28 novembro 2010

“A ciência natural da estupidez"

À minha querida esposa, Kate, que suportou a minha própria estupidez durante vinte e seis anos muito felizes.

Paul Tabori


"Introdução
Há quem nasça estúpido, quem se torne estúpido e quem, gradualmente, se deixe inocular pelo morbo da idiotice. A estupidez da maioria das pessoas não representa, porém, uma herança de antepassados ou um contágio de contemporâneos. É obra pessoal (e devemos reconhece-lo) conquistada com inteira justiça.

Foram os interessados que se arvoraram em idiotas e ninguém os obrigou a isso. Certos maníacos da perfeição armaram em perfeitos, e, como se poderia esperar, são sempre os últimos a reconhecê-lo. Lucraríamos alguma coisa a denunciar o facto? Verificando que a sua felicidade reside, precisamente da ignorância da estupidez em que vivem, até custa desenganá-los.

A estupidez que se manifesta sob variadíssimas formas – o orgulho, a vaidade, a credulidade, o medo ou o preconceito -, é um dos motivos preferidos pelos escritores satíricos, como nos recorda Paul Tabori.

Segundo palavras suas, ela «conseguiu viver a milhões de golpes, mesmo aos mais rudes, sem nada sofrer». O que ele não observa, decerto por demasiado evidente, é que, se a estupidez desaparecesse, o escritor satírico ficaria desempregado.

«Ninguém riria num mundo perfeito» - afirmou Cristóvão Morley…

…E seria, acaso, perfeito um mundo no qual não se proporcionassem ensejos para uma gargalhada? A estupidez é, possivelmente, necessária, não só para dar que fazer ao escritor satírico, mas também para oferecer distracções a dois grupos da minoria: os, na realidade, sensatos e os suficientemente sensatos para se aperceberem de que são estúpidos.

… De resto, bem vistas as coisas, uma pequena dose de estupidez é tão inverosímil como uma gravidez moderada. Isto, descontando já que as suas consequências podem ser cómicas, como trágicas. Se, de facto, serve para aliviar uma gargalhada, temos que reconhecer que não serve para muito mais. A estupidez é prejudicial não apenas para os que a sofrem, directamente, mas também para os que por ela são rodeados. Se, no passado, causou perseguições e guerras, no futuro poderá dar origem a catástrofes ainda maiores…”

Richard Armour

25 novembro 2010

Entre a espada e a parede

Há muito trabalho, só não trabalha quem não quer. Se quisesse, a Maria começaria a trabalhar amanhã.

Então porque a Maria continua desempregada? Sei lá, deve ser preguiçosa ou presunçosa. Talvez presunçosa, só porque tem um curso superior e mais de 20 anos de experiência profissional acha que não pode pegar qualquer coisa.
Mas se ela precisa desesperadamente de um trabalho, porque não faz qualquer coisa?
Em Portugal, o mercado de trabalho não é assim tão linear, os governos investiram no ensino, fabricaram fornadas de licenciados, e o que os governos parecem ter-se esquecido foi de estimular políticas/práticas de desenvolvimento que absorvessem as novas fornadas de capital humano, sem ter que se desfazer do capital humano antigo, ou antiquado?

Mas para a Maria estas considerações de pouco valem, porque o que lhe interessa neste momento, é ter um trabalho. Não vale a pena culpar os Governos ou a cultura laboral de um país.

E sim, existe muito trabalho, o problema até nem está no trabalho, mas no retorno que o trabalho dá. O salário. Maria tem várias propostas de trabalho, claro que tem, é só olhar para o jornal, internet e ver:

Ajudante de cozinha, empregada de mesa, empregada doméstica, ajudante de lar. Tudo trabalhos úteis, com salários entre os 450€ a 700€. Há restaurantes que pagam bem, 900€ a 1500€ e refeições grátis, mas é preciso experiência, não é qualquer um que pode servir num restaurante na Quinta do Lago ou da Marinha.

