24 setembro 2010

Vamos construir catedrais?

“Podemos responder à questão do trabalho com uma velha história do grande santo-rei Luís. Um dia, o rei Luís IX, São Luís de França, visitou as obras da catedral de Chartres, em reconstrução depois do incêndio de 1194, causado por um raio. O rei, passeando pela construção, ia perguntando a cada um o que estava a fazer. As respostas foram várias. Um carpinteiro afirmou-lhe que estava a fazer um dos bancos da nave central; um pedreiro lamentou-se que estava a trabalhar para ganhar a vida e dar de comer aos filhos; um escultor, apontando para um capitel a que dava os últimos retoques, explicou que estava a seguir as novas regras da arte gótica, criando uma linha decorativa revolucionária. Depois de perguntar a muita gente, e ter recebido respostas variadas, o rei encontrou, num canto escuro, um velhinho curvado varrendo aparas de madeira. Quando o rei lhe perguntou o que estava a fazer, o velho respondeu: - estou a construir uma catedral!

Quando nos perguntam pelo nosso trabalho podemos responder de muitas maneiras. E a resposta, qualquer que ela seja, é sempre muito importante e significativa. O nosso trabalho é uma parte essencial da nossa vida. Para alguns, o seu emprego é apenas uma tarefa. O trabalho é visto na sua simples forma operativa. E esta atitude tanto pode ser de um carpinteiro, que passa a vida a repetir os mesmo gestos, como de um gestor financeiro cuja tarefa concreta muda a cada instante. Trabalhos exteriores muito excitantes podem ser feitos rotineiramente por aqueles que apenas lhe entendem o mecanismo. Para outros, o trabalho é um mal necessário. Revoltados contra a sociedade ou meramente resignados com a natureza das coisas, muitos sentem que a profissão é algo que têm o dever de desempenhar. Uns acham-se com sorte por esse dever ser leve, outros bramam por ser duro. Mas para ambos é apenas um dever, como para o pedreiro da história.

Ainda para outros, a sua profissão é o local de realização pessoal. Vêem-se e revêem-se na função que, ou desempenham com gosto, ou anseiam por poder faze-lo. Sentem-se felizes e orgulhosos do que fazem, ou aspiram à felicidade ao emprego cobiçado. Todos conhecemos este tipo de trabalhadores, também aqui em todas as profissões. Lavradores, militares, operários, policias, escultores, tendo muita honra em ser o que são, ou esperança de o vir a ser, encontram no trabalho a razão da sua vida.

Finalmente há os que encontram no sentido da sua vida a razão do seu trabalho. São aqueles que põem tudo o que são em tudo o que fazem. Esses dedicam a sua vida a construir uma catedral, mesmo quando apenas estão a varrer aparas de madeira.”

In “A Economia de Deus” de João César das Neves

Que história maravilhosa! Trabalho desde tenra idade, fiz diversas coisas, tirei diferentes cursos. A sociedade, de certa forma, vê-me como um ser raro, que vibra tanto a varrer simples aparas de madeira como especialista em capitéis. Adoro trabalhar, e o que faz o trabalho ser um fardo, acontece somente quando os colegas ou patrões são umas bestas. Quando me perguntavam qual era a minha profissão, tinha dificuldade em responder. Mas depois desta história já sei o que dizer – construo catedrais!

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