"Quem é quem, na Arte portuguesa e que faz o Estado por
esses artistas?"
"Escrevo este texto não como "crítico",
musicólogo (tenho um mestrado em etnomusicologia, mas não sou etnomusicólogo)
ou como "jornalista" (que não sou nem nunca fui), mas sim como um
músico que esteve no epicentro de uma actividade musical e artística intensa,
quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Assim, escrevo na "primeira pessoa" e, dando
apenas a minha descrição de factos, conforme eu os vi e vivi. Tentarei evitar,
sempre que possível (mas será quase impossível), juízos de valor sobre obras e
artistas e tentarei reportar-me a factos por mim vividos e presenciados.
Não obedecerei a qualquer ordem cronológica dos
acontecimentos, não sei se me ficarei pelo rock produzido em Portugal ou se
irei abordar outras tipologias musicais e não sei ainda, no momento em que
escrevo estás palavras, se irei limitar-me a falar de música ou se irei alargar
o "leque" a outras artes realizadas nesta país.
Comecei a tocar guitarra aos nove anos e a minha primeira
guitarra era acústica de cordas de nylon de um fabricante português. Aos 10
anos tive a minha primeira guitarra eléctrica e aos 11 anos tive o meu primeiro
sintetizador.
Desde os 10 anos que comecei a fazer parte de bandas rock. O
meu primeiro grupo foi os "Snif", que depois chegariam, nos anos
1980, a editarem um single, sob o nome de "Tilt". Depois vieram uma
série de grupos formados por mim, que já reflectiam, não só um certo
experimentalismo, como estavam sempre carregados de humor. Grupos com nomes
como "Trompas The Falópio", que era constituído por um vocalista que
tocava aspirador, um baterista que tocava com colheres de pau numa sanita e
penicos e eu na guitarra eléctrica e sintetizador. Depois tive um grupo com o
nome de "Os Colhões", que nem um concerto deram, pois fomos
interrompidos pela minha mãe, que ao ouvir dizer "Colhões", fez
terminar logo ali o concerto. Formei depois um grupo de "rock
progressivo" com o título de "Transladação dos Ossos Sagrados de São
Francisco de Xavier", que não teve grande saída nas rádios, creio eu, por
causa do nome... E finalmente, juntei-me a um grupo chamado "Esboço"
e que realmente, veio a ser o esboço de outro grupo a que me juntei, chamados
de "King Fischer's Band".
Com esse grupo, actuei durante cerca de quatro anos, todos
os dias, ao vivo! Todos! Natal, Páscoa, Ano Novo, aniversários, tocava sempre.
Tínhamos contratos de um mês e terminado esse prazo, já tínhamos contrato
noutro clube ou bar. Gravamos na altura "Tele-Discos", mas nunca
chegamos a gravar um disco.
Foi nesta altura, que surge um dia na Taverna do Infante o Rui
Veloso, que ia assistir aos nossos concertos e também do Very Nice e no final,
pediu para falar connosco. De referir, que eu era o mais novo da banda e não
tinha na altura, a importância dos líderes da banda, os irmãos Mesquita (Jorge
e Orlando). Nessa reunião o Rui Veloso explica que foi convidado a gravar um LP
e que gostava de nos ter como banda dele para a gravação do seu disco e para
isso, puxou de uma guitarra acústica e tocou para nós o Chico Fininho.
Depois de alguma conversa, o Jorge e o Orlando, explicam ao
Rui que não podem aceitar, porque não cantavam em português, perdendo assim,
naquele instante e com aquela decisão, a oportunidade de terem deixado os seus
nomes, naquela que viria a ser, uma obra primordial, para o rock e para a
indústria e mercado do rock produzido em Portugal. Curiosamente, poucos anos
depois, a banda começaria a cantar em português sob o nome de "Banda do
Rei Pescador".
Também nessa altura, começa a ir assistir aos nossos
concertos o Alexandre Soares, na altura guitarrista num grupo chamado
"Pesquisa" e que viriam a ser mais tarde chamados de
"Táxi". No final de uma nossa actuação, o Alexandre veio falar comigo
e houve logo uma grande empatia e convidei-o a ir à minha garagem, para
ensaiarmos. Nesse encontro, toquei para ele duas músicas em inglês, mas que
viriam a ser conhecidas pelo público em português e sob o nome de
"Portugal na CEE" e "Vem ser um gordo da GNR".
