31 janeiro 2010

“ET go home”

O meu mundo é o Universo onde flutua o planeta azul - Terra.

O Planeta Terra é a minha Pátria.

Não tenho nacionalidade, tenho identidade.

30 janeiro 2010

Coisas boas de Portugal – Ilha do Farol

Poucos tiveram o privilégio de conhecer a Ilha do Farol (Sta Maria). Eu tive.

Já imaginaram um Algarve com uma praia de 7 km virada a Sul, de água cristalina e quente e pouca gente? Um local onde só se chega de barco, onde não há hotéis, pensões ou parque de campismo. Um local sem carros. Numa língua de areia onde nada se pode construir. Com pores-do-sol de arrepiar, vistos do pontão. Com dois restaurantes onde se servem pratos típicos da cozinha algarvia. Num deles, o peixe era pescado pelo próprio dono.

E á noite? O bar de madeira da praia com música boa. As noites estreladas ou a lua cheia a iluminar os corpos nus com água salgada. Na lua nova os mergulhos fluorescentes (plâncton) do lado da ria. Dormir na praia em sacos de cama e adormecer com o murmúrio das ondas. Assar um polvo acabadinho de apanhar numa fogueira rodeada de amigos a cantar.

E o bronze? Devia ser por passar vários dias só a tomar banhos de mar, o sal e o sol adensam o castanho.

Inúmeras vezes, os felizardos que tinham uma casa por lá convidavam-me a ficar, principalmente no Inverno, durante as passagens de ano, os Carnavais, as pontes dos feriados de Dezembro.

Há 10 anos que lá não vou, mas tenho conhecimento que continua a ser um reduto, cujo único estrago da modernidade foi a invasão da Direcção Geral das Pescas e da ASAE, porque o Zé já não pode pescar, tem que ir á lota para comprar peixe certificado para o seu restaurante.

Coisas boas de Portugal - Bidé

Só os há por cá. De resto, não tenho visto muitos bidés. Na Bélgica não os há, em África, só em alguns hotéis, nos EUA, poucos encontrei. No Japão ou Coreia, nem sombra. Poucos vi em Inglaterra, França e Alemanha, parece que os usaram e agora já não tanto. No Brasil estão a aboli-los, mas pelo menos deram uma alternativa, uma mangueirinha com chuveiro e fazem tudo na retrete (eles dizem vaso). Que povo tão criativo! Deve ser da mistura.

Tenho pelo bidé grande admiração, sinceramente, sem pingo de ironia. O Bidé é, por um lado, um objecto útil e prático, por outro, um objecto com o qual tenho uma ligação manifestamente erótica.
Do meu ponto de vista, útil e prático porque dispensa tomar banho todos os dias.
Tomar banho todos os dias só quando se justifica, com o calor do Verão, e ainda se fosse atleta ou alguém que praticasse trabalho braçal.

A água cheia de cloro estraga a pele, no Inverno tira-nos a “cera” que protege contra o frio, desperdiça-se água, polui-se o ambiente com os produtos de higiene pessoal e com o aquecimento das águas. Enfim, não compensa. Acabei de me lembrar da moda das casas modernas terem banheira de hidromassagem e/ou chuveiros com massagens. Muito lindo, quantas vezes irão eles utiliza-la/os, se andam tão ocupados a trabalhar para pagar os seus luxos inúteis?

Mas já me estou a afastar do tema. Estava eu a defender que o bidé (juntamente com o lavatório) consegue garantir uma boa manutenção da higiene pessoal. E o banho diário é dispensável.

Erótico porquê?

Não posso precisar as datas, mas havia umas versões antigas de bidés que eram arredondadas, pareciam um violino, uma forma de mulher. A imagem da mulher sentada no bidé de rabo arrebitado e a água a correr pelo seu clitóris. Para mim é uma imagem erótica. Dá-me tesão, não sei porquê…

Sempre que chego a Portugal fico contente por reencontrar um bidé.

25 janeiro 2010

Eduardo E Mônica

"Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?"



