29 julho 2017

Monólogo sobre vaginas

Não paro de me surpreender com a criatividade humana.
Uns criam automóveis, outros sapatos e roupas, outros criam vaginas.
Confesso que nunca pensei que pudesse chegar a ser moda fazer cirurgias às vaginas.
Como é uma vagina bonita?
Rosa, castanha clara, castanha escura ou vermelha?
Com lábios grossos, finos, longos ou curtos?
Com o clítoris escondido, pequeno, avantajado ou a florir por entre os lábios...
Com pêlos, lisos, aos caracóis, loiros, ruivos, sem pêlos, com pêlos em forma de coração?
Não sei.
Como é um pénis bonito?
Para mim, que sou mulher, um pénis bonito é um pénis que me dê prazer, seja grande (não muito grande, por favor), pequeno, com pêlos, sem pêlos, torto, mais fino ou mais grosso, com a cabeça grande ou pequena, roxa, azul, rosa ou vermelha.
Será que a minha vagina é bonita?
Sei lá eu se é bonita, eu gosto dela, com pêlos e sem pêlos, com a cicatriz que o sistema moderno do bisturi me fez durante os meus partos. 
Que estranho... mamas, rostos, barrigas, nádegas e agora vaginas.
Que estranha moda, que estranho ideal, que estranha criatividade.
Serei eu estranha por amar a minha vagina?
Serei eu estranha por estar a perder o conteúdo das mamas e nádegas que declinam lentamente como um balão que vai perdendo o ar e apreciar com ternura o meu corpo refletido no espelho?
Serei eu estranha por achar que as minhas rugas são sinal de vida vivida a rir e a chorar?
Perfeição, boneca cheirosa, a rebolar sobre saltos, delgada de bunda estufada, vagina rosa sem pêlos, eterna menina, menina com medo, menina de beicinho a precisar de atenção.

A criatividade humana é ilimitada, uns criam jardins, outros música, outros criam bonecas de carne e osso com vaginas bonitas.


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