Também há outras oportunidades, como concorrer a concursos das autarquias ou Segurança Social, que são quem mais contrata pessoas com a sua formação académica. E fez muitos concursos pelo país inteiro. Sim, ela até recebeu uma proposta para trabalhar numa Junta de Freguesia a ganhar 750€ sem contrato e a recibos verdes. Contratos de trabalho, também os há. Teve a oportunidade de ter um a receber 450€, mais subsídio refeição de 5€/dia, mais 3% de comissões em artigos que custam em média 15€ cada. Para isso, só teria de ter viatura própria e vender 500€/dia. Que belo trabalho, a de caixeiro-viajante! Ainda há mais, e melhores, como secretária ou administrativa a ganhar 850€ a 900€. Então, com a sua experiência, até poderia ser responsável de compras de um departamento de uma grande empresa nacional, na área dos supermercados, a ganhar 1500€. Isto sim, qualquer Maria gostaria, se não se importar em sacrificar os filhos para poder dar o seu sangue a estas empresas ou multinacionais do género.

Mas é nas casas de alterne e nos serviços de acompanhantes que se paga bem, os salários variam entre 1500€ a 3000€. Mas Maria, para além de ter passado a barreira dos 40 e a sua beleza ter entrado na linha descendente, é uma mulher sem formação para estes tão exigentes labores. E coitada, uma mãe de família não tem vida para se deitar às tantas da madrugada.

O mais irónico é que Maria teve propostas de empregos a ganhar 4x ou 5x a mais em Inglaterra, Angola e em Macau. Mas para os aceitar teria de escolher, entre o seu trabalho e a sua família. Escolheu a família e continua sem emprego.
Bem, enfim, não é preciso contar mais peripécias de uma Maria real (isto não é ficção), que anda há 2 anos à procura de uma oportunidade justa de trabalho.

O que quero demonstrar com esta história das Marias portuguesas que não conseguem trabalho, mesmo com habilitações e experiência profissional, é que Portugal é um país estranho, para não dizer, um país com uma frágil justiça social.

Um país em que a média de valores de arrendamentos de simples apartamentos T2 é de 500€/600€ e a média dos salários é de 800€. Como é que uma Maria, que nem se importe de fazer qualquer coisa, pode viver? Como é que as Marias que estudaram, porque lhes disseram que teriam mais hipóteses de arranjar melhores empregos, vêm-se em situação de desespero porque não conseguem fazer-se valer dignamente?

Muitas Marias até têm espírito empreendedor e ideias de negócio, mas nem sempre capital para investir. Os QRENs da vida, sim ajudam muito, àqueles que estão bem relacionados. Empréstimos bancários, só para quem tem dinheiro. Tachos? A maioria das Marias têm-nos muitos, mas na cozinha. Não, não, isto já não é como nos tempos dos nossos pais ou avós. Até as Marias que nasceram em famílias burguesas começam a ser afectadas por esta realidade burlesca. E as Marias que investem a tornarem-se um pouco mais independentes do sistema escravizante, arriscam-se a não receber os seus honorários como consultoras externas, de tão maus pagadores impunes que para aí andam. Não fossem algumas ter uma mãe, pai ou irmãos para as ajudar quando isso acontece, muitas estariam a buscar comida ao Banco Alimentar.

Afirmava o nosso primeiro-ministro de peito estufado e sorriso de totó, aquando do seu discurso na inauguração de mais um jardim-de-infância – “Portugal é o país da Europa (e talvez do mundo) com mais crianças a frequentar o ensino pré-escolar”. Otário, como se isso fosse um bom indicador de desenvolvimento. É exactamente o contrário, as crianças são despejadas com tenra idade nas gaiolas decoradas, das 8 da manhã até às 8 da noite, para que ambos os progenitores possam trabalhar.

Como é que uma cultura laboral põe em causa a educação das gerações vindouras de um país? Pelo menos penso que é de responsabilidade da família educar as crianças.

Isto é mesmo um cenário tétrico!

É melhor acabar por aqui, já estou a ficar com dores de estômago.

19 novembro 2010

Portugal visto de fora

Artigo Jornal Russo

Depois de tanta evidência, não percebo porque ninguém faz alguma coisa, porque nada parece mexer em prol da mudança. Serão os justos portugueses uns bananas?  Saber e nada fazer é pior do que viver na ignorância. Ou não nos cabe a nós esse papel? Afinal qual é o papel do povo?  Continuar a votar nos incompetentes comprovados e iludir-se que os próximos serão melhores?
Sinto-me impotente perante tanto conformismo ou revolta inútil.
Resta-me a esperança e a ilusão de que, pelo menos, estou a contribuir de alguma forma.
"Por teu Graal" acorda!!!!

