03 maio 2020

Corona meu amor

Estão todos focados no medo, na crise económica, que não conseguem ver que este vírus é uma oportunidade para a humanidade fazer mudanças profundas e significativas nos seus paradigmas sociais, económicos, familiares, pessoais e, principalmente, na forma como cuidam da Natureza.

De tão entorpecidos que estão, não aproveitam esta paragem para refletir sobre o que realmente importa, sabem lá o que importa, em vez disso, reclamam, descarregam as suas frustrações nas redes sociais, enchem-se de papel higiénico, de comida e bebida de plástico, deleitam-se na melancolia e nem tiram o pijama, alimentam o drama que os media tanto gostam de espalhar, a desgraça, a dor, o vitimismo, coitadinhos de nós, que crise nunca vista na história.
Assumir a responsabilidade pela saúde frágil que têm, provocada por uma vida de má alimentação, poluição, exploração dos animais, vidas sem sentido centradas em egos fúteis, stressadas a produzir e a consumir como se não houvesse amanhã  claro que não, impensável, a culpa é do vírus mau.  Somos todos vítimas inocentes.

E lamentam, que desgraça,  coitadinhos dos probrezinhos que são reflexo do modelo económico injusto e opressor, coitadinhas das famílias que têm que aturar os filhos que nem sabem bem porque os têm, coitadinhos dos maridos que já não podem ver as mulheres que julgavam amar para toda a vida, coitadinhos dos professores assoberbados por um sistema educacional altamente burocrático e limitador do conhecimento, coitadinhos dos pais trabalhadores que não conseguem gerir o trabalho em casa com a família, coitados dos médicos que não sabem curar  e que nada mais são que bonecos que só sabem remediar com medicamentos  que fazem enriquecer a indústria farmaceutica, coitadinhos daqueles que estão presos em casa inibidos de destilar o seu ódio pelas ruas, praias e discotecas, coitadinhos dos velhinhos que já vivem vidas miseráveis cheios de doenças e dores a morrerem, coitadinha da economia que está a afetar os lobbys do petróleo, dos grandes capitalistas e dos seus escravos, coitadinhos dos políticos que parecem baratas tontas a tentar encontrar soluções para apagar o fogo com panos esfarrapados de modelos e medidas económicas e políticas obsoletas.

Deveria ter compaixão por estas probres gentes vítimas deste terrível vírus, mas  sinceramente não tenho, o que me deixa com algum peso na consciência por estar tão feliz por isto tudo estar a acontecer, não consigo controlar a gratidão que sinto por ver a Babilónia a ruir e a alegria da perspectiva da sua queda, da queda da demagogia, da mentira, da ganância, da inconsciência, da violência, da injustiça, do materialismo.

E estou a adorar que os estúpidos líderes dos EUA e Brasil tenham decidido não parar, que bom, é da maneira que vai ser feita uma limpeza profunda de gente estúpida que destroi a Natureza e que não acrescenta nada à construção de uma nova Terra.

Que me perdoem pela minha alegria, que me perdoem a minha ingénua esperança de que é agora que a humanidade vai acordar para a vida.

E oro todos os dias para sejam os fins dos tempos desta civilização doente e decadente e que depois da queda renasça uma nova comunidade de humanos mais solidários, com uma economia sustentável, com um sistema de ensino que realmente estimule o conhecimento, com famílias felizes e coesas e uma sociedade mais amorosa.

Posso estar a delirar, mas não consigo evitar sentir este doce delírio.