A razão e o bom senso já manifestaram as suas conjecturam lógicas com intenção de demover a insensata emoção, ou sentimento, ou algo do género, do seu intento. Mas tal emoção não acatou os conselhos dados com tanta sapiência e amizade.
O concelho da racionalidade reuniu-se e, depois de longas dissertações, a sentença foi ditada: - Morte por asfixia. Antes que a esperança se torne erva daninha e o amor numa doença crónica.
Pazadas de racionalidade e sensatez cavaram a cova e já atiram com terra à criatura, ainda viva, coberta por um véu de eterna saudade daquilo que nunca chegou a viver.
E a razão hipócrita e o arrogante bom senso sabem que, embora cruel, foi a melhor coisa a fazer.
Mais tarde, dedicar-lhe-ão um memorial, porque morrer de amor é considerado belo.
30 dezembro 2011
17 dezembro 2011
A origem do Natal
A minha filha de 8 anos perguntou-me o que era o Natal.
-como assim? Perguntei eu.
-sim, porque existe o Natal. Quem inventou o Natal, o Pai Natal ou Jesus? – perguntou com firmeza.
Há altura para todas as coisas, e julgava que estava na altura de lhe dizer que o que permanece no tempo é o espírito de Natal e que as origens são uma mistura de realidade e imaginação.
Depois desta explicação, talvez vaga, não rogada, pergunta:
- Mas a turma do 4º ano está a fazer um trabalho sobre isto. Quem inventou o Natal, Jesus ou o Pai Natal?
Respondi:
- Meu amorzinho, antes de Jesus nascer, as pessoas comemoravam o Solstício de Inverno no dia 25 de Dezembro para pedir à natureza que abençoasse as sementes que tinham sido plantadas para que tivessem boas colheitas no Verão. Chamavam-se as festas pagãs. Depois de Jesus nascer, a Igreja Católica transformou as festas pagãs em festas Cristãs e o dia 25 de Dezembro passou a ser Natal, o dia para lembrar o nascimento de Jesus. Em relação ao Pai Natal, não se sabe muito bem se existiu e como era, mas reza a lenda que era um senhor muito querido, que vivia perto do pólo Norte, fazia brinquedos e dava às crianças nesta altura, como o Saint Nicklaus da Bélgica. O capitalismo veio e aproveitou a ideia do Pai Natal para manter o espírito de Natal, que é de partilhar, por isso é que agora dá-se muitas prendas, e também por isso existem muitos Pais Natais para que as crianças de todo o mundo fiquem felizes e para que os adultos nunca se esqueçam do espírito de Natal.
E ela remata:
- Então foi o espírito do amor que fez o Natal.
Minha filha querida, do meu coração…
-como assim? Perguntei eu.
-sim, porque existe o Natal. Quem inventou o Natal, o Pai Natal ou Jesus? – perguntou com firmeza.
Há altura para todas as coisas, e julgava que estava na altura de lhe dizer que o que permanece no tempo é o espírito de Natal e que as origens são uma mistura de realidade e imaginação.
Depois desta explicação, talvez vaga, não rogada, pergunta:
- Mas a turma do 4º ano está a fazer um trabalho sobre isto. Quem inventou o Natal, Jesus ou o Pai Natal?
Respondi:
- Meu amorzinho, antes de Jesus nascer, as pessoas comemoravam o Solstício de Inverno no dia 25 de Dezembro para pedir à natureza que abençoasse as sementes que tinham sido plantadas para que tivessem boas colheitas no Verão. Chamavam-se as festas pagãs. Depois de Jesus nascer, a Igreja Católica transformou as festas pagãs em festas Cristãs e o dia 25 de Dezembro passou a ser Natal, o dia para lembrar o nascimento de Jesus. Em relação ao Pai Natal, não se sabe muito bem se existiu e como era, mas reza a lenda que era um senhor muito querido, que vivia perto do pólo Norte, fazia brinquedos e dava às crianças nesta altura, como o Saint Nicklaus da Bélgica. O capitalismo veio e aproveitou a ideia do Pai Natal para manter o espírito de Natal, que é de partilhar, por isso é que agora dá-se muitas prendas, e também por isso existem muitos Pais Natais para que as crianças de todo o mundo fiquem felizes e para que os adultos nunca se esqueçam do espírito de Natal.
E ela remata:
- Então foi o espírito do amor que fez o Natal.
Minha filha querida, do meu coração…
12 dezembro 2011
F***-** o fugaz!
