21 dezembro 2013

Oleiro


Quando nasci o meu pai tinha 21 anos. Tive sorte por ter tido um pai jovem, culto, atencioso e cheio de vigor durante a minha infância. Um burguês com acesso à cultura nos anos 60 e 70 do séc. XIX em Portugal era um luxo. Nasci naquele meio, meio privilegiado e protegido da ditadura e neutro na revolução. Cresci a ouvir as músicas do meu pai e a única escapadela consentida foram os U2 nos anos 80 em que tive a sorte de os conhecer no início da sua carreira, cheios de garra e inocência no festival de Vilar de Mouros.

Fiquei anos sem ouvir aquelas músicas do meu pai, a descobrir novas sonoridades, a seguir o meu caminho, a acompanhar os U2 nas décadas seguintes. Hoje, quando volto a ouvir as músicas da minha infância, sinto uma sensação estranha, é como se as músicas não fossem só dele mas minhas também, estão entranhadas.

Será que a música molda a nossa personalidade? Acho que sim. Mas não sei bem o que ela me fez...soa a ser estranho.

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