14 dezembro 2009

Até que a morte nos separe

Os amigos, os que são realmente amigos, são aqueles que conseguem ser mais verdadeiros connosco. Melhor que os pais e os filhos. Esses espelhos de nós pertencem á dimensão do amor incondicional. Os espelhos dos amantes é dúbio, pode ser como uma faca de dois gumes. Ora espelhos de verdade sensatos, ora deturpados pela loucura da paixão. Não me alongo mais com esta dos espelhos, o que queria dizer é que dou valor ao que os meus amigos dizem acerca de mim. Pelos menos penso sobre o que me tentam dizer.
Há uns tempos atrás uma amiga de longa data, disse-me com ar grave:

- Perdeste a tua criança!

Era um espelho de verdade assustadoramente verdadeiro, tinha mesmo perdido a minha criança. Desde então procuro reencontra-la. São já 3 anos de busca. Não há muito tempo parece que a vi, mas perdi-lhe o rastro.

O mundo exige e insiste que cresça e que me torne num adulto sério.

Quero ter rugas bem vincadas e continuar a surpreender-me com o por-do-sol, quero estar com artroses e ir às silvas saborear amoras, que fiquem presas as graínhas na dentadura, e recordar os momentos de quando era criança e as apanhava com as mãos e os braços riscados. Quero enterrar os mais velhos e ter quase um ataque cardíaco de alegria pelo nascimento de um neto.

Não, não quero ser adulto sério, muito importante e chato.

Criança, vem cá meu amor, vamos brincar, não me deixes, não te vás, vem ficar aqui comigo, até partirmos para a próxima viagem.

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