Legião Urbana

Composição: Renato Russo

24 janeiro 2010

“De pequenino é que se torce o pepino”

Tive uma mãe génio e como quase todos os génios, não se adaptava ao mundo. Entre outras coisas, não acreditava no sistema educacional. Dizia que a escola não ensinava para a vida, apenas formava seres condicionados a padrões impostos para melhor poderem ser manipulados.
Por isso, com muitas lutas familiares, só fui para a escola quando os meus avós me inscreveram e eu, com sede de aprender, assumi a responsabilidade de ir. Tirou-me da escola aos 12 anos. Aos 16, já podia estudar á noite. Trabalhava o dia inteiro a ansiar a altura de ir para as aulas. E era um aluno exemplar, bebia toda a matéria e nem precisava de estudar em casa (nem podia, porque tinha outras responsabilidades). Depois tirou-me da escola novamente, só porque estava a ler um livro e não tinha ido fazer o que me pediu logo de seguida. Tive que esperar completar os 21 anos para poder sair de casa e só, trabalhei para pagar as necessidades da vida e os meus estudos. Comecei o 10º ano aos 22. Entrei á primeira na Universidade pública com 25 anos. Não foi a minha primeira opção porque o curso que queria só existia num Instituto privado e eu não ganhava o que chegasse para o pagar. Mas “Deus compadeceu-se" e 3 anos mais tarde, uma tia pagou-me as mensalidades do curso que mais gostava. Aos 34 tinha o canudo e um vazio. Cheguei á conclusão que afinal a minha mãe tinha razão. A escola realmente não ensina para a vida. O sistema de ensino forma cordeiros sem autonomia, não ensina a pensar, não dá liberdade para criar.

Dou pontapés na gramática e faço contas devagar. Não sou uma pessoa erudita, não li quase livro nenhum. Não tenho uma carreira de sucesso, nem sou especialista a nada. Também não tenho preparação para viver nesta sociedade, pois o que a minha mãe me ensinou de nada me serve. Ser honesto, cívico, integro, leal e bondoso não é prática corrente. Seguir os ensinamentos de Jesus não é coerente. E para piorar não herdei a genialidade. E sou considerado um ser anormal por não ter tido um “percurso normal”.

Ave rara? Já não me importo de o ser.

A minha mãe já não está neste mundo, mas se tivesse, dir-lhe-ia OBRIGADO.

21 janeiro 2010

Amor e Ódio

É o que sinto por este país.
Amor por esta terra linda, terra plantada virada para o oceano a contemplar o pôr-do-sol. Do verde Minho e das planícies douradas. O cheiro a pinheiros, a maresia, a alfarroba, a montanha com musgo. A comida, que delícia, o peixe assado com batatas e azeite. O vinho e o pão alentejano. A broa e a marmelada. O caldo verde. Os pastéis de nata.
E os meus amigos, os poetas e a RTP 2, o melhor canal do mundo (do mundo que conheço). A guitarra portuguesa, a história dos descobrimentos, a revolução dos cravos.

De resto, só ódio, ódio à mediocridade. Um povo que não comunica embora tenha os melhores telemóveis e internet. Dum povo que se comporta como o velho do Restelo, com escárnio o mal dizer. Provinciano. um povo que dá valor ao que brilha, que avalia por aquilo que temos e não por aquilo que somos. Povo sem ética, tudo a sacar, como que herança do saque das ricas colónias. Povo invejoso e mesquinho. Políticos de merda, corruptos como no 3º mundo, com discursos demagogos de democracia, o tráfego de influências, as cunhas e os tachos. Uma justiça lenta e injusta. Uma economia do crédito e do mau pagador. Gentes que não dão valor aos seus artistas, que para não morrerem de fome têm que vender a sua alma. E aqueles que não a vendem, morrem na obscuridade. Não fossem os brasileiros e não saberíamos quem era Fernando Pessoa, só para dar um exemplo.

Amo o meu país porque nasci aqui, odeio o meu país porque não me sinto em casa. Vagueio como um filho bastardo não assumido, renegado. Choro lágrimas de sal que jamais fertilizarão sementes.