Actualmente são raras as uniões que duram mais de 10 anos. Nas relações modernas é normal acabar, começar, acabar, começar. Aliás, a maioria só se envolve fisicamente e nem começa e acaba nada. Este frenesim irrita-me. As relações renderam-se ao “sistema” do consumismo e os “bens” têm um prazo de validade encurtado.
Que merda! Apanharam-me na corrente. Tudo o que quero preservar escorre-se pelas mãos como se de água tratasse.
Depois de uma relação de 11 anos, e ao contrário do que seria de esperar, fatiga-me a perspectiva de ter que começar tudo de novo. A perspectiva de ter que passar novamente pela check list de aprovação e conseguir corresponder às expectativas do outro, expectativas sempre idealizadas e, por isso, falsas.
Que paradoxo brutal que me imponho. Não querer ficar e também não ter vontade de ir.
Mas como sou a fonte deste problema, que remédio terei eu senão resolve-lo.
Devagar, devagarinho, que me cansa tudo o que é fugaz.
Que merda! Apanharam-me na corrente. Tudo o que quero preservar escorre-se pelas mãos como se de água tratasse.
Depois de uma relação de 11 anos, e ao contrário do que seria de esperar, fatiga-me a perspectiva de ter que começar tudo de novo. A perspectiva de ter que passar novamente pela check list de aprovação e conseguir corresponder às expectativas do outro, expectativas sempre idealizadas e, por isso, falsas.
Que paradoxo brutal que me imponho. Não querer ficar e também não ter vontade de ir.
Mas como sou a fonte deste problema, que remédio terei eu senão resolve-lo.
Devagar, devagarinho, que me cansa tudo o que é fugaz.
Sobre as Afrodites
“É bem conhecido de todos nós que não há Afrodite sem Amor. Se houvesse, portanto, uma só Afrodite teríamos também um só Amor. Mas o facto é que há duas e, como tal, necessariamente dois Amores… Uma, a mais antiga e que não teve mãe, é filha do céu – e eis a Afrodite que designamos também de celeste; a outra, a mais recente, é filha de Zeus e de Dione – e eis a Afrodite a que chamamos popular…
…nenhum acto, considerado em si e por si mesmo, é belo ou vil… - beber, cantar, conversar…- nenhuma delas tem por si mesmas qualquer beleza. O que determina essa qualidade num acto é o seu modo de realização: se o realizamos de forma bela e digna, ele resulta belo; em caso contrário, vil. Assim acontece quando amamos: nem toda a espécie de amor é bela e digna de elogios, mas aquela que nos incita a amar com nobreza…
… E por indigno entendemos justamente esse amante popular, que prefere o amor do corpo ao amor da alma, e não guarda constância porque o objecto a que se prende não é também constante: logo ao passar a flor da juventude, objecto da sua paixão, «evola-se e desaparece»… Pelo contrário, aquele que ama alguém pela beleza do seu carácter, esse permanece fiel pela vida fora, porque se funde com o que é constante.”
Platão, O Banquete
…nenhum acto, considerado em si e por si mesmo, é belo ou vil… - beber, cantar, conversar…- nenhuma delas tem por si mesmas qualquer beleza. O que determina essa qualidade num acto é o seu modo de realização: se o realizamos de forma bela e digna, ele resulta belo; em caso contrário, vil. Assim acontece quando amamos: nem toda a espécie de amor é bela e digna de elogios, mas aquela que nos incita a amar com nobreza…
… E por indigno entendemos justamente esse amante popular, que prefere o amor do corpo ao amor da alma, e não guarda constância porque o objecto a que se prende não é também constante: logo ao passar a flor da juventude, objecto da sua paixão, «evola-se e desaparece»… Pelo contrário, aquele que ama alguém pela beleza do seu carácter, esse permanece fiel pela vida fora, porque se funde com o que é constante.”
Platão, O Banquete
09 dezembro 2011
Porto seguro
Sou estável. Por isso, posso dar-me ao luxo de provocar a instabilidade porque sei que nunca me vou perder, mas reencontrar.
06 dezembro 2011
"A Cidade e as Serras"
Difundo (quase) na íntegra um excelente ensaio que, tirando a qualidade da escrita e alguns factos que desconhecia, poderia ter sido escrito por mim. Há anos que faço reflexões sobre a importância da agricultura e das pescas, principalmente em Portugal. Há anos que me questiono porque é que os nossos governos abandonam os seus recursos naturais consecutivamente desde D. Dinis ou exploraram-nos inadequadamente. Há anos que quero voltar a viver no campo e contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento rural deste país.
Portanto, para mim, este ensaio nada me diz de novo, apenas reforça uma antiga convicção e legitima a opinião de um leigo.
Sem mais delongas, com os meus agradecimentos.
