Num acto de esperança desesperada, finge que está na prisão, é a ilusão que vive para continuar firme a ansiar o dia em que a sua pena terminará. Se é inocente, não o sabe. Se é culpada, não sabe de quê.
Firme, não desesperar, calma, está quase, palavras a ressoar repetidamente, vezes sem conta, para não soçobrar. Durante o dia, distrai-se a trabalhar. Á noite, ora sóbria acordada no vazio da noite a beber água com sal, ora entorpecida, refugiando-se depois no sono que traz cansaço ao acordar.
As vozes dos anjos dão-lhe alento.
Os sorrisos da inocência fazem-na acreditar.
Mas há dias de interminável penar. Olha-se no espelho, com papos nos olhos, mais um dia, mais outro dia e outro, lentamente a sangrar. Faça sol, faça chuva está curvada perante o seu senhor, o seu dono, aquele que sabe o que é bom para ela, que a trata como uma cadela adorada, acariciada, mimada. E ela uiva à lua cheia e chora na lua nova.
Golpe do destino? Ia a passar na rua e caiu-lhe um piano em cima? Não. Ela escolheu aquele caminho e já não havia volta. Tinha chegado até aqui, ia continuar, custasse o que custasse, porque por mais oprimida e cega de sofrimento, continua nobremente convicta que vai chegar o dia em que voltará a ser livre.
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