18 dezembro 2020

Dos tempos do encontro entre os gigantes

 A Vida é complexa e simples, criativa, abundante e livre. 

Os animais não têm leis nem governos, há uma espécie de organização natural em que todos sabem fazer o que é certo para não destruir a sua fonte de recursos, 

os ventos não têm ministérios de ensino, porque viajam dando liberdade à sua curiosidade, 

os rios não casam, unem-se e vão juntos em direcção ao mar, 

os mares não têm hospitais pois o sal previne as doenças, 

as árvores não precisam de bancos, contratos e espaços comerciais, porque toda a riqueza que produzem é distribuída por todos que precisam dos seus frutos, abrigo e sombra, 

as nuvens não são exércitos armados, apenas carregam nutrientes e água para nutrir todos os que vivem na terra , 

os lagos não dão as notícias, apenas refletem 

e o sol não tem uma empresa para gerir o sistema solar, pois a sua liderança inspira os planetas a seguirem-no numa dança perfeita através do espaço. 

A vida Humana é complicada, melodramática, violenta, obcecada pela verdade e cheia de prisões legais e mentais.

Que estranhos somos...

Ou estúpidos mesmo? 

16 agosto 2020

Queria ser um cão

Certo amigo disse-me: “Epá, queria ser um cão”

Isto porque me contava que o seu cão teve um problema e levou-o a uma clínica tão impressinante, que em 70 anos de vida nunca tinha visto um hospital para pessoas com aquelas soberbas condições físicas e humanas.

Fiquei a refletir por uns dias sobre o assunto.

E vagueei sobre a vida daquelas pessoas que perderam a fé nos outros (embora quem perde a fé nos outros, perde também a fé em si) e dedica-se aos animais, sendo o mais adorado os da espécie canina, sempre disponível para todos os caprichos humanos, activos, engraçados e tão dependentes que até dá gosto ter a tal âncora que seus donos tanto precisam. 

Também já tive muitos cães, e adoro cães, mas acho estranha esta forma moderna de se relacionar com eles, mais parece uma dependência que uma relação de partilha de amor livre.

Depois, os meus pensamentos voaram, incrível o que os pensamentos podem fazer,  e sobrevoaram sobre a indústria à volta dos animais de estimação das pessoas que vivem nas cidades, desde spas e hotéis até comidas especiais e roupinhas. 

E depois comecei a tripar quando me lembrei que estas mesmas caridosas pessoas, que dizem amar os animais, comem carne de animais que levaram uma vida de dor, exploração, solidão e medo. Sem falar dos antibióticos, hormonas de crescimento e mais uns pozinhos de perlimpimpim produzidos nos laboratórios da senhora poderosa indústria farmaceutica, para que a meta do lucro seja alcançada, e que é ingerida por aqueles que mastigam as suas carnes doentes.  

E já ia eu lançada na montanha russa de emoções que os animais humanos me provocam, um mix de desprezo e compaixão, incredulidade e susto, desgosto e desapontamento e assim por diante, que tive que correr para aqui e vomitar toda a minha má disposição que estes meus pensamentos me provocaram.

Até eu queria ser um cão, não para receber atenção, mas para me livrar do pensar. 


07 agosto 2020

Fotografias

Cheguei eu, menina da linha de Cascais, àquela aldeia do interior das Beiras, que parecia ter ficado atrasada no tempo. 

A calçada de pedra da minha rua rugia quando passava a carroça com o boi do Sr Zé, que cheirava rapé.  

O edifício da escola era ainda daqueles do Estado Novo e os seus professores rígidos da idade que emperra os ossos, mas também rígidos de mente. 

Aquela escola cheia de crianças da aldeia foi onde se deu a contaminação. 

Os meus belos cabelos louros ficaram pejados de piolhos. 

A minha mãe, aflita com tamanha invasão de parasitas, não foi de modos, aplicou logo uma medida radical. Rapou-me o cabelo. Lembro-me de andar com um lenço, pois faziam troça de mim.

Hoje encontrei uma fotografia do primeiro verão, depois do acontecimento, em que o meu cabelo já estava mais ou menos composto. Comia alegre um choco com tinta.

Incrível como as fotografias nos fazem viajar no tempo.

03 maio 2020

Corona meu amor

Estão todos focados no medo, na crise económica, que não conseguem ver que este vírus é uma oportunidade para a humanidade fazer mudanças profundas e significativas nos seus paradigmas sociais, económicos, familiares, pessoais e, principalmente, na forma como cuidam da Natureza.

