A infinitude do mistério de se ser, ser-se algo que não se conhece. O abismo do ser num contexto de não saber o que se é, ou de onde se é, ou para onde se vai.
Nós, o único ponto de referência entre os dois infinitos. O abismo exterior, a imensidão do cosmos, uma distância espácio-temporal inconcebível, a esmagadora fatalidade do devir, o constante movimento que nos empurra para o existir, existir na cegueira … o imenso abismo interior, a caixa de surpresas, o poço sem fundo, o labirinto dos pensamentos nascidos da ligação com um corpo que caminha para a morte… as prisões do espírito, as tendências da razão em luta com a emoção, guerras instituídas. O medo de avançar no abismo das nossas almas, tão misteriosas e imensas como o firmamento cheio de planetas e estrelas desconhecidas.
Olho para dentro de mim e vejo a galáxia, um céu escuro, quase negro com muitos pontinhos a brilhar, longínquos. Sinto um vento a vaguear, traz pensamentos movediços, sem nexo e direcção a despentear toda a minha alma…o estímulo da minha existência, o fogo que me mantém, ser-se tão pequeno e tão grande. Uma pequena partícula que em si tem tudo o que tudo tem, tudo o que o mistério tem…
1997
Vaga de notas
Vulgata, aproximação de ser “vulvo”. O som balança os tímpanos, timbalóides, que invadem os ouvidos do coração, com um cenário cheio de imagens sem sentido que dizem tudo. Até o silêncio de fundo está impregnado de notas oblíquas que atravessam os tecidos fibrosos do ser sensorial. Visão cheia de meandros clarificados pelo fogo que nasce na imagem acesa da mente, mente que vaga numa vaga de notas…
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