Durante esse período, na minha garagem no Porto, ensaiavam o
Rui Veloso, Ramón Galarza e Zé Nabo, da parte da manhã, ensaiando o LP "Ar
de Rock", da parte da tarde ensaiava com os King Fischer's Band e à noite
com os GNR.
Simultaneamente, tinha um trio com o Alexandre Soares e o
baterista dos Táxi, o Rodrigo, chamado "Os Pastorinhos de Fátima",
que chegou aos jornais pela pena do então na altura produtor, Ricardo Camacho.
Nunca chegamos a dar concertos, pois a única coisa que me recordo, é de
adormecer num ensaio, de pé, encostado à porta da minha garagem, tal era a
"pedra". Aliás a razão do nosso nome era precisamente por estamos
sempre na "Paz do Senhor".
O primeiro concerto que os GNR dão é na Igreja do
Carvalhido, sendo que iríamos fazer a primeira parte do grupo Pesquisa (ao qual
o Alexandre tinha pertencido) e antes de nós tocaram os Tilt (a quem eu tinha pertencido
sob o nome de Snif).
Já anteriormente, com os Trompas The Falópio, tínhamos dado
um concerto no Pavilhão dos Carvalhos, fazendo a primeira parte dos grupos King
Fischer's Band e Pesquisa, sendo que no final do concerto, os então Pesquisa,
ficaram muito bem impressionados com a nossa música (que era de minha autoria),
nem que não seja pelo facto de sermos os únicos que só tocamos música original,
pois todos os outros tocavam músicas de outros grupos estrangeiros, aquilo que
hoje se intitula de "covers".
Além dos grupos e músicos já citados, pela minha garagem
passaram músicos como o Aníbal Miranda, que também lá ensaiou, os Marca
Amarela, os Roxigénio nasceram lá, elementos do Jáfumega, do Arte &
Ofício e tantos outros músicos como o Carlos Araújo ou Pedro Fesch.
Quando o Rui Veloso edita o seu disco, dá-se aquilo a que se
resolveu intitular do "Boom" do rock em Portugal. Esse disco é de uma
importância enorme para a música portuguesa e, não menos importante, para toda
a indústria que este disco iria pôr em acção: editoras, estúdios de gravação,
promotores de concertos, empresas de som, roadies, etc..
Se até aí, gravar um disco, era quase uma impossibilidade em
Portugal, a partir dessa altura acontece o contrário: quase tudo que faz
música, começa a gravar, trazendo muitas coisas positivas, mas também outras
negativas e entre essas encontrávamos a fraca qualidade musical de 90% desses
grupos.
Mas deixem-me recuar um pouco atrás, para explicar-vos o
seguinte: já havia "rock" nos anos 1960 em Portugal, só que reparem,
como podiam esses grupos conseguirem alguma proeza de registo, se para se
comprar uma guitarra eléctrica se tinha de comprar no estrangeiro? E onde
tocavam essas bandas se não haviam locais para essa nova "música"?
Nos anos 1970 surgem as primeiras casa de instrumentos musicais, a venderem
guitarras eléctricas, órgãos e, raramente e mais tarde, sintetizadores. Mas
quando falo em casa de instrumentos musicais, refiro-me por exemplo, à Ruvina e
à Castanheira no Porto e só mais tarde nos anos 1980 a Caius. Relembro isto,
como explicação para o facto de o rock em Portugal, ter sido sempre de tão
fraca qualidade. A culpa não era só dos músicos mas sim, dos 50 anos de
fascismo que tinham atrasado o país em décadas em relação aos outros países da
Europa.
Já nos anos 1980, começa a surgir toda uma indústria ligada
ao rock, como já referi anteriormente e, repito, tudo tendo início no LP do Rui
Veloso. É que imaginemos que o primeiro disco a ser editado nessa altura não
seria o do Rui mas sim, por exemplo, dos Roxigénio. Tudo poderia ter sido
diferente! Eu, por exemplo, que os vi nascer na minha garagem, não me consigo
recordar de um tema deles! Um! No entanto recordo-me de bastantes do Rui.
Porquê? Porque o Rui e o Carlos Tê, conseguiram criar temas que, como se
costuma dizer popularmente "entram no ouvido", ou seja, o Rui tem o
dom natural de fazer "hits". Tal como foram depois hits o Portugal na
Cee ou o Chiclete ou a Rua do Carmo ou o Amor. Daí eu reforçar a ideia, da
importância para todo um mercado e indústria do rock, que teve o LP do Rui,
nessa época e que se repercutiu até aos dias de hoje.
