29 setembro 2011

Diálogo entre o ali ir e o aqui estar

“- Que estás aí fazer?

- Estou aqui.

- Sim, claro que estás aí, mas o que fazes?

- Estou à espera.

- À espera de quê?

- À espera que o destino se faça.

- E não fazes nada?

- Não faço nada? Claro que sim, espero. Esperar não é exercício fácil, exige que se desenvolva a aceitação e a calma.

- E porque não deixas de esperar e fazes por guiar o teu destino?

- Sempre acreditei nisso, mas a vida tem vindo a ensinar-me que é o destino que me vai guiando. O que depende de mim é tirar melhor proveito daquilo que o destino me dá: “Quem se contenta com a sorte, é feliz até à morte." Por isso, resta-me esperar.

- Se começas com ditados, também tenho um para ti: “Quem espera desespera”.

- Isso é para quem espera pelo autocarro ou por alguém que está atrasado.  A minha espera é uma espera esperançada. Espero somente que o destino se vá revelando e eu possa usufruir das coisas nos tempos certos.

- E quando é que são os tempos certos?

- Agora não sei, mas quando forem, saberei porque vou estar aqui à espera.”

28 setembro 2011

“Look at the train”

Nasci numa casa perto de uma estação de comboios. Costumava sentar-me no banquinho do muro a vê-los passar. O meu primo pequenino quando vinha de Inglaterra nas férias de verão, também lá passava horas, fascinado a dizer: look at the train!

Há muito não andava de comboio e numa recente pequena deslocação entre Lisboa e Porto, senti um entusiasmo inusitado na viagem e ao mesmo tempo, uma sensação de nostalgia. Entrei numa viagem no tempo. Lembrei-me daqueles filmes antigos com despedidas intensas por entre vapores que cobrem quem fica. Relembrei as loucas viagens entre o Barreiro e Olhão, nas sextas de madrugada com cantoria, cerveja, fumos e soldados. Entre outras imagens e memórias, voltei a sentir o desejo de realizar um sonho de adolescente, o de fazer a viagem de comboio entre Lisboa e Moscovo.

Fez-me questionar o presente, porque não é o comboio o transporte mais comum? Um transporte tão rápido, seguro, confortável e menos poluente? Não faz sentido.

Oh, individualista arcaico! Levanta lá esse cu do teu veículo movido a petróleo! Oh! Fanáticos do poder! Vão lá arder nos vossos poços do inferno!

27 setembro 2011

Porque levo a vida tão a sério?

"Para que levar a vida tão a sério se ela é uma incansável batalha da qual jamais sairemos vivos ?!"
Bob Marley 

25 setembro 2011

Ode à minha essência!

Perdi-me, é do álcool. Elemento fogo que transforma. Mas há certas coisas que nunca se perdem. Durante a deturpação, depois da ressaca, permanecem.  Eu. Ser único. Ser terra. Cheia de nutrientes, a mãe da semente, a protectora. A pedra. Terá sentimentos, a pedra? Será um ser vivo, a pedra? Todos acreditam que não. Mas a terra, a montanha, a pedra, o que prevalece através dos conceitos, da cultura, das subjectividades, a pedra, é um ser completo, complexo, cheio de nutrientes e capaz de criar, a estrutura da criação, o porto seguro, o que resiste através dos tempos. Petra, ruínas, terrenos de plantio, terramoto, deixa marca concreta. A mãe da natureza, a terra, o berço da cultura, a referência da crença, o impulso da aventura… o estável que incita ao instável. Instável protegido, pelos braços de mãe complacente, conivente, que lança os seus frutos na descoberta do novo, novo que se tornará velho e volverá à essência da criação.

22 setembro 2011

Meu querido amigo Mike!

"- Sinto-me a crescer, muito mais que a envelhecer."

Testemunho de um homem nascido em 1961

Ceifeira

Acaba de constatar que está em guerra há 4 anos. Entrou nela logo que foi obrigada a defender-se do inimigo. E pensava que andava a evita-la! Sabe-o somente agora porque sente que está a terminar.

A guerra que está a travar é uma “guerra santa”, no sentido em que os interesses individuais e egoístas, a conquista do poder, a opressão do adversário e a vitória a todo o custo não são nem o mote nem o objectivo dela. É uma guerra pela salvaguarda do respeito mútuo e pela defesa da liberdade, onde uma vitória nobre somente poderá ser conquistada através do sacrifício, da aceitação e do amor.

A guerra está a chegar ao fim e em breve a ceifeira viverá tempos de paz consigo própria porque, embora tivesse ferido para se defender, não teve que fazer rolar cabeças com a sua gadanha.

15 setembro 2011

Dos verbos

Eu quero fugir

Tu queres fugir?

Ele quer fugir

Nós queremos fugir

Vós quereis fugir de quê?

Para onde querem eles fugir?

Banquete II

Umas vezes está tão amargo que preciso de doce, outras tão salgado que fico com sede, tão picante que lacrimejo. Às vezes vomito…

Ser um pássaro e não poder voar

Nem a morte de um ente querido, nem um tsunami ou um terramoto, nem a crise financeira, nem um amor não correspondido, causam dor tão grande como não ter liberdade de escolha.

13 setembro 2011

Banquete

Sentir-se nutrido, pleno e belo faz com que a relação com o caos da existência seja o doce, o ácido, o picante, o amargo e o sal da vida, os vários sabores que temperam a minha experiência nesta viagem.

Paz d’alma

Não interessa se aquilo que acreditamos esteja certo ou errado. Interessa-me sim, que o resultado dessa crença me traga paz.