25 fevereiro 2016

Testamento

Com quase 100 anos, ao deitar-me, irei recordar momentos belos da vida e sorrir.
Farei a minha usual oração de agradecimento com o coração cheio de gratidão.
Depois morrerei enquanto durmo.



24 fevereiro 2016

Êxtase

Chegou uma espécie de Primavera ao meu coração, nascem lindas flores, os pássaros cantam, no céu brilha o sol e quando a chuva cai é refrescante e há arco-íris.
Nunca me senti assim na minha vida. Esta paz, esta independência das coisas de fora é coisa inusitada. Este silêncio interior é tão bom, não há conceitos que o possam descrever. Vem tudo de dentro, como um renascimento interior que transborda de mim.
Estou a registar neste meu diário que me acompanha desde a adolescência, olho para trás e aquele meu desassossego de alma e de coração pertencem a um passado longínquo. Os ditos problemas já deixam de o ser e passam a ser desafios de vida com utilidade e aceito-os com serenidade e vou resolvendo-os. Se há momentos em que a melancolia ou a dúvida me batem à porta, deixo-as entrar e converso com elas e elas acabam por se ir embora calmamente.
A dor do mundo já não me atormenta, envio muito amor a todos, principalmente às almas perdidas que praticam a maldade.
A raiva, o ressentimento, o desprezo e a revolta fizeram as malas e partiram.
A minha amada ironia está dormir algures e acorda em momentos divertidos.
No início pensava que era uma fase e tinha que a aproveitar enquanto durava, mas já nem me preocupo em perguntar porquê que assim me sinto, nem me preocupo se é uma fase ou quanto vai durar, fruo como um rio que corre alegre.

Ah, maravilha, maravilha…

10 fevereiro 2016

Romaria sem destino

E quando as luzes se apagarem, o meu corpo mole de cansaço deixar de sentir, o sonho a criar histórias sem nexo, viagens da mente sem regras, fui lá, fui lá ver, e estavas tu a correr com uma tocha, a iluminar as ruas medievais, os sinos da igreja chamaram os cães que te perseguem com bandeiras na boca. E eu observo a tua agonia, o teu medo, o teu ímpeto de revolta a perder-se no nevoeiro.
Mais um dia, mais um hábito, estou a deixar os vícios? Estou a ser novo ou a repetir copiosamente o fácil? Tão triste, tão contente, alegremente vivo esta vida sem sentido que tem tanto de sentido que não dá para não sentir.
E ver que sou cego, perro do coração e perdido no espaço, sim, porque vivo numa bola azul perdida no espaço. Rodeiam-me tantos como eu, tão feios e maus, tão belos e inspiradores como deuses, anjos sem asas. 
Que brasa, estou quente, não é febre, é o sol, é sangue a correr. E lá vou eu por estas veredas da vida, sem nada saber, ora fico surdo de tanto prazer, ora fico oco de tanta solidão, ora engole-me o mistério e fico a flutuar.

E quando as luzes não voltarem a acender-se, velarei pelos vivos ou viajarei no negrume da antimatéria?

06 fevereiro 2016

Sublime

"A Liberdade é o Direito a não ter de mentir"
Camus