Mas não se fique com a ideia, de que só se começou a ganhar
dinheiro com a música rock, a partir dessa altura. Eu, por exemplo, entre os
anos de 1975 e 1979, ganhava entre 30 a 60 contos mensais, a tocar com os King
Fischer's Band. Só para terem uma ideia, um carteiro nessa altura, ganhava 17
contos mensais...
Com os GNR nos anos 1980, já não era a questão de ganhar 60
contos mensais, mas sim, ganhar 60 contos por concerto! Muitos sacos de erva
comprei eu ao Quim Preto no bairro de Francos...
Quando se edita o LP dos GNR "Independança",
muda-se momentaneamente, a ideia de um rock para as "massas", para um
tipo de rock-art, inexistente até há altura e surge, por exemplo, o tema
"Avarias", que ocupava todo o lado B desse disco: 27 minutos de uma
improvisação rock feita em tempo real e com a poesia concreta do Reininho.
O Reininho vinha do Anarband do Jorge Lima Barreto e a sua
postura (performance) e letras (poesia), eram invulgares em Portugal. As letras
das canções até aí realizadas no rock feito em Portugal, eram do tipo "Rua
do Carmo", "Chico Fininho", "Chiclete" ou
"Amor" e o Reininho surge com letras refrões como "Horrorosa
Natureza pseudo-mãe transformada em Pátria e guerra" ou "Ela é Blitz
Tampax, as formas de um Sax, C'est la coqueluche", aos quais não se estava
habituado e daí, o primeiro LP dos GNR ter passado quase despercebido.
Conheço entretanto o Jorge Lima Barreto, que me dá a
conhecer todo um novo Mundo musical e formo com ele os Telectu e, durante um
período de tempo, faço parte destes dois projectos, até extinguir (por razões
musicais), os GNR, que, sob o apoio da Valentim de Carvalho, não aceita que os
outros membros continuem com outro nome e começa uma batalha em tribunal que
duraria anos.
Com os Telectu, aconteceram duas coisas: uma, foi o meu
afastamento gradual do mundo do rock e a outra foi o entrar num novo mundo de
Arte e de artistas de várias áreas artísticas, como a poesia (conheci e fiz
vídeos com o Eugênio de Andrade ou o Ernesto M de Melo e Castro), pintores
(Luís Camacho e António Palolo), cineastas (Rui Simões), videastas (Edgar
Pêra), actores e encenadores (Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra, Ricardo
Pais ou Jorge de Silva Melo), bailarinos e coreógrafos como o João Fiadeiro,
Clara Andermatt, Vera Mantero, João Galante, Teresa Prima, Ana Borralho, Aldara
Bizarro, Carlota Lagido), que além de colaborar com eles em diversas
circunstâncias, muito aprendi também com todos eles e fizeram-me ver a Arte
Total.
Nesses meados dos anos 1980, o meu cachet com os Telectu era
de duzentos contos por concerto e dávamos mais de um concerto por mês. Mas tudo
era também caro no que a instrumentos musicais dizia respeito: um sintetizador
Roland Júpiter 8 custava 700 contos... A minha guitarra GR-300 da Roland,
custou-me 400 contos na altura e a GR-707, já custou quase 600 contos...
Assim, a minha geração, viveu ainda as dificuldades de
coisas hoje muito simples, como comprar um instrumento musical, gravar um disco
ou dar um concerto, tudo coisas que hoje se faz em casa com um computador:
grava-se o disco num software do computador e com uma câmera ligada a este,
pode-se dar um concerto online e em streaming, para todo o Mundo.
De 1985 a 1995, a indústria da música cresce abissalmente,
não significando isso, que a qualidade tenha aumentado, pelo contrário,
diminuiu, tornando-se "prisioneira" dos mercados e do comércio, mas,
também foi a altura, em que mais se ganhava financeiramente com esta tipologia
musical.
Isso reflectia-se, em alguns casos, no estilo de vida desses
músicos, que começavam a comprar automóveis de luxo, jeeps, montes no Alentejo,
casas com piscina e até, aviões a jacto particulares (o caso de um conhecido
promotor de espectáculos).
