tarde nos anos 1980 a Caius. Relembro isto, como explicação para o facto de o rock em Portugal, ter sido sempre de tão fraca qualidade. A culpa não era só dos músicos mas sim, dos 50 anos de fascismo que tinham atrasado o país em décadas em relação aos outros países da Europa.
Já nos anos 1980, começa a surgir toda uma indústria ligada ao rock, como já referi anteriormente e, repito, tudo tendo início no LP do Rui Veloso. É que imaginemos que o primeiro disco a ser editado nessa altura não seria o do Rui mas sim, por exemplo, dos Roxigénio. Tudo poderia ter sido diferente! Eu, por exemplo, que os vi nascer na minha garagem, não me consigo recordar de um tema deles! Um! No entanto recordo-me de bastantes do Rui. Porquê? Porque o Rui e o Carlos Tê, conseguiram criar temas que, como se costuma dizer popularmente "entram no ouvido", ou seja, o Rui tem o dom natural de fazer "hits". Tal como foram depois hits o Portugal na Cee ou o Chiclete ou a Rua do Carmo ou o Amor. Daí eu reforçar a ideia, da importância para todo um mercado e indústria do rock, que teve o LP do Rui, nessa época e que se repercutiu até aos dias de hoje.
Mas não se fique com a ideia, de que só se começou a ganhar dinheiro com a música rock, a partir dessa altura. Eu, por exemplo, entre os anos de 1975 e 1979, ganhava entre 30 a 60 contos mensais, a tocar com os King Fischer's Band. Só para terem uma ideia, um carteiro nessa altura, ganhava 17 contos mensais...
Com os GNR nos anos 1980, já não era a questão de ganhar 60 contos mensais, mas sim, ganhar 60 contos por concerto! Muitos sacos de erva comprei eu ao Quim Preto no bairro de Francos...
Quando se edita o LP dos GNR "Independança", muda-se momentaneamente, a ideia de um rock para as "massas", para um tipo de rock-art, inexistente até há altura e surge, por exemplo, o tema "Avarias", que ocupava todo o lado B desse disco: 27 minutos de uma improvisação rock feita em tempo real e com a poesia concreta do Reininho.
O Reininho vinha do Anarband do Jorge Lima Barreto e a sua postura (performance) e letras (poesia), eram invulgares em Portugal. As letras das canções até aí realizadas no rock feito em Portugal, eram do tipo "Rua do Carmo", "Chico Fininho", "Chiclete" ou "Amor" e o Reininho surge com letras refrões como "Horrorosa Natureza pseudo-mãe transformada em Pátria e guerra" ou "Ela é Blitz Tampax, as formas de um Sax, C'est la coqueluche", aos quais não se estava habituado e daí, o primeiro LP dos GNR ter passado quase despercebido.
Conheço entretanto o Jorge Lima Barreto, que me dá a conhecer todo um novo Mundo musical e formo com ele os Telectu e, durante um período de tempo, faço parte destes dois projectos, até extinguir (por razões musicais), os GNR, que, sob o apoio da Valentim de Carvalho, não aceita que os outros membros continuem com outro nome e começa uma batalha em tribunal que duraria anos.
Com os Telectu, aconteceram duas coisas: uma, foi o meu afastamento gradual do mundo do rock e a outra foi o entrar num novo mundo de Arte e de artistas de várias áreas artísticas, como a poesia (conheci e fiz vídeos com o Eugênio de Andrade ou o Ernesto M de Melo e Castro), pintores (Luís Camacho e António Palolo), cineastas (Rui Simões), videastas (Edgar Pêra), actores e encenadores (Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra, Ricardo Pais ou Jorge de Silva Melo), bailarinos e coreógrafos como o João Fiadeiro, Clara Andermatt, Vera Mantero, João Galante, Teresa Prima, Ana Borralho, Aldara Bizarro, Carlota Lagido), que além de colaborar com eles em diversas circunstâncias, muito aprendi também com todos eles e fizeram-me ver a Arte Total.
Nesses meados dos anos 1980, o meu cachet com os Telectu era de duzentos contos por concerto e dávamos mais de um concerto por mês. Mas tudo era também caro no que a instrumentos musicais dizia respeito: um sintetizador Roland Júpiter 8 custava 700 contos... A minha guitarra GR-300 da Roland, custou-me 400 contos na altura e a GR-707, já custou quase 600 contos...
Assim, a minha geração, viveu ainda as dificuldades de coisas hoje muito simples, como comprar um instrumento musical, gravar um disco ou dar um concerto, tudo coisas que hoje se faz em casa com um computador: grava-se o disco num software do computador e com uma câmera ligada a este, pode-se dar um concerto online e em streaming, para todo o Mundo.
