04 outubro 2012

Os heróis da bruma


A minha irmã do coração veio das terras frias visitar-me a Portugal. Numa das actividades turísticas (ìamos de comboio a caminho da Casa dos Bicos) , contava-lhe sobre as actualidades na cena pública e política e o que me desagradava em relação aos desenvolvimentos e disse-lhe: - aposto contigo que poucos portugueses sabem quem foi um dos principais motores da revolução dos cravos. Quase ninguém conhece ou reconhece Vasco Gonçalves.

Chegando à Casa dos Bicos, começo a relembrar-me dos tempos em que me chamavam de comunista de uma forma pejorativa por ler livros do José Saramago, autor português, na altura pouco conhecido e criticado, que me foi apresentado por esta minha amiga brasileira. E com um misto de raiva e satisfação, pensava como a generalidade dos portugueses passaram a lê-lo e admira-lo depois de galardoado com o Nobel da Literatura.
Ela vibrava, eu acompanhava a sua vibração mas, e embora o espaço estivesse engraçado, nada de excitante, foi quando, no último andar, dou de caras com o busto de Vasco Gonçalves. Fiquei ali por segundos sem saber o que pensar, de boca aberta e com a mente confusa. Quando consegui recuperar do choque, dirigi-me a um Sr. que parecia lá trabalhar e perguntei: - o que faz aqui o busto do General Vasco Gonçalves?

- Era o grande amigo de José Saramago – respondeu-me o Sr.

Não sei porquê, mas o meu espanto era tão grande que tive que me sentar, ora esta!? Disto eu não sabia.

Depois de uns dias a refletir sobre o ocorrido parece-me bastante provável que tenham sido ambos, o cérebro do escritor e o coração do general movidos pelo mesmo ideal, os heróis da revolução e os outros, os capitães que a eles se juntaram, acabaram por receber os louros.   

Nunca mais leio livros de História de Portugal a pensar que estou a conhecer a verdadeira História.

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