10 novembro 2010

Go getter, go giver

Ao longo da minha vida adulta tenho observado, analisado, o tipo de comportamento, ou carácter, intuito que guia a acção, das pessoas que passaram/cruzam a minha existência. E essencialmente, sem absolutismos, existem dois padrões dominantes, num dos quais me incluo, os go getters e os go givers.

Resumindo. Assim como na natureza, há os animais que dão ou conquistam e os que recebem ou parasitam. Materializando a ideia, o antílope, a leoa que o caça para alimentar a sua prole e o seu macho, as hienas, os abutres e as moscas. O antílope e a Leoa são os go givers. O antílope é o go giver “puro”, a sua razão de existência é dar. A Leoa, embora receba o alimento do antílope, tem que investir esforços para o caçar, para garantir a sobrevivência da sua prole e do leão que protege o clã, digamos, as crias e os machos, são tanto getters como givers, “amor com amor se paga”. Já as hienas, os abutres e as moscas são os go getters, sobrevivem da usurpação ou herança dos restos da carcaça.

Não compreende a ideia? Passo a ilustrar com um exemplo humano. Vasco Gonçalves era um homem íntegro, com ideais nobres, um militar que moveu uma revolução sem guerra (e acabando com uma guerra).  Graças ao seu ímpeto e coragem, beneficiaram, políticos e uma nação. Nesta cadeia de benefícios gerada pelos go givers da Revolução, as hienas e os abutres beberam dos ideais da liberdade e da democracia em seu benefício. Exemplo disso, o Dr Mário Soares, estandarte da instauração da Liberdade em Portugal, que, como hiena, usurpou um movimento político em seu benefício, para sobreviver como político, à custa do “sacrifício” do antílope, Vasco Gonçalves.

Será que muitos do Zé Povinho são a moscas? É melhor nem pensar nisso…

Adiante, isto é só um exemplo de diversos que poderia mencionar. Aliás, as pessoas que me inspiraram este post, nem foram estas grandes figuras da História política de Portugal. Foram pessoas com quem trabalhei…
Nem imaginam o que me passou pela cabeça, começar a chamar as pessoas: homem leão e a mulher mosca. A mulher corça e o homem fungo. Ahahah! Já estou a divagar…

Mas se analisarmos “the big picture” existe, e sempre existiu na natureza, os givers e os getters, e se eles existem, não quer dizer que um seja melhor que o outro. Ambos são necessários. Um, não é bom só porque dá, e o outro não é mau só porque tira. Porque alguém só tira algo de alguém que pode dar.

Não poderíamos simplesmente extinguir as hienas, os abutres, as moscas ou outros go getters, haveria excesso de fartura, e a quantidade altera a qualidade. Imaginem os restos mortais do antílope, depois de dilaceradas as suas vísceras, a apodrecer na savana? Nem quero imaginar!
Os go getters são um “mal” necessário.

Na linha de pensamento sobre a quantidade que altera a qualidade, o tema que estive a explorar foi abordado numa perspectiva de justiça ou equilíbrio. E por isso, chego à conclusão, mais uma vez, que o desafio existencial é o equilíbrio.

E seguindo este pressuposto de equilíbrio, é fácil constatar que não andam por aí suficientes corças, antílopes e leoas para alimentar tanta hiena, abutre e mosca.

2 comentários:

Nuno Lebreiro disse...

Não concordo com a comparação. O mundo animal é moralmente neutro: é tão válido o abutre querer alimentar-se a si próprio e as suas crias como a leoa ou o antílope; são moralmente iguais porque todos matam algo para comer e todos são mortos por algo para comer. O equilíbrio existe na violência natural; existe porque é um equilíbrio neutro. Todos são moralmente iguais. No mundo dos homens não se passa o mesmo porque, apesar de todos precisarmos de comer, iguais portanto, também somos donos da capacidade moral: ou seja, temos conceitos de justiça (sabemos discernir entre quem dá e quem merece receber); e , acima de tudo, podemos escolher entre a partilha, a cobiça, a conquista ou a parasitagem. O humano moral é o que compreende que o equilíbrio é o natural e age em função de equilibrar; o parasita humano desequilibra por natureza porque tira mais do que dá. Chamar abutres aos parasitas humanos é um elogio. Os abutre não escolhem. E muitos humanos também não; muitos humanos violentos, parasitas e ladrões desenvergonhados não conhecem alternativa. A maior dádiva seria, portanto, ensinar a escolher. Longe, muito longe. E por isso mesmo num mundo de parasitas onde todos procuram desequilibrar a seu favor sobra a guerra, a miséria e a infelicidade. Parece-se tal cenário com a realidade?

Romeiro disse...

Gosto de usar metáforas para ilustrar o que acabas de defender, nua e cruamente.