“Procurando descobrir ou determinar quais as
relações entre ciência e filosofia, estamos jogando, ou vendo jogar, à cabra
cega, coisa de meninos transferida para gente grande; e com isto quero dizer o
seguinte: que estragamos o jogo, porque o julgamos realidade; joga menino, como
se fosse jogo real, mas sabe que o não é; nós, e só às vezes, suspeitamos que o
jogo não é real, mas ocultamo-lo, porque nisso vão os nossos empregos e
receamos que no futuro não possamos viver sem geladeiras; sobretudo receamos
confrontar-nos com a ideia de que a ciência e a filosofia são apenas produtos
de um mundo de acção, respostas do universo a uma pergunta dirigida e a que não
poderia dar outra resposta, porque lhe perguntamos, que é que eu posso fazer
contigo, mundo?, quando apenas nos competia viver com ele, mundo.
Receamos dar-nos ao viver em que, em lugar de procurar a verdade a saibamos improcurável e incontrolável, excepto se a formos; em que em lugar de perguntarmos se alguma coisa é, nos limitemos a ser; (...) em que consideremos que o verdadeiro Sócrates, verdadeiro como homem, não como grego de seu século, era o do daimon; em que o verdadeiro Descartes era o da romaria e o verdadeiro Espinosa o pulidor de lentes e o verdadeiro Einstein o que morre no desespero de perceber que toda a ciência acaba numa equação e que toda a equação é apenas uma pré-verdade”.
Receamos dar-nos ao viver em que, em lugar de procurar a verdade a saibamos improcurável e incontrolável, excepto se a formos; em que em lugar de perguntarmos se alguma coisa é, nos limitemos a ser; (...) em que consideremos que o verdadeiro Sócrates, verdadeiro como homem, não como grego de seu século, era o do daimon; em que o verdadeiro Descartes era o da romaria e o verdadeiro Espinosa o pulidor de lentes e o verdadeiro Einstein o que morre no desespero de perceber que toda a ciência acaba numa equação e que toda a equação é apenas uma pré-verdade”.
Agostinho da Silva, Aqui falta
Saber, Engenho e Arte, 1965
Sem comentários:
Enviar um comentário