De 1985 a 1995, a indústria da música cresce abissalmente, não significando isso, que a qualidade tenha aumentado, pelo contrário, diminuiu, tornando-se "prisioneira" dos mercados e do comércio, mas, também foi a altura, em que mais se ganhava financeiramente com esta tipologia musical.
Isso reflectia-se, em alguns casos, no estilo de vida desses músicos, que começavam a comprar automóveis de luxo, jeeps, montes no Alentejo, casas com piscina e até, aviões a jacto particulares (o caso de um conhecido promotor de espectáculos).
Já em Lisboa, conheço o António Pinho Vargas, de quem fico amigo e que mais tarde iria viver para a minha casa na Rua do Arco e que mais tarde usou como estúdio para a sua criação musical e com quem aprendi muito.
Curiosamente, o Pinho Vargas, tinha colaborado em concertos do Rui Veloso e dos Arte & Ofício, mas rapidamente, construiu em Lisboa, uma carreira a solo como jazzman e como compositor. Não que antes não tivesse nada! Pelo contrário, tinha já pertencido a vários grupos, inclusive com o Lima Barreto e era já um nome de prestígio do jazz nacional. Mais tarde o Pinho Vargas, larga um pouco a sua carreira de jazzman, pela de compositor de música erudita e também como escritor e pedagogo.
Logo no início dos anos 1980, conheço também, uma das maiores, senão a maior figura da música improvisada portuguesa e mundial, o Carlos Zingaro, com quem venho a colaborar e a aprender e com quem os Telectu ao longo do tempo, foram mantendo contacto.
Entretanto, o Nuno Rebelo, que eu tinha conhecido dos Street Kids e que na saída do Miguel Megre dos GNR, o foi substituir, fazendo parte dos GNR durante algum tempo, forma primeiramente os Mler Ife Dada, para depois, tal como eu, abandonar o rock e dedicar-se à improvisação e composição de música funcional.
Tanto os Telectu, como o Zingaro, o Vargas ou o Rebelo, tínhamos além de Portugal, reconhecimento, concertos e outras actividades, no estrangeiro, sendo que o Zíngaro seria o que teria mais, depois os Telectu e depois o Vargas ou Rebelo.
Levamos o nome de Portugal à URSS, aos EUA, à China, ao Japão, a Cuba, Egipto ou toda a Europa, nos melhores Festivais e com os maiores músicos das tipologias musicais que representávamos.
Nessa altura, começam a surgir os dinheiros da comunidade europeia e começam a ser dados subsídios para a Arte, mas especialmente à Dança, que ao contrário da comunidade musical, se juntou, formando Fóruns e Centros de criação e programação e os artistas começam a formar associações, para divulgarem e promoverem o seu trabalho.
Músicos como os Telectu, Vargas, Zíngaro ou Rebelo, nunca receberam qualquer ajuda do Estado nessa altura e, ainda continua a ser assim agora para muitos de nós, pese em conta, o serviço que nós prestávamos ao país.
Mal se passou para o euro, começou-se a notar gradualmente, uma descida nos cachets praticados, mas noutros casos, como na Dança e no Teatro, ainda se continuava a ganhar muito bem. Eu, entre 2000 e 2006, ganhava por espectáculo, quantias entre os 10 mil e 15 mil euros, para fazer música para uma peça de teatro, em que tinha de ir só a dois ou três ensaios...
Hoje, pelo mesmo trabalho e nos mesmos Teatros, recebo 10 vezes menos...
Estabeleci como preço mínimo para concerto (ainda nos Telectu), 500 euros e, porque outros músicos começavam a tocar por preços baixíssimos ou até inexistentes, os concertos começaram a rarear. Actualmente, se tiver mais de 6 concertos com esse cachet, num ano, já é muito bom...
Dessa forma, com a quase total ausência de concertos, pelo menos do nosso tipo de música, comecei eu e outros músicos, a recorrer à música "funcional", realizando obras para vídeo, cinema, teatro ou dança e era aí que conseguíamos sobreviver. Outros dedicaram-se também ao ensino...
E de repente, aqui estamos nós, os músicos que tanto elevaram o nome de Portugal em tantos eventos no estrangeiro, a não sabermos como vai ser o dia seguinte, sem qualquer tipo de apoios do Estado, que pelo contrário, exclui-nos da sociedade, criando centros "culturais" por todo o país, mas que depois estão desertos a nível de público e, centros esses, que há anos levam sempre as mesmas coisas de música ou teatro ou dança, mas nunca os nomes em cima mencionados.
