14 fevereiro 2013

Absinto

E eu que pensava que as memórias do passado eram a única coisa concreta da minha vida? Mas se as memórias do passado são ilusões, e eu fruto desse passado, por isso, também eu ilusão, quem sou eu? E o que é a vida? A primeira sensação, depois desta reflexão, foi um balançar de estruturas, porque se tudo é ilusão (passado também), então o dito facto, a acção, a suposta realidade também o é, e por isso a ilusão é a única realidade.

Por outro lado nasceu uma nova perspectiva, se a memória do passado é ilusão, então todas as dores, os traumas, as alegrias são igualmente ilusões e assim, não tenho que sofrer ou alegrar-me ao recorda-las no presente, nem toldar o meu espírito com aquilo que julguei viver mal, e muito menos ter medo (também ilusão) do futuro. E as sensações do corpo? O corpo é um mero servo da ilusão, um instrumento de experimentação efémera, porque o presente está sempre a tornar-se passado, e tudo não passa de..., de um sonho? Um filme da nossa mente? Pensando bem até que pode ser bom. Livrar-me de tudo que passou, começar a cada instante da eternidade uma nova vida, desprendida da História, sem o peso das pedras dos castelos e muralhas que construímos.

O pior, é que depois desta reflexão a modos que conclusiva, não consigo sentir a leveza que uma vida ilusória deveria proporcionar.

Não me ensinaram como viver a eternidade e aceitar a ilusão como realidade. Ainda julgo que existe uma placenta ligada ao passado que alimenta o presente e que sonha o nascimento do futuro.

Ainda não sei ser plenamente ilusão. Tenho uma pedra no sapato.

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