Já em Lisboa, conheço o António Pinho Vargas, de quem fico
amigo e que mais tarde iria viver para a minha casa na Rua do Arco e que mais
tarde usou como estúdio para a sua criação musical e com quem aprendi muito.
Curiosamente, o Pinho Vargas, tinha colaborado em concertos
do Rui Veloso e dos Arte & Ofício, mas rapidamente, construiu em
Lisboa, uma carreira a solo como jazzman e como compositor. Não que antes não
tivesse nada! Pelo contrário, tinha já pertencido a vários grupos, inclusive
com o Lima Barreto e era já um nome de prestígio do jazz nacional. Mais tarde o
Pinho Vargas, larga um pouco a sua carreira de jazzman, pela de compositor de
música erudita e também como escritor e pedagogo.
Logo no início dos anos 1980, conheço também, uma das
maiores, senão a maior figura da música improvisada portuguesa e mundial, o
Carlos Zingaro, com quem venho a colaborar e a aprender e com quem os Telectu
ao longo do tempo, foram mantendo contacto.
Entretanto, o Nuno Rebelo, que eu tinha conhecido dos Street
Kids e que na saída do Miguel Megre dos GNR, o foi substituir, fazendo parte
dos GNR durante algum tempo, forma primeiramente os Mler Ife Dada, para depois,
tal como eu, abandonar o rock e dedicar-se à improvisação e composição de
música funcional.
Tanto os Telectu, como o Zingaro, o Vargas ou o Rebelo,
tínhamos além de Portugal, reconhecimento, concertos e outras actividades, no
estrangeiro, sendo que o Zíngaro seria o que teria mais, depois os Telectu e
depois o Vargas ou Rebelo.
Levamos o nome de Portugal à URSS, aos EUA, à China, ao
Japão, a Cuba, Egipto ou toda a Europa, nos melhores Festivais e com os maiores
músicos das tipologias musicais que representávamos.
Nessa altura, começam a surgir os dinheiros da comunidade
europeia e começam a ser dados subsídios para a Arte, mas especialmente à
Dança, que ao contrário da comunidade musical, se juntou, formando Fóruns e
Centros de criação e programação e os artistas começam a formar associações,
para divulgarem e promoverem o seu trabalho.
Músicos como os Telectu, Vargas, Zíngaro ou Rebelo, nunca
receberam qualquer ajuda do Estado nessa altura e, ainda continua a ser assim
agora para muitos de nós, pese em conta, o serviço que nós prestávamos ao país.
Mal se passou para o euro, começou-se a notar gradualmente,
uma descida nos cachets praticados, mas noutros casos, como na Dança e no
Teatro, ainda se continuava a ganhar muito bem. Eu, entre 2000 e 2006, ganhava
por espectáculo, quantias entre os 10 mil e 15 mil euros, para fazer música
para uma peça de teatro, em que tinha de ir só a dois ou três ensaios...
Hoje, pelo mesmo trabalho e nos mesmos Teatros, recebo 10
vezes menos...
Estabeleci como preço mínimo para concerto (ainda nos
Telectu), 500 euros e, porque outros músicos começavam a tocar por preços
baixíssimos ou até inexistentes, os concertos começaram a rarear. Actualmente,
se tiver mais de 6 concertos com esse cachet, num ano, já é muito bom...
Dessa forma, com a quase total ausência de concertos, pelo
menos do nosso tipo de música, comecei eu e outros músicos, a recorrer à música
"funcional", realizando obras para vídeo, cinema, teatro ou dança e
era aí que conseguíamos sobreviver. Outros dedicaram-se também ao ensino...
E de repente, aqui estamos nós, os músicos que tanto
elevaram o nome de Portugal em tantos eventos no estrangeiro, a não sabermos
como vai ser o dia seguinte, sem qualquer tipo de apoios do Estado, que pelo
contrário, exclui-nos da sociedade, criando centros "culturais" por
todo o país, mas que depois estão desertos a nível de público e, centros esses,
que há anos levam sempre as mesmas coisas de música ou teatro ou dança, mas
nunca os nomes em cima mencionados.
