14 fevereiro 2012

O nariz vê o que os olhos não conseguem

Estava num elevador e quase vomitei por causa do excesso de perfume que uma senhora usava. Esta ocorrência fez-me lembrar um episódio em que o que vi não correspondeu ao que cheirei. Era o partido mais cobiçado da cidade, e realmente era um Adónis, espadaúdo, que fazia suspirar as garotas quando tirava a t-shirt suada depois do jogo de futebol, o seu sorriso com uns belos dentes alvos que sobressaiam por causa da sua pele morena, os seus olhos verdes, os cabelos negros… E demonstrou interesse em mim, esperava-me depois das aulas para me oferecer flores, lançava-me olhares ternurentos. Mas quando me veio beijar… arrr, o seu cheiro… fez-me repudia-lo para sua surpresa e alegria de todas as pretendentes roídas de inveja.

É claro o poder dos cheiros nos nossos processos psíquicos, no desenvolvimento de sensações e emoções que acabam armazenadas na memória. E como é forte a memória de um cheiro.

Os cheiros são “criaturas” fantásticas, não se vêem, mas sentem-se de tal forma que influenciam drasticamente os processos químicos do nosso corpo. O olfacto é o sentido que mais está ligado ao instinto e aos processos inconscientes. Estudos recentes, para além de outros factos, desvendam ligações directas, mas inconscientes, dos odores com as escolhas de parceiros, provando que o olfacto é o sentido com maior impacto nessas escolhas.

Gosto de sentir odores agradáveis, mas o perfume que disfarça o cheiro natural do corpo é como se fosse uma máscara. As pessoas andam perfumadas para disfarçar o seu cheiro, que por sua vez confunde quem as cheira.

Por isso, questiono-me, serão os perfumes responsáveis pelas más escolhas de parceiros?

Será que o personagem do livro “O Perfume” é uma caricatura exacerbada para ilustrar a ilusão que os perfumes podem causar?

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