Ó Portugal! Que cante o galo da nova aurora, pois as colónias já não são nossas e D. Sebastião não voltará para nos salvar.

03 janeiro 2010

“Os incomodados que se mudem?”

Cem anos depois, metade do povo português continua …”na mesma estagnada ignorância, na mesma sofredora passividade. Para ele, a liberdade, todos os direitos do homem, continuavam a consubstanciar-se nesta palavra – obedecer. Deram-lhe liberdade, oh! Fartaram-no de liberdade. Tão-somente não o ensinaram a estima-la e defende-la.”

O que fizeram com a liberdade do 25 Abril?
“…a unidade dos indivíduos colectivos depende da estreita sinergia entre os seus elementos. Em Portugal essa sinergia não existe: os elementos da sociedade portuguesa estão distanciados, secularmente distanciados:”
“O mal da sociedade portuguesa é apenas este – a desagregação da personalidade colectiva, o sentimento de interesse nacional abafado na confusão caótica dos sentimentos de interesse individual…a nossa vida política, económica e moral, não tem sido senão uma série lastimosa de actos de egoísmo individual impondo-se despoticamente ao egoísmo colectivo, ou interesse da nação, e subjugando-o.”
“Por seu lado, a minoria inteligente e honesta, umas vezes por credulidade e boa-fé, outras por desmazelo preguiçoso, ia-se deixando iludir por uma ficção de organização civilizada.”
“ Essa harmonia que parece reinar na engrenagem social portuguesa é uma harmonia toda fictícia. A nossa organização social é uma organização mentirosa, sem unidade, uma ficção de engrenagem civilizada, encobrindo a torpeza dum parasitismo desenfreado e imprudente.”

Manuel Laranjeira escreveu estas considerações em “O Pessimismo Nacional” há cerca de 100 anos.

Falava em 4/5 da população analfabeta. De uma pequena “... elite pensadora e civilizada” e uma outra “parte da sociedade portuguesa, constituída por quadrilhas messiânicas,”… que “… instalava-se parasitariamente no corpo da nação, aproveitando-se da obediência cega, animal, da maioria ignorante, domada e escrava, e ao mesmo tempo da passividade e desleixo nessa minoria activa”.
Cem anos passados e a sociedade portuguesa continua tricéfala, com uma ligeira mudança nos números. Podemos dizer que a composição social actual é composta por 60% de ignorantes (mesmo com cursos superiores), 30% “esclarecidos” e 7% de uma classe corrupta de braços dados com a classe política, igualmente corrupta. Os outros 3% deixo para as excepções.

Só que os 7% controlam as máquinas capitalista e do Estado Soberano e usam mais de 80% do capital e património. E para piorar, este dois compactuam e beneficiam-se um ao outro. São muito amigos.


Continua a ficção de organização civilizada, agora, engenhosamente assente na ilusão de segurança, dos créditos e seguros, que escravizam o povo e fomentam a cobiça. A Igreja caquéctica é substituída pelas catedrais do futebol e pelas produções novelescas de Hollywood e da rede Globo.

Entorpecidos que estão, a viver uma vida centrada no ter, em vez do ser. No ter individual, em vez do ser colectivo.

Por debaixo do véu da democracia, Portugal pouco evoluiu nos últimos cem anos.

Os factos confirmam.

“Quanto à minoria ilustrada, como não há-de ela ser pessimista, se se sente isolada, inutilizada, nesta atmosfera de ignorância? Se sente triunfar apenas a escória mental e moral da raça portuguesa?”

Sendo parte dessa minoria inteligente, honesta e de boa-fé (e sem capital), o que me mói, o que realmente me mói, é a questão de sempre: o que posso fazer para contribuir para a mudança deste cenário tétrico?

Claro que não tenho a ilusão de mudar a sociedade portuguesa, mas plantar, nestas terras lusitanas, umas sementes de clarividência, discernimento, empreendedorismo, atitude positiva, autonomia, responsabilidade e amor.

Senão, vou mesmo ter que emigrar… para algum lugar em que possa ter a oportunidade de ser útil.