A minha irmã do coração veio das terras frias visitar-me
a Portugal. Numa das actividades turísticas (ìamos de comboio a caminho da Casa
dos Bicos) , contava-lhe sobre as actualidades na cena pública e política e o
que me desagradava em relação aos desenvolvimentos e disse-lhe: - aposto
contigo que poucos portugueses sabem quem foi um dos principais motores da
revolução dos cravos. Quase ninguém conhece ou reconhece Vasco Gonçalves.
Chegando à Casa dos Bicos, começo a relembrar-me
dos tempos em que me chamavam de comunista de uma forma pejorativa por ler livros
do José Saramago, autor português, na altura pouco conhecido e criticado, que
me foi apresentado por esta minha amiga brasileira. E com um misto de raiva e
satisfação, pensava como a generalidade dos portugueses passaram a lê-lo e
admira-lo depois de galardoado com o Nobel da Literatura.
Ela vibrava, eu acompanhava a sua vibração mas, e
embora o espaço estivesse engraçado, nada de excitante, foi quando, no último
andar, dou de caras com o busto de Vasco Gonçalves. Fiquei ali por segundos sem
saber o que pensar, de boca aberta e com a mente confusa. Quando consegui
recuperar do choque, dirigi-me a um Sr. que parecia lá trabalhar e perguntei: -
o que faz aqui o busto do General Vasco Gonçalves?
- Era o grande amigo de José Saramago – respondeu-me
o Sr.
Não sei porquê, mas o meu espanto era tão grande
que tive que me sentar, ora esta!? Disto eu não sabia.
Depois de uns dias a refletir sobre o ocorrido parece-me
bastante provável que tenham sido ambos, o cérebro do escritor e o coração do general
movidos pelo mesmo ideal, os heróis da revolução e os outros, os capitães que a eles se
juntaram, acabaram por receber os louros.
Nunca mais leio livros de História de Portugal a
pensar que estou a conhecer a verdadeira História.
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