O tempo passa, a vida passa, os dias vão passando
Os anos contam, o corpo muda, o corpo pesa
O desassossego da adolescência já se foi
A energia dos vintes declina e a ansiedade é menos
assustadora
A determinação e o ímpeto construtor dos trintas já não fazem
sentido
Doces quarentas…
Embora o corpo pese, tenha que dormir mais,
É tudo mais leve, é tudo mais lento
Parece que o tempo é mais lento,
E depois, quando me dou conta, tudo se passou tão
rapidamente à minha volta
Sinto uma espécie de vazio, um andar à deriva
Sei para onde vou, mas parece que me vou deixando ir,
É como se conhecesse as correntes e fosse levado pela
inércia
Sem esforço para continuar a navegar
Os meus pensamentos ainda fazem barulho, já nem lhes ligo
tanto, às vezes não lhes presto qualquer atenção, esqueço-me do que andaram para
ali a falar e inventar.
Ando a prestar atenção ao meu inconsciente calado, mas
movediço e presente.
Ando a perder-me dos pensamentos
E a “sentir” a intuição
Ás vezes estranho.
Pouco mando cá para fora, parece que faço pouco, por dentro
e por fora, embora tenha uma vida produtiva e próspera.
Claro que se investisse o ímpeto construtor dos trinta, trabalharia
mais horas e ganharia mais dinheiro.
Não foi planeado, mas estou a ver e a fazer as coisas de uma
forma diferente, nestes tempos do meu tempo que se funde com o tempo da sociedade
e o tempo eterno.
Ai este hábito humano de tentar catalogar as coisas da vida,
que fase será esta? Essa coisa das coisas de cada idade, tal
institucionalização das nossas vivências através dos tempos.
Chega de síndromes, por favor!
Enfim, só deixar para ficar registado.
Afinal sou eu, o Romeiro que viaja na companhia de um diário
onde grava momentos da viagem, como de fotografias se tratassem.