16 março 2009

Relatividade do tempo

“Elvira tinha 15 anos e estava cheia de sonhos. Naquelas tardes quentes, fugia para o fresco da padaria desactivada e fazia os trabalhos da escola enquanto ouvia música vinda de um rádio velho, com uma antena cheia de palha d’aço para melhor sintonizar uma estação alternativa, que acompanhava com entusiasmo desde o seu surgimento como rádio pirata. Corriam os meados dos anos 80 do século XX e o movimento musical europeu tinha pouca expressão no mercado influenciado pelas tendências Norte-Americanas. Ela vivia na América do Sul, mas era de origem europeia, e tirando os U2, banda universal, e os The Cure, tinha pouco contacto com os movimentos musicais a Nordeste , a não ser através daquela rádio. … …Joy Division era uma das bandas preferidas, mas principalmente por causa de uma música. A tal. Quando a ouvia era invadida por uma onda de melancolia juntamente com uma dor inexplicável no peito. Às vezes chegava a chorar… sabia que era um sentimento de amor, um amor partido, mas não sabia porquê e por quem chorava. Naquela altura, mal sabia o que isso era, isso do amor. Imaginava que quando viesse a namorar seria romântico andar de mãos dadas e beijar com ternura, como vira alguns beijos em filmes e esse imaginar fazia com que o amor lhe parecesse bom. Então, não percebia porque sofria tanto quando ouvia aquela música dos Joy Division. Anos passaram-se, anos sem ouvir a tal música, mudou de casa, de continente e raramente a ouviu. Eram outros tempos, outras tendências, outras músicas. E um século findou e um novo milénio começou, tempos áureos cheios de perspectivas de mudança! O passado parece longínquo. Vinte e cinco anos são quase meia vida. Um dia, conheceu alguém. E aquela música volta a tocar aos seus ouvidos, assim espontaneamente, sem ela a procurar ou pedir para a ouvir, e o que sentiu volta a sentir, outrora de forma inconsciente, agora já sabe porquê e por quem chora”. Há realmente factos inexplicáveis e extraordinários resultantes das relações do ser com o tempo. O exemplo da história de Elvira é um claro indicador de que o tempo não existe, é uma convenção inventada pelo Homem para dar a sensação de segurança, a construção de muros e barreiras, para não andar perdido no vácuo da infinitude. Afinal, esqueceu-se que é eterno… …mas o tempo não é o tempo que perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, não, o tempo é ser-se. Ser-se de todo, para traz e para a frente e entre, entre outrora, agora e depois. Ser-se na viagem sem fronteiras temporais.

3 comentários:

Anónimo disse...

o tempo respondeu ao tempo:
que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo, o tempo tem.

Romeiro disse...

então isso quer dizer que o tempo não é tempo porque o seu tempo não é conhecido. ou por outro lado, se realmente é o tal tempo que o tempo tem então exite tempo, que não é o tempo que pensamos ser mas o tempo que realmente o tempo tem.

Anónimo disse...

;-)