Não foram os orgasmos simultâneos que tivemos juntos, não foram os teus beijos que me faziam flutuar, não foi o teu olhar que me estremecia, nada disto me marcou tão profundamente como as tuas dissertações.
Foram aquelas noites em que depois do jantar nos deitávamos nas espreguiçadeiras na varanda a conversar. Noites quentes com a brisa a transportar as nossas palavras cheias de emoção sobre filosofia e política, os nossos temas preferidos. As estrelas eram o limite para os nossos devaneios intelectuais que nunca nos levavam a conclusões, mas traziam-nos sempre novas questões. As diferentes perspectivas partilhadas com entusiasmo, sem desejarmos impor a nossa (limitada) razão. E a tua característica para discordar, questionar tudo de uma forma às vezes tão derrotista, de homem cheio de esperança mas de fraca fé, em vez de me irritar, só me estimulava mais e mais.
As roupas e penteados saem de moda, as músicas são outras, as rugas invadem o meu rosto, mas as nossas partilhas - os serões a filosofar sobre a vida e a sociedade - essas ecoam na minha alma como o tesouro mais importante da minha relação contigo.
E amo-te por isso, porque manténs o meu espírito entusiasmado, o meu intelecto acordado, não permitindo que definhe por causa da loucura do mundo em que vivemos, nem que adoeça contaminado pela futilidade corrosiva que me espreita sorrateira em todas as esquinas.
Mesmo que já não tenha o teu corpo a meu lado.
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