03 junho 2021

“Don’t cry”

As pessoas dizem que não gostam de sofrer, mas estão sempre em sofrimento.

Um mundo de sofrimento auto-infligido pelos dogmas, pela violência, pelo medo, pela soberba, pela doença, pela ignorância.

Fiquei sem voz, sem palavras, só emoções que me rompem os tímpanos e as entranhas de sensações estranhas por estar a existir nesta dimensão tão densa de dor, confusão e turpor.

E despertar doi, a luz ofusca, e há este resistir em não ser especial , porque a responsabilidade é maior, e há esta tentação em seguir o caminho mais fácil, o das ruas da amargura, do fatalismo, da crença cega em algo que não vale nada.

Abruptamente invadem-me rios lamacentos de incertezas, de perdição humana, tão perdida como uma criança numa floresta à noite a ouvir o silêncio dos pirilampos.

Depois vem a música, aquele veículo de comunicação que às vezes toca os pés da eternidade , essa essência perdida no espaço que é tão eterna quanto misteriosa e que nos esmaga de tanta grandeza que até parece bom demais para acreditar que é verdade.

E nessa descrença no milagre do sagrado, que foi profanado e conspurcado pelos medos e ímpetos violentos vividos através dos tempos humanos, cá estamos em queda, como a Alice, que disse ter visto um coelho atrasado que nem sabe porque está atrasado, mas o facto de estar atrasado dá-lhe um propósito de vida, ir sem saber porque se vai, ou melhor, vai-se por medo, porque existe uma rainha que corta cabeças. E esta mistura de queda com a ilusão de ter que ir, é como a coca-cola com whisky que rebenta com o fígado e o cérebro. 

Fuga, sai de retro, vou para a frente, vou para trás e rodo e volto a avançar, e doem-me os joelhos porque não me consigo dobrar.

Roçar na morte da carne, tão tentador, roçar no renascimento em outra vida sem corpo, somente yin e yang disperso na não matéria. 

E depois vejo o rosto dos meus filhos, tão lindos, e vêm os apegos terrenos, o toque, os abraços, os beijos, os cheiros, a comida, a música, ah a música.

E o resultado da esplanação dá para ver que faço parte do clã de ser gente, a gente que sofre, mas a diferença, é que sabendo eu que o sofrimento é uma ilusão,  doi tanto que até dá mais vontade de viver, seja no planeta Terra, seja onde for. 







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