Sempre ouvi dizer e nunca concordei até aos dias de hoje,
que é mais grave um rico virar pobre, do que um pobre continuar pobre... Mas
esta frase aplicada aos dias de hoje e aos nossos artistas, parece servir que
nem uma luva! Deram-nos o que merecíamos na altura ou pelo menos nós
conquistávamos isso e agora, deixam os artistas ao Deus Dará e que se
"arranjem" que o problema não é deles... E o pior, é que o Zé
Povinho, engole o que vai ouvindo e depois acha muito bem, que o Estado nada
nos dê a esses "chulos" que "nada fazem"... Políticos como
o outrora MRPP e actualmente PSD, Pacheco Pereira, chama-nos até de "subsídio-dependentes"!!!...
Quando nunca recebi um subsídio na vida...
Hoje abri o Público e li que o Tordo "ameaça"
emigrar... E depois li os comentários do povinho e eram: "vai para a
Coreia do Norte" ou "ainda estás cá?"...
Quem tem razão?... O Tordo em dizer que vai emigrar ou o
povinho a mandá-lo pró caralho?... Se calhar, nenhum! Porque o Tordo, tendo
supostamente consciência política deveria ter continuado a sua luta através da
sua música (música de intervenção)... Mas qual música de intervenção fazia o
Tordo actualmente?... Não se terá acomodado, como se acomodaram quase todos os
chamados "músicos de intervenção" portugueses?... Eu não vejo o
Sérgio Godinho a cantar "A paz, o pão, habitação", mas vejo-o como
júri num qualquer programa abjecto da TV. Eu não vejo o Vitorino a lutar pelos
trabalhadores, mas sim a cantar com o Tony de Matos no Coliseu ou a cantar o
"Menina estás à janela". Até o Fausto, canta agora músicas
abrasileiradas... O Palma passa nas telenovelas "encostando-se" a
eles. Que razão têm esses, realmente, para virem dizer que isto está mal e que
querem emigrar?
E também não tem razão o povinho em os mandar foder, porque
no fundo, foram eles que os sustentaram e, nalguns casos, estes, os cantores de
intervenção, tiveram muita importância na mudança de paradigma em Portugal,
antes do 25 de Abril.
Pergunto-vos: sabem quem é o Rui Chafes?... A maior parte
que me está a ler, deve desconhecer totalmente este nome... Mas se eu disser
"Joana Vasconcelos", já sabem quem é, no entanto a última é uma
artista do regime sem qualquer valor artístico na História da Arte em Portugal
e o primeiro é reconhecido pelos pares e não só, como um dos mais importantes
escultores da actualidade e é português.
E de quem é a culpa de tudo isto?
É do Povo português que andou a gastar o que não devia?...
Dos artistas que são uns chulos e não "trabalham"!!!
Não parece ser do Estado, cheio de corruptos e bandidos, e
dos políticos e suas leis que só a eles os protegem!!!
Então... É do povo!!!
É do povo e, por conseguinte, dos artistas também, que estão
a pagar a çrise e não os cabrões dos bancos que nos andaram a "dar"
créditos a torto e direito, para que nos endividássemos, para agora nos dizerem
que fomos "gastadores"...
E o povinho vai na conversa... E baixa a bolinha como
cordeirinhos bem amestrados...
A mim e a outros músicos como eu, esta crise, não me afecta,
da mesma forma que afecta, por exemplo, um Paulo Gonzo ou um Olavo Bilac, que
tão rapidamente subiram, como desceram, tendo até um deles pedido
insolvência...
Só que há que distinguir claramente uma coisa: uma coisa são
artistas como eu, Zingaro, Vargas, Chafes, Rui Simões, Edgar Pêra, Miguel
Azguime ou José Nascimento que fazem Arte pela Arte e outra coisa são artistas
que "usam" supostamente algo próximo daquilo que intitulamos de
"arte", mas que, per se, ganham muito dinheiro com a sua "arte
comercial"!
Mas reparem o paradoxo: é a esses que não precisam de
dinheiro do Estado, porque a sua actividade é comercial, que o Estado subsidia
(o caso "gritante" da Joana Vasconcelos) e aos que precisam, eles
cortam...
Resumindo: se o Vargas escreve que se o Estado quiser ele
"suicida-se" quando fizer 63 anos, para que o Estado não lhe tenha de
pagar o que é dele por direito, se o Tordo diz que vai emigrar, eu digo que
daqui não saio e mando-os a todos irem pró caralho, pois não posso ter respeito
e consideração por assassinos que andam a matar velhos, pobres e reformados e
que tentam exterminar com a felicidade, cultura e Arte em Portugal."
Vítor Rua, 2014 - retirado do Facebook