07 maio 2012

A tríade do Amor


Andamos nós à procura do amor lá fora, num objecto de idolatração, um outro idealizado, o motor do desejo. Mas com o passar dos anos vão-se aprendendo umas coisas, o suficiente para perceber que o medo de amar só existe quando não há amor em nós, por isso é que buscamos na afeição pelo outro a ilusão de segurança, o desejo de se preencher o vazio interior, a companhia que afugente a nossa triste solidão. Não, o caminho não é por aí, porque se dependermos do outro como condição para amar, então vamos sempre ter medo, porque o outro não está em nós, é um ser independente e um dia pode ir e não voltar. Aí o pânico, só de pensar que isso poderá acontecer, viver no tormento, num hoje intenso de dúvida e com medo do amanhã...

Depois de anos a deambular pelas veredas das relações amorosas, tudo se faz claro. O amor não está fora de nós. É uma paz inexplicável quando o outro deixa de ser condição, quando deixa de ser objecto de desejo possessivo e passa a ser um objecto de partilha, fusão e união do amor que já existe em nós. Enquanto nos sentirmos sós, com desejo intenso de amar alguém para preencher o vazio interior, jamais iremos amar na plenitude. Viveremos no ideal, num ideal que entusiasma quando certas caraterísticas do outro parecem preencher os nossos buracos negros do medo. Projectamos no outro a responsabilidade de nos fazer felizes.

O corpo reaje aos estímulos externos, a essência da alma não. Não é de um copo de vinho, um belo poema ou de um beijo que alma se alimenta. Isso são coisas dos mundos das emoções e das ideias. E pobres daqueles que vivem só nesses dois mundos, num emaranhado de sentidos que fomentam o idealismo de sentir ainda mais, na busca ansiosa de mais satisfação sempre dependente da intensidade da emoção. E quando os estímulos externos se acabam ou se vão, vem a desilusão porque o outro não correspondeu às expectativas idealizadas e depois a insatisfação, o vazio e mais medo, medo de voltar a procurar um novo objecto, permanecendo a fome e a sede do verdadeiro amor, aquele amor sereno e confiante que não dá medo. E há humanos que levam a vida a viver assim, também eu vivi anos assim, nessa busca incessante de sensações, de fortes emoções e na idealização estética de um grande amor. Se andamos ansiosos e com medo é porque ainda não percebemos como isto do amor funciona.  Quando há luta entre a razão e a emoção, numa dualidade em conflito, decerto que não será esse o caminho do amor, porque falta-lhe a fé que vem da alma. Afinal, não somos somente um corpo que sente e pensa, somos emoção, razão e alma. E quando as três estão presentes não há dualidade, não há medo, há amor. E a partilha com o outro é simplesmente a manifestação desse amor. E o simples é belo. E o belo não mete medo.

2 comentários:

Anónimo disse...

"Two wounds together cannot help each other to be healed."

Romeiro disse...

É isso aí, Osho, o guru do amor que contribuiu para a criação deste post inspirado num trecho do seu livro "Alegria".