31 outubro 2022

Librianos ...

 

Os humanos assustam-me.

Mas também me divertem,

Com os seus paradoxos, fatalismos, dogmas e ilusões.

E eu , em cima do muro, entre a miséria e a glória humana

Vou observando e sentindo

Entre o desgosto e a esperança

Nesta solitude de querer trazer mais seres para junto de mim no paraíso.

Entre seguir só, feliz e em paz, numa vida tranquila que já alcancei,

Ou fazer qualquer coisa pelo mundo, que certamente envolve tormentos e sustos.

E depois de algumas reflexões, nem sei ao certo, sento-me no muro a rir

Ali, parada a rir,

Outras vezes a chorar

E a não fazer nada.


08 agosto 2021

"Let's stay together"

Clubes, patriotismos, poderes, bairrismos, santos, religiões, partidos, famosos

Qualquer tipo de ídolo,

Talvez tenha levado a sério os 10 Mandamentos de Moisés

quando os li em criança

Ou porque tenho alma de anarquista e gosto é de ser livre.

Seja qual for a razão

Sempre pensei que não tinha ídolos

E agora estou aqui a refletir, 

pois há um ser neste planeta Terra

que admiro de tal forma que até parece ser um ídolo,

uma mulher maravilhosa, admirável, talentosa e humilde

a mulher mais interessante que conheço,

não a conheço pessoalmente, 

nem tive a loucura suficiente para a ir ver e ouvir num dos seus últimos concertos, 

embora o destino me levasse a Londres no dia desse concerto,

Que sacrilégio!

Não a conheço, mas sinto que estou em sintonia com a sua energia

E fico aqui a pensar se afinal tenho um ídolo

E se tenho, olha, que assim seja

pois se ela for um ídolo

a Tina é certamente um dos bons.

23 junho 2021

35 anos depois

Linda flor num vaso

No parapeito da janela

As pessoas passam por acaso

Sem perceberem a presença dela


E assim, o tempo passou

E a rotina das pessoas continuava,

De sede a linda flor murchou

Porque ninguém a regava


Os fortes raios de sol a torravam

As pessoas agora faziam caso

Com desdem a olhavam

"- Que feia flor naquele vaso."


Junho 1986


35 anos depois e nada mudou...

09 junho 2021

"Dou-te um pontapé no cu, que morres de fome no ar"

Meu amigo, meu irmão, meu amor

44 anos do sol juntos

As torradas de trigo transgénico com manteiga e a ciência eram as tuas aliadas

Afinal  vamos todos morrer um dia

E o que importa é viver no agora

Mas eras tão novo, tão perto de mim, tão sorridente

Meu amigo, meu irmão, meu amor

Cabrão que não me ouviste

Que não ouviste o teu corpo

Meu querido, meu amor

Tomar banho no rio Alva

Tão gelado como a morte

Nós nus, como a vida.

A minha primeira viagem na moto bmw de Coimbra Porto

O festival de 1982.

A saudade dos 10 anos separados por um oceano

E reencontro e os nossos filhos

A tua afilhada sem padrinho

Oh Mike, meu amigo, meu irmão, meu amor

Nus deitados numa cama de hotel 

De destinos cruzados

Sem carne, só amor fraternal

Meu irmão mais velho, meu amigo, meu amor

Carago, puta da minha vida

Apressaste-te

03 junho 2021

“Don’t cry”

As pessoas dizem que não gostam de sofrer, mas estão sempre em sofrimento.

Um mundo de sofrimento auto-infligido pelos dogmas, pela violência, pelo medo, pela soberba, pela doença, pela ignorância.

Fiquei sem voz, sem palavras, só emoções que me rompem os tímpanos e as entranhas de sensações estranhas por estar a existir nesta dimensão tão densa de dor, confusão e turpor.

E despertar doi, a luz ofusca, e há este resistir em não ser especial , porque a responsabilidade é maior, e há esta tentação em seguir o caminho mais fácil, o das ruas da amargura, do fatalismo, da crença cega em algo que não vale nada.

Abruptamente invadem-me rios lamacentos de incertezas, de perdição humana, tão perdida como uma criança numa floresta à noite a ouvir o silêncio dos pirilampos.

Depois vem a música, aquele veículo de comunicação que às vezes toca os pés da eternidade , essa essência perdida no espaço que é tão eterna quanto misteriosa e que nos esmaga de tanta grandeza que até parece bom demais para acreditar que é verdade.

E nessa descrença no milagre do sagrado, que foi profanado e conspurcado pelos medos e ímpetos violentos vividos através dos tempos humanos, cá estamos em queda, como a Alice, que disse ter visto um coelho atrasado que nem sabe porque está atrasado, mas o facto de estar atrasado dá-lhe um propósito de vida, ir sem saber porque se vai, ou melhor, vai-se por medo, porque existe uma rainha que corta cabeças. E esta mistura de queda com a ilusão de ter que ir, é como a coca-cola com whisky que rebenta com o fígado e o cérebro. 

Fuga, sai de retro, vou para a frente, vou para trás e rodo e volto a avançar, e doem-me os joelhos porque não me consigo dobrar.

