Andamos nós à procura do amor lá fora, num objecto de
idolatração, um outro idealizado, o motor do desejo. Mas com o passar dos anos
vão-se aprendendo umas coisas, o suficiente para perceber que o medo de amar só
existe quando não há amor em nós, por isso é que buscamos na afeição pelo outro
a ilusão de segurança, o desejo de se preencher o vazio interior, a companhia
que afugente a nossa triste solidão. Não, o caminho não é por aí, porque se
dependermos do outro como condição para amar, então vamos sempre ter medo,
porque o outro não está em nós, é um ser independente e um dia pode ir e não
voltar. Aí o pânico, só de pensar que isso poderá acontecer, viver no tormento,
num hoje intenso de dúvida e com medo do amanhã...
Depois de anos a deambular pelas veredas das relações
amorosas, tudo se faz claro. O amor não está fora de nós. É uma paz
inexplicável quando o outro deixa de ser condição, quando deixa de ser objecto
de desejo possessivo e passa a ser um objecto de partilha, fusão e união do
amor que já existe em nós. Enquanto nos sentirmos sós, com desejo intenso de
amar alguém para preencher o vazio interior, jamais iremos amar na plenitude.
Viveremos no ideal, num ideal que entusiasma quando certas caraterísticas do
outro parecem preencher os nossos buracos negros do medo. Projectamos no outro
a responsabilidade de nos fazer felizes.
O corpo reaje aos estímulos externos, a essência da alma
não. Não é de um copo de vinho, um belo poema ou de um beijo que alma se
alimenta. Isso são coisas dos mundos das emoções e das ideias. E pobres daqueles
que vivem só nesses dois mundos, num emaranhado de sentidos que fomentam o
idealismo de sentir ainda mais, na busca ansiosa de mais satisfação sempre dependente
da intensidade da emoção. E quando os estímulos externos se acabam ou se vão,
vem a desilusão porque o outro não correspondeu às expectativas idealizadas e
depois a insatisfação, o vazio e mais medo, medo de voltar a procurar um novo
objecto, permanecendo a fome e a sede do verdadeiro amor, aquele amor sereno e
confiante que não dá medo. E há humanos que levam a vida a viver assim, também
eu vivi anos assim, nessa busca incessante de sensações, de fortes emoções e na
idealização estética de um grande amor. Se andamos ansiosos e com medo é porque
ainda não percebemos como isto do amor funciona. Quando há luta entre a razão e a emoção, numa
dualidade em conflito, decerto que não será esse o caminho do amor, porque falta-lhe a
fé que vem da alma. Afinal, não somos somente um corpo que sente e pensa, somos
emoção, razão e alma. E quando as três estão presentes não há dualidade, não há
medo, há amor. E a partilha com o outro é simplesmente a manifestação desse
amor. E o simples é belo. E o belo não mete medo.
2 comentários:
"Two wounds together cannot help each other to be healed."
É isso aí, Osho, o guru do amor que contribuiu para a criação deste post inspirado num trecho do seu livro "Alegria".
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