Ensaio
de Viriato Soromenho-Marques
"As nações que são governadas por líderes e estadistas, a agricultura nunca é encarada como uma mera atividade económica, mas sim como um tema de segurança nacional. É por isso que o Japão continua a produzir arroz, apesar de o poder compràr no mercado mundial a um terço do preço do arroz doméstico. Uma das questões fundamentais que nos conduziram à atual indigência nacional foi a ignorância e a leviandade com que as nossas pouco esclarecidas elites lidaram com o problema essencial da relação entre o mundo rural e as áreas urbanas. Estado Novo tentou que o campo alimentasse a cidade, não hesitando em lançar uma «épica» campanha do trigo, que conseguiu uma efémera auto suficiência de cereais, com um preço que ainda todos pagamos: a desertificação de milhares de hectares, esgotados por culturas inadequadas, sem respeito dos limites impostos pela ecologia dos solos. Mas Salazar poderia alegar em sua defesa o facto de Portugal não ter nessa altura (1929 e anos seguintes) acesso a recursos financeiros no mercado internacional (ficámos áfastados deles durante seis décadas pela bancarrota de 1892). A isso acresce também a queda a pique das trocas comerciais provocada pela Grande Depressão.
Em Abril de 1971, José Correia da Cunha, então deputado, da «ala liberal», da Assembleia Nacional, surpreendeu à Câmara com um «aviso prévio» em que traçava uma premonitória projeção das tendências do{des)ordenamento do território entre 1971 e 2000. O discípulo e colega de Arlando Ribeiro antecipava a migração interna de mais dez milhões de portugueses das zonas rurais para as metrópoles do litoral. Esse maremoto demográfico obrigaria -advertia o orador - a rigoroso planeamento e execução de políticas públicas, que garantissem o alimento, a qualidade de vida e a preservação do ambiente, sob pena de se cair numa situação de caos urbanístico e entropia de recursos.
Mas a terceira República não deu ouvidos nem a Correia da Cunha nem a Gonçalo Ribeiro Telles. Pelo contrário, tomou boa nota da lei de1965, que garantia a privatização das mais-valias urbanísticas, abrindo o caminho para uma miríade de danos públicos à custa de sórdidos lucros particulares. O que aconteceu nas cidades portuguesas a partir de 1960, intensificando-se pós 1974; foi como que o regresso a um estado de natureza, em sentido hobbesiano. Bairros inteiros semeados sem uma ideia de harmonia, sem espaços verdes, sem a sinalilzação, sequer, de uma aparência de beleza, construídos em função dos interesses mais mesquinhos e da cupidez de promotores imobiliários e seus cúmplices nas administrações r~lunicir -is (?), sem qualquer preocupação com o direito ao conforto e à segurança por parte dos futuros moradores.
Milhares de hectares de ricos solos agrícolas foram pavimentados e impermeabilizados, muitos recursos hídricos subterrâneos foram contaminados e degradados já sem contar com as enormes perdas de água nas deficientes redes de abastecimento para consumo hunano. A enorme distância entre os dormitórios e os locais de trabalho provocam congestionamentos rodoviários, poluição e gastos energéticos totalmente irracionais.
Os votos piedosos de regresso aos campos por parte do mais alto magistrado da Nação não nos fazem esquecer que durante a década em que ele foi responsável pelo Executivo, Portugal viveu como se a agricultura fosse uma atividade económica dispensável. Quem conheça os solos portugueses sabe que dificilmente poderíamos ser autónomos do ponto de vista alimentar. Mas temos todas as condições para produzir mais para o mercado interno, e para proteger zelosamente, em especial nas zonas periurbanas, os solos da Reserva Agrícola Nacional. Trata-se de um imperativo ecológico e estratégico.
Agora, se o sonho europeu se desmoronar num pesadelo, Portugal não tem plano de emergência para substituir as importações agrícolas.
O País terá de se agarrar a Espanha, não pelos ideais de um iberismo federalista, mas, simplesmente, para não morrer à fome.”
In VISÃO 3 de Novembro 2011
Portanto, para mim, este ensaio nada me diz de novo, apenas reforça uma antiga convicção e legitima a opinião de um leigo.
Sem mais delongas, com os meus agradecimentos.
