24 julho 2014

Leveza para subir e descer montanhas

Quando fiz parte do Caminho de Santiago a mochila pesava-me. Decidi livrar-me dela enviando-a por táxi para o próximo albergue de destino.
A meio da subida de uma montanha que dividia as províncias de Leon e Galicia parei para tomar um café numa mesa de madeira junto de vacas.
Enquanto apreciava as vistas e saboreava o café chegou um grupo de peregrinos, um dos quais já tinha conhecido na noite anterior. Conversa vai, conversa vem e acabam por perguntar pelo paradeiro da minha mochila, ao que respondi que a tinha enviado por táxi porque pesava e tornava a caminhada dolorosa. Ficaram com um ar chocado e diz-me uma:
- Pero la mochila es nuestro Karma.
Na altura lembro-me que dei uma gargalhada e respondi algo do género:
- Se era o Karma, já foi.

Anos depois estou eu debaixo de uma oliveira a refletir sobre o Karma e lembrei-me deste episódio que retrata bem a minha postura perante esta crença ou verdade. É que esta história do Karma é muito complicada. Já não basta esta vida, a que se vive agora? Já não bastam os desafios desta existência num determinado contexto histórico e uma cultura que custa a entender e aceitar? Para quê trazer “coisas” de outras vidas?
O que tiver de ser vivido e resolvido é agora, pois é agora que estou a viver e eu não me recordo do que aconteceu noutras vidas. O passado passou. O Tempo continua.


Por isso, meu amigo Karma, liberto-te, vai de táxi espacial para onde quiseres.