De tão entorpecidos que estão, não aproveitam esta paragem para refletir sobre o que realmente importa, sabem lá o que importa, em vez disso, reclamam, descarregam as suas frustrações nas redes sociais, enchem-se de papel higiénico, de comida e bebida de plástico, deleitam-se na melancolia e nem tiram o pijama, alimentam o drama que os media tanto gostam de espalhar, a desgraça, a dor, o vitimismo, coitadinhos de nós, que crise nunca vista na história.
Assumir a responsabilidade pela saúde frágil que têm, provocada por uma vida de má alimentação, poluição, exploração dos animais, vidas sem sentido centradas em egos fúteis, stressadas a produzir e a consumir como se não houvesse amanhã  claro que não, impensável, a culpa é do vírus mau.  Somos todos vítimas inocentes.

E lamentam, que desgraça,  coitadinhos dos probrezinhos que são reflexo do modelo económico injusto e opressor, coitadinhas das famílias que têm que aturar os filhos que nem sabem bem porque os têm, coitadinhos dos maridos que já não podem ver as mulheres que julgavam amar para toda a vida, coitadinhos dos professores assoberbados por um sistema educacional altamente burocrático e limitador do conhecimento, coitadinhos dos pais trabalhadores que não conseguem gerir o trabalho em casa com a família, coitados dos médicos que não sabem curar  e que nada mais são que bonecos que só sabem remediar com medicamentos  que fazem enriquecer a indústria farmaceutica, coitadinhos daqueles que estão presos em casa inibidos de destilar o seu ódio pelas ruas, praias e discotecas, coitadinhos dos velhinhos que já vivem vidas miseráveis cheios de doenças e dores a morrerem, coitadinha da economia que está a afetar os lobbys do petróleo, dos grandes capitalistas e dos seus escravos, coitadinhos dos políticos que parecem baratas tontas a tentar encontrar soluções para apagar o fogo com panos esfarrapados de modelos e medidas económicas e políticas obsoletas.

Deveria ter compaixão por estas probres gentes vítimas deste terrível vírus, mas  sinceramente não tenho, o que me deixa com algum peso na consciência por estar tão feliz por isto tudo estar a acontecer, não consigo controlar a gratidão que sinto por ver a Babilónia a ruir e a alegria da perspectiva da sua queda, da queda da demagogia, da mentira, da ganância, da inconsciência, da violência, da injustiça, do materialismo.

E estou a adorar que os estúpidos líderes dos EUA e Brasil tenham decidido não parar, que bom, é da maneira que vai ser feita uma limpeza profunda de gente estúpida que destroi a Natureza e que não acrescenta nada à construção de uma nova Terra.

Que me perdoem pela minha alegria, que me perdoem a minha ingénua esperança de que é agora que a humanidade vai acordar para a vida.

E oro todos os dias para sejam os fins dos tempos desta civilização doente e decadente e que depois da queda renasça uma nova comunidade de humanos mais solidários, com uma economia sustentável, com um sistema de ensino que realmente estimule o conhecimento, com famílias felizes e coesas e uma sociedade mais amorosa.

Posso estar a delirar, mas não consigo evitar sentir este doce delírio.


26 março 2020

Corona meu amor



É tão triste que a humanidade tenha de ser forçada à mundança com tanta dor.
Sadomasoquistas do c*********



26 fevereiro 2020

O primeiro passeio cyber do ano


Tenho uma tendência para navegar fora do mainstream, é por isso que este meu blogue é quase invisível, e isso é que é interessante, na era da comunicação, é tanta a informação que ficamos perdidos na net, e aqueles que não são apanhados na rede, ficam assim por aí sem ataques nem fugas, a observar sem serem observados.

É como estar aqui a escrever para mim, onde tudo é possível, umas vezes ejaculo de alegria, outras vomito de dor, e quando rebolo na lama da parvoíce? Ou deleito na alcofa da ironia?

Ninguém me vê.

Este reduto cibernético público ínvisível é um recanto acolhedor das minhas divagações, marcos, memórias e reflexões, não fosse este lugar um diário do Romeiro, aquele que regista a caminhada pelos tempos, lentos e rápidos, do passado, do futuro, das ilusões e das criações mirabulantes da mente.

A lama, a água cristalina, a montanha e o vento, o sabor do café que não consigo deixar de tomar todas as manhãs.

A fuga do real, qual real? O que é real?

O dia a dia que os humanos inventaram, máquinas de produção.
E porque não fazemos máquinas e passamos a ter tempo para usufruir do nós dispersos no tempo, sem a pressão dos ponteiros da competição e o tic-tac da produtividade.
Lentamente, também.
E depois depressa, mas ter tempo para parar, ir parando devagar.

É o que a Natureza me tem mostrado. Há tempos calmos, com noites longas e frio que convida a ficar dentro, e noites curtas e dias quentes que empurram para as águas, a noite e as viagens.

A Primavera está a começar.

Nem tinha reparado que é o primeiro post  que escrevo, neste ano do Rato Metal.

Um ano de inícios.


Adoro inícios!