“Relatam os Taoístas que, no grande começo do Não-Começo, o Espírito e Matéria se encontraram em combate mortal. Por fim, o Imperador Amarelo, o Sol do Céu, triunfou sobre Shuhyung, o demónio da escuridão e da terra. O Titã, na sua agonia de morte, bateu com a cabeça contra a abóbada solar e despedaçou em fragmentos a cúpula azul de jade. As estrelas perderam os seus ninhos, a lua errou sem destino por entre os abismos agrestes da noite.
Desesperado, o Imperador Amarelo procurou por onde pôde pelo consertador dos céus. Não teve de procurar em vão. Do mar oriental ergueu-se uma rainha, a divina Niuka, de cornos coroada e cauda de dragão, resplandecente na sua armadura de fogo. Foi ela quem soldou o arco-íris de cinco cores no seu caldeirão mágico e reconstruí o céu chinês.
Mas também se conta que Niuka se esqueceu de preencher duas pequenas fendas no firmamento azul. Assim principiou o dualismo do amor – duas almas rolando pelo espaço e nunca em sossego até se unirem para completar o universo. Cada um tem de construir de novo o seu céu de esperança e de paz.”
Deliciosamente poético.
Mas isso era dantes…
Em tempos modernos (e o autor ainda nem sabia que iam rebentar duas guerras mundiais):
“O céu da humanidade moderna está de facto despedaçado na luta ciclópica pela riqueza e pelo poder. O mundo anda às cegas na sombra do egoísmo e da vulgaridade. O conhecimento compra-se com uma má consciência, a benevolência pratica-se por amor à utilidade. O Oriente e o Ocidente, como dois dragões lançados num mar fermentoso, esforçam-se em vão por voltar a merecer a jóia da vida. Precisamos novamente de uma Niuka que conserte a grandiosa devastação; aguardamos um Avatar.
Entretanto, tomemos um gole de chá. … Sonhemos com a evanescência, e demoremo-nos na bela tolice das coisas.”
O Livro do Chá
Kakuzo Okakura
(1906)
1 comentário:
Eduardo diz, o do clube
http://grufc.blogspot.com
e o meu
http://old7rugby.blogspot.com/
todas as fotos são minhas
beijo edu....
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