24 janeiro 2010

“De pequenino é que se torce o pepino”

Tive uma mãe génio e como quase todos os génios, não se adaptava ao mundo. Entre outras coisas, não acreditava no sistema educacional. Dizia que a escola não ensinava para a vida, apenas formava seres condicionados a padrões impostos para melhor poderem ser manipulados.
Por isso, com muitas lutas familiares, só fui para a escola quando os meus avós me inscreveram e eu, com sede de aprender, assumi a responsabilidade de ir. Tirou-me da escola aos 12 anos. Aos 16, já podia estudar á noite. Trabalhava o dia inteiro a ansiar a altura de ir para as aulas. E era um aluno exemplar, bebia toda a matéria e nem precisava de estudar em casa (nem podia, porque tinha outras responsabilidades). Depois tirou-me da escola novamente, só porque estava a ler um livro e não tinha ido fazer o que me pediu logo de seguida. Tive que esperar completar os 21 anos para poder sair de casa e só, trabalhei para pagar as necessidades da vida e os meus estudos. Comecei o 10º ano aos 22. Entrei á primeira na Universidade pública com 25 anos. Não foi a minha primeira opção porque o curso que queria só existia num Instituto privado e eu não ganhava o que chegasse para o pagar. Mas “Deus compadeceu-se" e 3 anos mais tarde, uma tia pagou-me as mensalidades do curso que mais gostava. Aos 34 tinha o canudo e um vazio. Cheguei á conclusão que afinal a minha mãe tinha razão. A escola realmente não ensina para a vida. O sistema de ensino forma cordeiros sem autonomia, não ensina a pensar, não dá liberdade para criar.

Dou pontapés na gramática e faço contas devagar. Não sou uma pessoa erudita, não li quase livro nenhum. Não tenho uma carreira de sucesso, nem sou especialista a nada. Também não tenho preparação para viver nesta sociedade, pois o que a minha mãe me ensinou de nada me serve. Ser honesto, cívico, integro, leal e bondoso não é prática corrente. Seguir os ensinamentos de Jesus não é coerente. E para piorar não herdei a genialidade. E sou considerado um ser anormal por não ter tido um “percurso normal”.

Ave rara? Já não me importo de o ser.

A minha mãe já não está neste mundo, mas se tivesse, dir-lhe-ia OBRIGADO.

1 comentário:

liberdadenacidade disse...

Reconheço-me no teu testemunho, até porque tenho uma mãe que tb sempre esteve à frente do seu tempo. Embora tenha tirado um curso de que muito gosto, assino por baixo. Concordo plenamente que a escola não prepara ninguém prá vida.