07 julho 2015

Austeridade não, obrigado!


Desde que verifiquei que a política tem uma estreita relação com o poder e como querer ter poder é coisa dos fracos, deixei de me preocupar com as questões de política. Limito-me a observar de longe, para não desligar do mundo, as frivolidades daqueles que lutaram para chegar ao poder, na sua maioria através da malícia e artimanha ou da retórica teórica tão à moda sofista, com pouco sentido prático e genuína intenção de servir os interesses maiores da justiça e da ética.  

Mas esta questão da Grécia deixou-me a pensar, por várias razões.

A primeira razão é sobre a política económica de austeridade. Não tenho nenhum doutoramento em política nem em economia (embora haja um nobel da economia que partilha da mesma opinião da minha ou eu da dele) mas tenho a experiência de vida de quem foi saqueado, sobreviveu e criou novas oportunidades num país vergado às demandas das regras dos credores. Mas não esqueço o que senti na pele! E não posso deixar de constatar que o país onde nasci está enfraquecido, triste e pobre. E também sei que com muitas, muitas, muitas dificuldades se levantará. E não desejo mais austeridade ao próximo, seja ele a Grécia ou outro país mais frágil da comunidade.

A segunda foi o Não da Grécia ao pacto de austeridade que considero um grito de esperança numa política comunitária mais equilibrada. A “atitude” da Grécia pode ser uma oportunidade para fazer reformas estruturais no modelo económico europeu. Pois o modelo atual vê-se que está a esmagar as nações mais frágeis. Não é eficaz nem justo. A Imperialista Alemanha industrializada e moralista e a Rainha França da agricultura e egocêntrica não são as donas da Europa, mas comportam-se como tal, pois são as suas economias e os seus líderes que parecem gerir os órgãos competentes da Europa, como o Banco Central. Afinal quem tem dinheiro manda e a miséria é coisa que nunca experimentaram, por isso não podem avaliar o seu peso, consequências e mazelas, pois só pode saber aquele que a sentiu e não aquele que a pensa.

Outra razão é sobre a diversidade. Cada país tem os seus talentos, as suas capacidades e recursos e a União não pode nivelar essas diferentes características nacionais. Temos uma moeda única, um propósito único de paz, mas somos diferentes e são essas diferenças essenciais para criar riqueza na diversidade sem um ter que esmagar o outro. A ilusão de igualdade não é saudável.

Outra é sobre o que uns andam para aí a dizer, que a Grécia tem que sair do Euro grupo, eu nem tenho palavras para descrever o que penso sobre isto, só posso abreviar que isso seria uma prova que a Comunidade Europeia falhou e nós, Portugal, iríamos ficar Gregos se isso acontecesse. 

E poderia estar aqui a divagar, mas o certo é que tenho que ir dormir pois amanhã é dia de trabalho e acordar para mais um dia a dar graças por o ter.

Votos de juizinho aos Senhores Doutores, aos Senhores da teoria e das folhas de cálculo, que desçam dos seus pedestais da ilusão do poder e ponham as suas cabecinhas pensadoras a criar medidas realísticas e justas.


*Título inspirado na frase “Nuclear não, obrigado!” 
*mas bem poderia ter sido "Austero era o Salazar"

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