26 março 2010

Para desanuviar...

Por quase todo o lado, aparecem estas questões: música preferida, filme preferido, livro preferido. Como se isso fosse possível! Se é possível para alguns, parabéns! Eu não consigo ser tão minimalista. Para mim são muitas músicas, muitos filmes, muitos livros.

Mas mesmo assim, dei-me ao “trabalho” de fazer a selecção dos preferidos, primeiro os filmes. Depois os álbuns, porque são mais fáceis.
Agora os livros.

Depois de uma pré-adolescência a ler “Os cinco”, “O Astrix”, o “Tintin” e o “Tio Patinhas e Cia”, o primeiro livro a sério que li foi o “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry. Li-o mais umas 4 /5 vezes desde então. Já o ofereci a diversas pessoas. E irei continuar a oferece-lo e a lê-lo, com certeza. É um livro especial.

Ia eu na marginal de Cascais na direcção de Lisboa, e em Carcavelos, saídos da praia, estava um casal a pedir boleia. Parei e mandei-os entrar. Ele era Italiano e tinha vindo para Portugal para estudar um heterónimo de Fernando Pessoa e começou a citar um verso do “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro. Citava-o com tal amor que os arrepios foram inevitáveis. Como adoro! Em adolescente, lembro-me de fugir para o campo e lê-lo, relê-lo vezes sem conta. Foi o meu primeiro amor literário aos 15 anos. E um amor que continua até os dias de hoje.

Os meus pais tinham um livro de poemas de Bertolt Brecht, de que não me lembro do nome, mas lembro-me de lê-lo diversas vezes. Não sei por anda esse livro, nunca mais o vi.

A Bíblia” de vários. A Bíblia. Primeiro pela curiosidade, depois por interesse, costumo ler a Bíblia, é um livro interessante de um ponto de vista histórico-filosófico-metafísico. Volta e meia, leio-a. Vezes sem conta, escolho o Livro dos Salmos e acabo sempre por ler o 23.

Independentemente da falta de técnica literária, gostei muito da mensagem do livro “O Alquimista” de Paulo Coelho. Foi graças a esse livro que passei a ter uma perspectiva diferente sobre os sonhos.

Fiquei tão triste com a terrível adaptação do livro “A Casa dos Espíritos” de Isabel Allende para o cinema, e ainda por cima, com um elenco de ouro e gravado em Portugal. Não traduz o livro, nem por sombras. Um livro com uma estética literária belíssima. Gosto muito dos escritores Latino-americanos. Pablo Neruda, Jorge Amado, Gabriel Garcia Marques, Mário de Andrade, Érico Veríssimo.

Um livro que marcou foi “A Insustentável Leveza de Ser” de Kundera. Foi um dos poucos livros que me provocou reacções físicas intensas. E um bom livro é aquele que consegue provocar emoções, boas ou más, que se manifestem também fisicamente.

O Perfume” de Patrick Suskind também mexeu com os meus sentidos. Eu que tenho o olfacto apurado, comecei a dar por mim a dissecar cheiros e a sentir a cidade mais intensamente. E isso não era tão bom assim, porque os odores da cidade, mistura de petróleo, fritos, odores dos esgotos, cantos do mijo, tabaco, perfumes baratos, e afins, podem causar sério mal-estar. Estive à beira da loucura.

Pelo contrário, “Os Nove Amanhãs” de Isaac Azimov, provocou-me uma torrente de emoções fortes e boas, este livro está muita bom, tão bom, que agora nem consigo tecer nenhum comentário à altura.

Bichos” de Miguel Torga. Este é o livro pelo qual sinto maior ternura, é de uma singeleza que dói…

Eu, fã de Jesus, quando li o “O Evangelho segundo Jesus Cristo” de José Saramago, achei que finalmente alguém tinha tido a coragem de salvar Jesus da cruz, de uma forma muito arrojada! Fabuloso. Abaixo com o Império Católico Apostólico Romano!

Assim falou Zaratustra” de Nietzsche, é também afoito. Imaginar a Humanidade Super-Homem!

Estava eu na Faculdade e um professor de Sociologia pediu para escolhermos um livro e explicar o porquê da escolha à luz das análises sociológicas em estudo. É claro que escolhi o “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley. Quando fui fazer a apresentação do trabalho sobre o livro, o professor ficou tal entusiasmado com a minha escolha, que quase nem precisei de falar, ele encarregou-se disso e ainda por cima deu-me 18 valores. Mas este livro é incrível, como é que um escritor do princípio dum século previu um mundo que é praticamente o mundo de hoje, 1 século depois? Uma caricatura da sociedade moderna muito bem sacada!

Acabei de ler o “Lobo da Estepe” de Hermann Hesse, era mesmo este livro que precisava de ler neste momento. Era mesmo.

O próximo que irei ler será: “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll. Conheço a história através do filme animado, e agora estreou outro filme “real” em 3D. Mas o livro deve ser melhor, com certeza.

