18 julho 2015

Exílio


 Movimentos idealistas baseados na ilusão da Democracia, como a fundação da Comunidade Europeia, não estão livres das regras do Poder do Dinheiro. Em linhas gerais, somente os iludidos, tantos aqueles que se consideram realistas como os mais idealistas acreditam que existe o poder soberano da Nações, dos órgãos de Justiça, a Democracia e a Liberdade e munem-se de Cartas de Direitos, Tratados e Constituições para sustentarem essa ilusão. E justificam os desequilíbrios económicos defendendo que a culpa é de umas insignificantes nações que vivem “acima das possibilidades” como Portugal e a Grécia, e as nações muito desenvolvidas e eficientes como a Alemanha e a França que são as que dominam, e ainda as mais “espertas” como a Inglaterra e a Noruega que parecem não participar nos jogos. Ficando-me pela Europa.

Sou um lunático observador dos movimentos dos mercados, das regras económicas, dos discursos políticos demagogos, das maquinações da burocracia dos governos compostos na sua maioria por advogados que criam leis convenientes, engenheiros que engendram projectos megalómanos e por economistas que se enganam nas contas, dos jogos de interesses duns senhores de negócios e das centenas de opiniões dos vários doutores pensadores sobre estas matérias.

Como cidadão sem pátria, apartidário e cético em relação ao paradigma da política económica parida pela cobiça, mesmo não detendo a retórica dos letrados e a agilidade intelectual capaz de malabarismos conceptuais, detenho um sentido lunático, sim da lua regente das águas, e observo o circo e a palhaçada e farto-me de rir para não me envenenar com a tristeza, a impotência e a raiva.

Este lunático percebe a profundidade do sistema económico elaborado por almas órfãs e corrompidas pela matéria, em que as nações são meras marionetas e o povo, público ofuscado pelos ídolos, a dançarem às regras do um maquiavélico sistema, em que os príncipes filhos do Rei Ouro são os djs que fazem bailar o mundo ao som dos instrumentos de metal.

É assim tão simples? Pois é, tão básico como isso. Mas todos fingem que é tudo muito complicado para não se darem ao trabalho de assumir a responsabilidade. Outros são mesmo ignorantes, pobres inocentes.

São os organismos monetários que comandam a economia do mundo – os FMI, as Troikas, os Bancos Centrais, os ditos grupos económicos e afins da vida - acima da Justiça, acima da soberania das nações, acima do ideal de Democracia, até um dia em que todos os seus castelos com tijolos de ouro derreterem pela acção do Fogo da clarividência e as belas adormecidas acordarem com um beijo mágico do amor.

Às vezes desejo ser um ignorante, estar completamente enganado, ser cego, adormecido e iludido e que mais valia viver numa caverna platónica.

Mas vou deixando-me ficar aqui pela Lua fria e deserta a assistir de longe a este espetáculo circense e só desço à Terra para matar saudades da sua beleza e empreender algumas iniciativas que julgo poderem contribuir para o bem-estar dos meus queridos irmãos humanos, pelo menos são iniciativas feitas com amor, onde a entrega não está diretamente ligada ao retorno financeiro.

A minha fama de socialista, neoliberal, idealista, sonhador, arrogante e daquele que tem a mania que detém a verdade não me afeta, pelos vistos depende do espelho de verdade de cada espectador. 
Afinal, são tantas as famas, em que é que ficamos?
Daí considerar-me um feliz louco leigo lunático e ser somente o amor à Vida e à Natureza, o sentido de missão e sentimento de solidariedade que me mantém em contacto com a Terra.


O resto são “os mercados” a ditar as ordens do dia.

07 julho 2015

Austeridade não, obrigado!


Desde que verifiquei que a política tem uma estreita relação com o poder e como querer ter poder é coisa dos fracos, deixei de me preocupar com as questões de política. Limito-me a observar de longe, para não desligar do mundo, as frivolidades daqueles que lutaram para chegar ao poder, na sua maioria através da malícia e artimanha ou da retórica teórica tão à moda sofista, com pouco sentido prático e genuína intenção de servir os interesses maiores da justiça e da ética.  

Mas esta questão da Grécia deixou-me a pensar, por várias razões.

A primeira razão é sobre a política económica de austeridade. Não tenho nenhum doutoramento em política nem em economia (embora haja um nobel da economia que partilha da mesma opinião da minha ou eu da dele) mas tenho a experiência de vida de quem foi saqueado, sobreviveu e criou novas oportunidades num país vergado às demandas das regras dos credores. Mas não esqueço o que senti na pele! E não posso deixar de constatar que o país onde nasci está enfraquecido, triste e pobre. E também sei que com muitas, muitas, muitas dificuldades se levantará. E não desejo mais austeridade ao próximo, seja ele a Grécia ou outro país mais frágil da comunidade.

A segunda foi o Não da Grécia ao pacto de austeridade que considero um grito de esperança numa política comunitária mais equilibrada. A “atitude” da Grécia pode ser uma oportunidade para fazer reformas estruturais no modelo económico europeu. Pois o modelo atual vê-se que está a esmagar as nações mais frágeis. Não é eficaz nem justo. A Imperialista Alemanha industrializada e moralista e a Rainha França da agricultura e egocêntrica não são as donas da Europa, mas comportam-se como tal, pois são as suas economias e os seus líderes que parecem gerir os órgãos competentes da Europa, como o Banco Central. Afinal quem tem dinheiro manda e a miséria é coisa que nunca experimentaram, por isso não podem avaliar o seu peso, consequências e mazelas, pois só pode saber aquele que a sentiu e não aquele que a pensa.

Outra razão é sobre a diversidade. Cada país tem os seus talentos, as suas capacidades e recursos e a União não pode nivelar essas diferentes características nacionais. Temos uma moeda única, um propósito único de paz, mas somos diferentes e são essas diferenças essenciais para criar riqueza na diversidade sem um ter que esmagar o outro. A ilusão de igualdade não é saudável.

Outra é sobre o que uns andam para aí a dizer, que a Grécia tem que sair do Euro grupo, eu nem tenho palavras para descrever o que penso sobre isto, só posso abreviar que isso seria uma prova que a Comunidade Europeia falhou e nós, Portugal, iríamos ficar Gregos se isso acontecesse. 

E poderia estar aqui a divagar, mas o certo é que tenho que ir dormir pois amanhã é dia de trabalho e acordar para mais um dia a dar graças por o ter.

Votos de juizinho aos Senhores Doutores, aos Senhores da teoria e das folhas de cálculo, que desçam dos seus pedestais da ilusão do poder e ponham as suas cabecinhas pensadoras a criar medidas realísticas e justas.


*Título inspirado na frase “Nuclear não, obrigado!” 
*mas bem poderia ter sido "Austero era o Salazar"