07 agosto 2020

Fotografias

Cheguei eu, menina da linha de Cascais, àquela aldeia do interior das Beiras, que parecia ter ficado atrasada no tempo. 

A calçada de pedra da minha rua rugia quando passava a carroça com o boi do Sr Zé, que cheirava rapé.  

O edifício da escola era ainda daqueles do Estado Novo e os seus professores rígidos da idade que emperra os ossos, mas também rígidos de mente. 

Aquela escola cheia de crianças da aldeia foi onde se deu a contaminação. 

Os meus belos cabelos louros ficaram pejados de piolhos. 

A minha mãe, aflita com tamanha invasão de parasitas, não foi de modos, aplicou logo uma medida radical. Rapou-me o cabelo. Lembro-me de andar com um lenço, pois faziam troça de mim.

Hoje encontrei uma fotografia do primeiro verão, depois do acontecimento, em que o meu cabelo já estava mais ou menos composto. Comia alegre um choco com tinta.

Incrível como as fotografias nos fazem viajar no tempo.

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