14 abril 2016

Admirável mundo tonto


E o mundo rasga-se a meus pés, a loucura colectiva abrilhantada pelas cores artificiais, os alimentos fabricados por robôs, os animais escravizados em agonia. As drogas ajudam na ilusão, no alívio da dor, a dor que volta sempre, e precisa de mais droga. A falta de imaginação, a falta de criatividade, a falta de amor, reflete-se na música vã, nos costumes amorais, nas crenças fúteis. Os que governam as nações, governam-se a si completamente alienados da missão de servir, os podres de ricos arrancam os dentes para os substituir por diamantes, cortam as mamas para as tornar maiores, injectam-se para ficar com as nádegas salientes.
Os obesos enchem-se de comida sem alma, os doentes alimentam a indústria farmacêutica que rejubila na sua piscina de moedas, as crianças são engolidas pelas máquinas…
Vivemos numa linda casa com todos os recursos necessários, temos um corpo fantástico e o livre arbítrio, somos livres, e com essa liberdade de escolha escolheram os muros, construíram prisões, estabeleceram limites e fronteiras e elaboraram leis. Criaram a propriedade e os ídolos, mesmo assim, ainda não se aperceberam, não têm qualquer consciência de que somos livres para criar o que quisermos, para criar a doença (desequilíbrio) ou a saúde (equilíbrio), o mundo é um espelho das nossas livres escolhas, obviamente há uns que escolhem por outros, mas os outros aceitam pois acham que assim deve ser, legitimam os opressores, até inventaram tal da democracia, outro mecanismo de ilusão de justiça e liberdade, votam neles e conformam-se. Outros inventaram um ídolo, um tal de Deus, ou Deuses, para não assumirem a responsabilidade pelos seus actos, é mais reconfortante mandar a culpa para uma entidade lá em cima que julga as almas, ahahah, que alegoria tão engraçada. E os mais sensíveis dizem que esse Deus é injusto, santa ignorância.
Pensando bem, é uma grande estupidez a forma como os humanos usam a sua liberdade de escolha, porque será que gostam da dor, das prisões e da injustiça?
São como crianças a brincar com o fogo ou aprendizes de feiticeiros a fazer poções venenosas.
Qualquer coisa deu muito errado ou então ainda estamos nos primórdios da civilização humana, a experimentar o poder ilimitado, cheios de medo desse próprio poder, ainda somos uns ignorantes e não sabemos usar o nosso livre arbítrio, é mais fácil ser vítima e não assumir a responsabilidade.
E eu, feliz da vida, ando por aqui. Quando era mais jovem pensava que era anormal, mergulhei no mundo dos limitados e não fez sentido, escolho ser anormal, até posso estar a viver num enquadramento doente e limitado mas sinto-me livre. Já senti raiva e revolta mas agora nem por isso, faço a minha parte, sirvo os presos, levo-lhes alento e esperança, enfeito as suas celas, sorrio com um sentimento solidário para com os meus irmãos aprisionados. Já tive pena, mas agora tenho apenas compaixão, principalmente pelos opressores, pelos terroristas, pelos fanáticos, pelos carcereiros que são mais doentes que as suas vítimas.
Leio os poetas e não sofro, vejo as crianças a morrer à fome e não me encho de raiva, apenas observo, umas vezes entristece-me, inevitável perante tanta desgraça, mas essa tristeza não chega ao meu coração, pois este está a brilhar de amor e alegria.
O sofrimento é uma limitação da consciência.
O Ego, sei lá, deve andar por aqui a fingir que é um ser sábio, deixo-o fingir mas não lhe dou muita atenção, observo-o entretido, cheio de soberba e arrogância, um dia acabará por sucumbir.

Estou só, muito só, mas não sinto solidão.

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