Sempre ouvi dizer e nunca concordei até aos dias de hoje, que é mais grave um rico virar pobre, do que um pobre continuar pobre... Mas esta frase aplicada aos dias de hoje e aos nossos artistas, parece servir que nem uma luva! Deram-nos o que merecíamos na altura ou pelo menos nós conquistávamos isso e agora, deixam os artistas ao Deus Dará e que se "arranjem" que o problema não é deles... E o pior, é que o Zé Povinho, engole o que vai ouvindo e depois acha muito bem, que o Estado nada nos dê a esses "chulos" que "nada fazem"... Políticos como o outrora MRPP e actualmente PSD, Pacheco Pereira, chama-nos até de "subsídio-dependentes"!!!... Quando nunca recebi um subsídio na vida...
Hoje abri o Público e li que o Tordo "ameaça" emigrar... E depois li os comentários do povinho e eram: "vai para a Coreia do Norte" ou "ainda estás cá?"...
Quem tem razão?... O Tordo em dizer que vai emigrar ou o povinho a mandá-lo pró caralho?... Se calhar, nenhum! Porque o Tordo, tendo supostamente consciência política deveria ter continuado a sua luta através da sua música (música de intervenção)... Mas qual música de intervenção fazia o Tordo actualmente?... Não se terá acomodado, como se acomodaram quase todos os chamados "músicos de intervenção" portugueses?... Eu não vejo o Sérgio Godinho a cantar "A paz, o pão, habitação", mas vejo-o como júri num qualquer programa abjecto da TV. Eu não vejo o Vitorino a lutar pelos trabalhadores, mas sim a cantar com o Tony de Matos no Coliseu ou a cantar o "Menina estás à janela". Até o Fausto, canta agora músicas abrasileiradas... O Palma passa nas telenovelas "encostando-se" a eles. Que razão têm esses, realmente, para virem dizer que isto está mal e que querem emigrar?
E também não tem razão o povinho em os mandar foder, porque no fundo, foram eles que os sustentaram e, nalguns casos, estes, os cantores de intervenção, tiveram muita importância na mudança de paradigma em Portugal, antes do 25 de Abril.
Pergunto-vos: sabem quem é o Rui Chafes?... A maior parte que me está a ler, deve desconhecer totalmente este nome... Mas se eu disser "Joana Vasconcelos", já sabem quem é, no entanto a última é uma artista do regime sem qualquer valor artístico na História da Arte em Portugal e o primeiro é reconhecido pelos pares e não só, como um dos mais importantes escultores da actualidade e é português.
E de quem é a culpa de tudo isto?
É do Povo português que andou a gastar o que não devia?... Dos artistas que são uns chulos e não "trabalham"!!!
Não parece ser do Estado, cheio de corruptos e bandidos, e dos políticos e suas leis que só a eles os protegem!!!
Então... É do povo!!!
É do povo e, por conseguinte, dos artistas também, que estão a pagar a çrise e não os cabrões dos bancos que nos andaram a "dar" créditos a torto e direito, para que nos endividássemos, para agora nos dizerem que fomos "gastadores"...
E o povinho vai na conversa... E baixa a bolinha como cordeirinhos bem amestrados...
A mim e a outros músicos como eu, esta crise, não me afecta, da mesma forma que afecta, por exemplo, um Paulo Gonzo ou um Olavo Bilac, que tão rapidamente subiram, como desceram, tendo até um deles pedido insolvência...
Só que há que distinguir claramente uma coisa: uma coisa são artistas como eu, Zingaro, Vargas, Chafes, Rui Simões, Edgar Pêra, Miguel Azguime ou José Nascimento que fazem Arte pela Arte e outra coisa são artistas que "usam" supostamente algo próximo daquilo que intitulamos de "arte", mas que, per se, ganham muito dinheiro com a sua "arte comercial"!
Mas reparem o paradoxo: é a esses que não precisam de dinheiro do Estado, porque a sua actividade é comercial, que o Estado subsidia (o caso "gritante" da Joana Vasconcelos) e aos que precisam, eles cortam...
Resumindo: se o Vargas escreve que se o Estado quiser ele "suicida-se" quando fizer 63 anos, para que o Estado não lhe tenha de pagar o que é dele por direito, se o Tordo diz que vai emigrar, eu digo que daqui não saio e mando-os a todos irem pró caralho, pois não posso ter respeito e consideração por assassinos que andam a matar velhos, pobres e reformados e que tentam exterminar com a felicidade, cultura e Arte em Portugal."


Vítor Rua, 2014 - retirado do Facebook

08 janeiro 2014

Ano do Cavalo de Júpiter


Não te preocupes Malaquias, que o tempo de Júpiter chegará e toda a tua fé desplotará numa revolução pessoal, só tua, que te moldará o carácter para sempre.

Povos da Terra, uni-vos na cooperação pela justiça. Verás que alcançarás feitos nunca antes alcançados.

Portugal, instiga a tua força de vontade, corre e cresce, como um cavalo Lusitano que venceu corridas e batalhas!

E que os anjos protejam Francisco.