14 julho 2009
O que é que o trabalhor-estudante tem a ver com isto?
Nunca fui a um concerto sozinha, disse-me uma vez uma amiga. É claro que prefiro ir com companhia, mas nada me faria perder um concerto só por não ter companhia.
Há uns bons anos tive a etiqueta de trabalhor-estudante. A sociedade tem que organizar a sua população e dá nome às caixinhas, podia eu lá fugir ao sistema! Ganhava acima da média nacional, mas mesmo assim o dinheiro quase só dava para as contas. Isto para dizer que sobrava pouco dinheiro para os ditos “produto supérfluos”, porque a arte, em Portugal, é só para alguns.
Mas deixando a política social portuguesa. Lá juntei os escudos para o concerto dos Morphine, com os Body Count na primeira parte e um dia antes do concerto tinha o dinheiro para o bilhete. Pensava eu que o tinha. Afinal não, no último local onde sobravam 3 bilhetes, estava mais caro. -Sr, deixo-lhe aqui o meu BI que eu volto mais tarde. – Não reservamos bilhetes – disse o Sr absorto á importância que aquele bilhete poderia significar para alguém. Ainda por cima com uma fila de 4 ou 5 pessoas atrás. Vou ficar sem bilhete, pensei. Foi quando aquele que estava logo a seguir disse: - Quanto é que precisa?
Que admirável sentimento de gratidão senti naquele momento!... Não era um milagre, mas o sentimento foi como se tivesse sido. E aquela pessoa de certo ficou feliz por ter feito outro feliz.
A rua das Portas de Sto Antão da cidade de Lisboa estava cheia, iluminada e quente na noite do dia seguinte. As portas do coliseu abertas á celebração da música.
Ao cimo das escadas encontro o primo de um amigo que me apresenta àquele que era autor do acto de generosidade. Os mais cépticos podem dizer que foi coincidência, eu digo que foi lindo! E ainda a música não havia começado.
As luzes apagaram-se, o som começou a abrir. Rubro total com os Body Count!
Depois de arrebatados, entram os Morphine, “a cure for pain”, e envolvem-nos naquela mágica atmosfera, ao mesmo tempo intensa e anestesiante com fumos coloridos a condizer. Arrepios, lágrimas de sorrisos, emoção, amor…música.
Depois de 7 músicas de ancore saí do coliseu com a certeza que tinha acabado de passar por uma das melhores sequências de momentos especiais da minha vida.
A minha amiga gostou desta história quando lhe contei. Espero que no futuro não deixe de ir a um concerto, só porque não tem companhia. Não vá ela perder uma potencial oportunidade de viver momentos maravilhosos.
PS: a alusão ao trabalhador-estudante é só para suportar a opinião de que existe o lado positivo de não se ter dinheiro suficiente para fazer tudo o que queremos fazer.
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