Quando fiz parte do Caminho de Santiago a mochila
pesava-me. Decidi livrar-me dela enviando-a por táxi para o próximo albergue de
destino.
A meio da subida de uma montanha que dividia as
províncias de Leon e Galicia parei para tomar um café numa mesa de madeira
junto de vacas.
Enquanto apreciava as vistas e saboreava o café
chegou um grupo de peregrinos, um dos quais já tinha conhecido na noite
anterior. Conversa vai, conversa vem e acabam por perguntar pelo paradeiro da
minha mochila, ao que respondi que a tinha enviado por táxi porque pesava e
tornava a caminhada dolorosa. Ficaram com um ar chocado e diz-me uma:
- Pero la mochila es nuestro Karma.
Na altura lembro-me que dei uma gargalhada e respondi
algo do género:
- Se era o Karma, já foi.
Anos depois estou eu debaixo de uma oliveira a refletir
sobre o Karma e lembrei-me deste episódio que retrata bem a minha postura
perante esta crença ou verdade. É que esta história do Karma é muito complicada. Já não basta
esta vida, a que se vive agora? Já não bastam os desafios desta existência num determinado
contexto histórico e uma cultura que custa a entender e aceitar? Para quê
trazer “coisas” de outras vidas?
O que tiver de ser vivido e resolvido é agora, pois
é agora que estou a viver e eu não me recordo do que aconteceu noutras vidas. O
passado passou. O Tempo continua.
Por isso, meu amigo Karma, liberto-te, vai de
táxi espacial para onde quiseres.
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