Este exercício de assinalar os meus preferidos é algo que fica em aberto, inacabado, a estas listas vão juntar-se outros livros, outros discos e filmes.
No fundo, ainda não percebi muito bem porque o faço? Qual o objectivo?
Será a necessidade de fazer estes balanços a influência das plataformas de networking social? Será resultado da dita crise da entrada na meia-idade?
Humm, desculpas esfarrapadas.
É típico do ser humano fazer colecções, para desanuviar...
Afinal, também sou um.

25 março 2010

Coisas más de Portugal - Acontecimento do dia no Parlamento Português

Não acredito, não posso acreditar no que acabei de ouvir. A maior força política de oposição ao governo a virar as costas aos Portugueses. Não querem assumir a responsabilidade. Porquê? Não têm nem uma ideiazinha para melhorar o PEC? Não, porque não têm a menor ideia de como contornar a situação actual. Pelo menos por agora, andam tão centrados na nova liderança do seu partido, fechados sobre si e alienados das reais necessidades do país. Ora não têm candidato, ora têm muitos. Falta coesão! E na situação actual do país, em que o mais necessário é a coesão, a aliança, a entreajuda. Somos todos responsáveis !!!!!!!!!!!!!


A situação do país é coisa recente? Claro que não é recente. A crise é o fim, o resultado de uma bolha que rebentou depois de anos e anos de erros consecutivos, um acúmulos de diversos actos governamentais falhados, que se deslumbrou pelo brilho do ouro. Uns melhores outros piores, mas todos envolvidos de uma forma ou de outra.

E dizia hoje a Srª Drª líder, que é competência do governo governar. Então o que estão lá a fazer no Parlamento? Para que servem? De que serviram os votos dos portugueses quando não deram maioria ao governo? Não era para lhes dar a oportunidade de contribuir, servir os Portugueses, de provarem o que valem? Em vez disso, à beira de mudança de liderança, descartam a sua responsabilidade… melhor, a sua oportunidade…

Disse que não ia chorar, mas afinal enganei-me.

24 março 2010

Coisas más de Portugal - Política

Não há tema que mais me interesse, a política. Mas ao acompanhar a vida política do meu país dá-me vontade de chorar.

Um país onde os políticos investem, pelo menos, 50% do seu tempo a falar uns dos outros, com tricas e intrigas. Parecem uns putos a brincar ás guerrilhas. Pior, parecem umas brejeiras cheias de snobismo (sem nobreza), o que é absolutamente grotesco. E depois vem a imprensa cusca, que em vez de prestar um serviço de informação ao povo sobre política, anda a falar dos políticos. E ainda vêm os entendidos a reforçar este traço empobrecedor da vida política nacional. Depois admiram-se que o povo vote mal ou nem sequer honre o seu direito de voto. Sabem lá o que se passa, pobres coitados.

Não gosto deste tipo de política, política centrada nos políticos e políticos centrados neles próprios.

Onde anda a política que gosto? A política do bem comum, da justiça social e da democracia?
A política proactiva, positiva e nobre!
A política útil!?!

Mas não vou chorar, não vou chorar…

PEC

Já começa mal. Com um nome destes? Não faz lembrar uma palavra (acto) lastimável?

Babilónia

“Os banqueiros falharam por incompetência”


“- Qual é a sua reacção face à especulação contra os elos fracos da Zona Euro?

- É incrível: as dívidas externas e os défices públicos da Grécia, Portugal, Espanha e Itália são resultado da salvação dos bancos, cujas malfeitorias causaram a crise. E, agora, estas mesmas instituições fazem fortunas mordendo a mão dos seus salvadores!
Mas não devíamos admirar-nos! Não mudaram nem as regras nem as motivações destas instituições. Foi-lhes dado dinheiro barato para fazerem o que queriam, sem limitações, e eles utilizam-nos para maximizar os seus lucros, sem se preocuparem com os custos sociais induzidos.

- A avidez de Wall Street é a única causa da crise? Os reguladores não falharam?

- Escrevi Freefall: Free Markets and the Sinking of the global Economy para sublinhar a responsabilidade primordial dos banqueiros. Não só não fizerem o seu trabalho e destruíram a nossa economia, como fizeram a campanha de atribuir a culpa aos outros. Os banqueiros falharam por incompetência e avidez: puseram em prática um sistema de remunerações que incentiva a assumpção de riscos excessivos e as estratégias a curto prazo. É verdade que os reguladores não impediram os bancos de se portarem mal. Mas quando alguém rouba uma loja, acusamos o ladrão…não a polícia por não estar no local. E os economistas também tiveram um papel importante, ao legitimarem a ideologia da desregulamentação.”

Entrevista a Joseph Stiglitz
Prémio Nobel Economia 2001
in Visão nº888, 11 a 17 Março 2010

Agora contem-me uma novidade. Não é preciso ser Nobel da Economia para perceber o que se passa. Dahhh!

“Mas não devíamos admirar-nos”, diz ele. Devíamos sim! Devíamos mudar o mundo. Para que servem os economistas e os políticos? Sabemos o que se passa e permanecemos impávidos a viver as nossas vidinhas no sistema doente.

Não percebem que a mudança necessária é mais profunda? Uma mudança geral de paradigma.
O Paradigma do Bem Comum.
Fogo à Babilónia!