18 novembro 2010

Coisas más de Portugal - dor social

"A Saúde Mental dos Portugueses


transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público, 2010-06-21

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque
se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso
Médico psiquiatra"

17 novembro 2010

Gostei muito desta

"Não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar"

Francis Bacon

12 novembro 2010

"Bad timing"

Everything is quiet
There, in a pool of light
I would have sworn that she had died
I'm telling you

In all that i will say
In every move i'll make
You'll see that i don't fake
Even if i wanted to

She passed it on to me

She walked into my life
The ridiculous and sublime
Beneath the lowered sky
She fell in love

And passed it on to me

I threw it all away
Like a record that you don't play
And all the hurt i saved
Well, time had come

I passed it on to her

Do you realize
Do you realize
To look into her eyes
And to let her go

To pass it on to him

Now everything was quiet
I would have sworn that she had died
And i didn't even try....

(Was it bad timing?)
Now all you want to hear
Is everything you fear
So don't you come too near

Cause everything you need
You'll get from her


dEUS

10 novembro 2010

Go getter, go giver

Ao longo da minha vida adulta tenho observado, analisado, o tipo de comportamento, ou carácter, intuito que guia a acção, das pessoas que passaram/cruzam a minha existência. E essencialmente, sem absolutismos, existem dois padrões dominantes, num dos quais me incluo, os go getters e os go givers.

Resumindo. Assim como na natureza, há os animais que dão ou conquistam e os que recebem ou parasitam. Materializando a ideia, o antílope, a leoa que o caça para alimentar a sua prole e o seu macho, as hienas, os abutres e as moscas. O antílope e a Leoa são os go givers. O antílope é o go giver “puro”, a sua razão de existência é dar. A Leoa, embora receba o alimento do antílope, tem que investir esforços para o caçar, para garantir a sobrevivência da sua prole e do leão que protege o clã, digamos, as crias e os machos, são tanto getters como givers, “amor com amor se paga”. Já as hienas, os abutres e as moscas são os go getters, sobrevivem da usurpação ou herança dos restos da carcaça.

Não compreende a ideia? Passo a ilustrar com um exemplo humano. Vasco Gonçalves era um homem íntegro, com ideais nobres, um militar que moveu uma revolução sem guerra (e acabando com uma guerra).  Graças ao seu ímpeto e coragem, beneficiaram, políticos e uma nação. Nesta cadeia de benefícios gerada pelos go givers da Revolução, as hienas e os abutres beberam dos ideais da liberdade e da democracia em seu benefício. Exemplo disso, o Dr Mário Soares, estandarte da instauração da Liberdade em Portugal, que, como hiena, usurpou um movimento político em seu benefício, para sobreviver como político, à custa do “sacrifício” do antílope, Vasco Gonçalves.

Será que muitos do Zé Povinho são a moscas? É melhor nem pensar nisso…

Adiante, isto é só um exemplo de diversos que poderia mencionar. Aliás, as pessoas que me inspiraram este post, nem foram estas grandes figuras da História política de Portugal. Foram pessoas com quem trabalhei…
Nem imaginam o que me passou pela cabeça, começar a chamar as pessoas: homem leão e a mulher mosca. A mulher corça e o homem fungo. Ahahah! Já estou a divagar…

Mas se analisarmos “the big picture” existe, e sempre existiu na natureza, os givers e os getters, e se eles existem, não quer dizer que um seja melhor que o outro. Ambos são necessários. Um, não é bom só porque dá, e o outro não é mau só porque tira. Porque alguém só tira algo de alguém que pode dar.

Não poderíamos simplesmente extinguir as hienas, os abutres, as moscas ou outros go getters, haveria excesso de fartura, e a quantidade altera a qualidade. Imaginem os restos mortais do antílope, depois de dilaceradas as suas vísceras, a apodrecer na savana? Nem quero imaginar!
Os go getters são um “mal” necessário.

Na linha de pensamento sobre a quantidade que altera a qualidade, o tema que estive a explorar foi abordado numa perspectiva de justiça ou equilíbrio. E por isso, chego à conclusão, mais uma vez, que o desafio existencial é o equilíbrio.

E seguindo este pressuposto de equilíbrio, é fácil constatar que não andam por aí suficientes corças, antílopes e leoas para alimentar tanta hiena, abutre e mosca.