Cheguei eu, menina da linha de Cascais, àquela aldeia do interior das Beiras, que parecia ter ficado atrasada no tempo.
A calçada de pedra da minha rua rugia quando passava a carroça com o boi do Sr Zé, que cheirava rapé.
O edifício da escola era ainda daqueles do Estado Novo e os seus professores rígidos da idade que emperra os ossos, mas também rígidos de mente.
Aquela escola cheia de crianças da aldeia foi onde se deu a contaminação.
Os meus belos cabelos louros ficaram pejados de piolhos.
A minha mãe, aflita com tamanha
invasão de parasitas, não foi de modos, aplicou logo uma medida radical.
Rapou-me o cabelo. Lembro-me de andar com um lenço, pois faziam troça de mim.
Hoje encontrei uma fotografia do primeiro verão, depois do acontecimento, em que o meu cabelo já estava mais ou menos composto. Comia alegre um choco com tinta.
Incrível como as fotografias nos
fazem viajar no tempo.
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