Roçar na morte da carne, tão tentador, roçar no renascimento em outra vida sem corpo, somente yin e yang disperso na não matéria. 

E depois vejo o rosto dos meus filhos, tão lindos, e vêm os apegos terrenos, o toque, os abraços, os beijos, os cheiros, a comida, a música, ah a música.

E o resultado da esplanação dá para ver que faço parte do clã de ser gente, a gente que sofre, mas a diferença, é que sabendo eu que o sofrimento é uma ilusão,  doi tanto que até dá mais vontade de viver, seja no planeta Terra, seja onde for. 







19 abril 2021

In vino veritas

Estive a trabalhar o fim-de-semana inteiro

e hoje almocei na varanda ao sol e o rosé subiu depressa

pudera, uma garrafa foi-se assim como quem não quer a coisa


e estive a refletir com as ondas de álcool e do sol à mistura
sobre a vacina , depois de ter visto, sem álcool, 
um vídeo que explicava o impacto da mesma

ou seja, nenhum, para aquilo que deveria servir

ou melhor, o único impacto será na conta bancária de quem a produziu ´

o fakebook, com seus soldadinhos da pide cibernética ou algorométrica 
bloquearam o meu vídeo

claro, têm que proteger as almas de quem não sabe pensar por si
e os interesses dos que pregam que estão a proteger os coitados que não sabem pensar, nem tomar conta de si

e, depois disso, após ir passear a minha cadela,  vejo Deus em cada esquina, flores, nuvens, harmonia, 
que só posso fazer mais uma oração a pedir protecção e compaixão por todos aqueles que se acham donos da verdade

a verdade velada aos  ignorantes, dos quais faço parte.

Mas mesmo não conhecendo a verdade, o meu coração sem mente
dá sinal
principalmente quando a mente que mente está toldada pelo álcool 
iludida, embriagada, salta-lhe a verdade escondida

tão louca, como uma mulher condenada à  bruxaria que foge ao fogo da inquisição

18 dezembro 2020

Dos tempos do encontro entre os gigantes

 A Vida é complexa e simples, criativa, abundante e livre. 

Os animais não têm leis nem governos, há uma espécie de organização natural em que todos sabem fazer o que é certo para não destruir a sua fonte de recursos, 

os ventos não têm ministérios de ensino, porque viajam dando liberdade à sua curiosidade, 

os rios não casam, unem-se e vão juntos em direcção ao mar, 

os mares não têm hospitais pois o sal previne as doenças, 

as árvores não precisam de bancos, contratos e espaços comerciais, porque toda a riqueza que produzem é distribuída por todos que precisam dos seus frutos, abrigo e sombra, 

as nuvens não são exércitos armados, apenas carregam nutrientes e água para nutrir todos os que vivem na terra , 

os lagos não dão as notícias, apenas refletem 

e o sol não tem uma empresa para gerir o sistema solar, pois a sua liderança inspira os planetas a seguirem-no numa dança perfeita através do espaço. 

A vida Humana é complicada, melodramática, violenta, obcecada pela verdade e cheia de prisões legais e mentais.

Que estranhos somos...

Ou estúpidos mesmo? 

16 agosto 2020

Queria ser um cão

Certo amigo disse-me: “Epá, queria ser um cão”

Isto porque me contava que o seu cão teve um problema e levou-o a uma clínica tão impressinante, que em 70 anos de vida nunca tinha visto um hospital para pessoas com aquelas soberbas condições físicas e humanas.

Fiquei a refletir por uns dias sobre o assunto.

E vagueei sobre a vida daquelas pessoas que perderam a fé nos outros (embora quem perde a fé nos outros, perde também a fé em si) e dedica-se aos animais, sendo o mais adorado os da espécie canina, sempre disponível para todos os caprichos humanos, activos, engraçados e tão dependentes que até dá gosto ter a tal âncora que seus donos tanto precisam. 

Também já tive muitos cães, e adoro cães, mas acho estranha esta forma moderna de se relacionar com eles, mais parece uma dependência que uma relação de partilha de amor livre.

Depois, os meus pensamentos voaram, incrível o que os pensamentos podem fazer,  e sobrevoaram sobre a indústria à volta dos animais de estimação das pessoas que vivem nas cidades, desde spas e hotéis até comidas especiais e roupinhas. 

E depois comecei a tripar quando me lembrei que estas mesmas caridosas pessoas, que dizem amar os animais, comem carne de animais que levaram uma vida de dor, exploração, solidão e medo. Sem falar dos antibióticos, hormonas de crescimento e mais uns pozinhos de perlimpimpim produzidos nos laboratórios da senhora poderosa indústria farmaceutica, para que a meta do lucro seja alcançada, e que é ingerida por aqueles que mastigam as suas carnes doentes.  

E já ia eu lançada na montanha russa de emoções que os animais humanos me provocam, um mix de desprezo e compaixão, incredulidade e susto, desgosto e desapontamento e assim por diante, que tive que correr para aqui e vomitar toda a minha má disposição que estes meus pensamentos me provocaram.

Até eu queria ser um cão, não para receber atenção, mas para me livrar do pensar.