Ensaio
de Viriato Soromenho-Marques
"As nações que são governadas por líderes e estadistas, a agricultura nunca é encarada como uma mera atividade económica, mas sim como um tema de segurança nacional. É por isso que o Japão continua a produzir arroz, apesar de o poder compràr no mercado mundial a um terço do preço do arroz doméstico. Uma das questões fundamentais que nos conduziram à atual indigência nacional foi a ignorância e a leviandade com que as nossas pouco esclarecidas elites lidaram com o problema essencial da relação entre o mundo rural e as áreas urbanas. Estado Novo tentou que o campo alimentasse a cidade, não hesitando em lançar uma «épica» campanha do trigo, que conseguiu uma efémera auto suficiência de cereais, com um preço que ainda todos pagamos: a desertificação de milhares de hectares, esgotados por culturas inadequadas, sem respeito dos limites impostos pela ecologia dos solos. Mas Salazar poderia alegar em sua defesa o facto de Portugal não ter nessa altura (1929 e anos seguintes) acesso a recursos financeiros no mercado internacional (ficámos áfastados deles durante seis décadas pela bancarrota de 1892). A isso acresce também a queda a pique das trocas comerciais provocada pela Grande Depressão.
Em Abril de 1971, José Correia da Cunha, então deputado, da «ala liberal», da Assembleia Nacional, surpreendeu à Câmara com um «aviso prévio» em que traçava uma premonitória projeção das tendências do{des)ordenamento do território entre 1971 e 2000. O discípulo e colega de Arlando Ribeiro antecipava a migração interna de mais dez milhões de portugueses das zonas rurais para as metrópoles do litoral. Esse maremoto demográfico obrigaria -advertia o orador - a rigoroso planeamento e execução de políticas públicas, que garantissem o alimento, a qualidade de vida e a preservação do ambiente, sob pena de se cair numa situação de caos urbanístico e entropia de recursos.
Mas a terceira República não deu ouvidos nem a Correia da Cunha nem a Gonçalo Ribeiro Telles. Pelo contrário, tomou boa nota da lei de1965, que garantia a privatização das mais-valias urbanísticas, abrindo o caminho para uma miríade de danos públicos à custa de sórdidos lucros particulares. O que aconteceu nas cidades portuguesas a partir de 1960, intensificando-se pós 1974; foi como que o regresso a um estado de natureza, em sentido hobbesiano. Bairros inteiros semeados sem uma ideia de harmonia, sem espaços verdes, sem a sinalilzação, sequer, de uma aparência de beleza, construídos em função dos interesses mais mesquinhos e da cupidez de promotores imobiliários e seus cúmplices nas administrações r~lunicir -is (?), sem qualquer preocupação com o direito ao conforto e à segurança por parte dos futuros moradores.
Milhares de hectares de ricos solos agrícolas foram pavimentados e impermeabilizados, muitos recursos hídricos subterrâneos foram contaminados e degradados já sem contar com as enormes perdas de água nas deficientes redes de abastecimento para consumo hunano. A enorme distância entre os dormitórios e os locais de trabalho provocam congestionamentos rodoviários, poluição e gastos energéticos totalmente irracionais.
Os votos piedosos de regresso aos campos por parte do mais alto magistrado da Nação não nos fazem esquecer que durante a década em que ele foi responsável pelo Executivo, Portugal viveu como se a agricultura fosse uma atividade económica dispensável. Quem conheça os solos portugueses sabe que dificilmente poderíamos ser autónomos do ponto de vista alimentar. Mas temos todas as condições para produzir mais para o mercado interno, e para proteger zelosamente, em especial nas zonas periurbanas, os solos da Reserva Agrícola Nacional. Trata-se de um imperativo ecológico e estratégico.
Agora, se o sonho europeu se desmoronar num pesadelo, Portugal não tem plano de emergência para substituir as importações agrícolas.
O País terá de se agarrar a Espanha, não pelos ideais de um iberismo federalista, mas, simplesmente, para não morrer à fome.”
In VISÃO 3 de Novembro 2011
05 dezembro 2011
Teoria e Prática
Dois politólogos – Mark Hallenberg, da Hertie School de Berlim e Jaochim Wehner, da London School of Economics, investigaram entre 1973 e 2010 os dirigentes de 27 Estados e constataram que os ministros mais instruídos em economia, ou seja, com doutoramentos, são aqueles que “operam” nos países que actualmente enfrentam os maiores problemas financeiros, como Grécia, Portugal e Espanha. Citado por Irish Examiner “países economicamente mais estáveis, como a Alemanha e o Reino Unido, terem especialistas em economia pode ser visto como algo menos importante do que terem políticos qualificados”.
O problema dos especialistas é que são tão "especiais", que vivem numa esfera à parte do comum, da diversidade, do bem-comum.
E em política económica e social, isso é a morte do artista e do seu público.
O problema dos especialistas é que são tão "especiais", que vivem numa esfera à parte do comum, da diversidade, do bem-comum.
E em política económica e social, isso é a morte do artista e do seu público.
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