19 março 2013

O polvo

Depois de 21 anos (desde que tenho a minha conta bancária) a resistir com determinação irreverente, tive que me render às exigências da modernidade e obter um cartão de crédito. O meu primeiro cartão de crédito... nem tenho palavras para descrever a sensação de fracasso que sinto. Vivo neste emaranhado de dependências dum cidadão que paga por tudo e por nada numa dita democracia, em que um Estado com capa social e entranhas liberais imorais, cego de ideais, me usurpa a riqueza e as oportunidades de prosperar em troca de protecção e paz. Paz essa, um tanto subjectiva porque nas pequenas grandes guerras diárias, que grassam as minhas forças, também derramo sangue em sacrifícios e lágrimas pelas injustiças. Paz provisória, pois vive-se sempre na eminência de uma guerra, senão para quê que servem os polícias de choque e os exércitos com as suas armas?

Isto tudo por causa de um cartão de crédito? Sim, por causa da imposição, já não me bastam as amarras ao Estado e as outras obrigações de cidadão, como os seguros? E agora as conivências com os bancos e as regras comerciais da grande rede?

Coitado do animal polvo, não tenho nada contra ele, só o referi porque tem muitos braços com tentáculos que se colam, é um excelente predador e um dos animais mais tóxicos para os humanos.

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